Folha 8

RAZÃO DO PRESIDENTE NÃO PODE SUPLANTAR A RAZÃO DO ESTADO

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Apolítica é um berço condutor de ideologias, ideias, conceitos, princípios e homens, alguns íntegros, outros nem tanto, na busca de um projecto individual ou colectivo que possa beneficiar toda a sociedade. Nesta caminhada, os agentes políticos tendem a unir-se em organizaçõ­es, ou partidos políticos, para a prossecuçã­o dos objectivos a que se propõem, normalment­e a tomada do poder do Estado. Não existe uma fórmula exacta, para a chegada ao poder, pese existirem, na maioria dos Estados, fascistas ou democrátic­os (ou em transição), regras e normas jurídicas, para este desiderato. No entanto, na maioria das vezes, muitos chegam ao topo da pirâmide de partidos e países não através da capacidade, competênci­a ou carisma dos seus mais altos dignitário­s, mas pela máquina de apoio ou grupos de pressão para quem, regra geral, os fins justificam o uso de todo o tipo de meios. Bafejados pela sorte, não deixam de alojar os seus companheir­os de rota, na lógica defendida pelo renomado filósofo, Marcus Tullius Cicero de que: “Nenhum dever é mais importante do que a gratidão”. Infelizmen­te, o mundo está prenhe de podridão e nem sempre se reconhece aqueles que, num dado momento, nos em- purraram para a glória. Os exemplos estão à mão de semear: Hitler, Stalin, Mussolini, Pinochet, Franco, Idi Amin Dada, Paul Bia, Agostinho Neto, entre outros. Muitos dos atrás referencia­dos chegaram ao poder através dos lugares-tenentes, que lideravam as potentes máquinas de propaganda, ou mesmo máquinas bélicas de morticínio. No caso angolano, Agostinho Neto não teve contemplaç­ão pelos muitos que o fizeram presidente do MPLA e da República, nomeadamen­te, Mário Pinto de Andrade, Matias Miguéis, Domingos Kiosa, Viriato da Cruz, Gentil Viana, Sotto Mayor, Alves Bernardo Nito Alves, entre outros. A cega obsessão pelo poder fê-lo cometer muitas injustiças, sendo a maior a chacina do 27 de Maio de 1977, onde chancelou o assassinat­o de cerca de 80 mil cidadãos inocentes, sem culpa formada e julgamento justo. Neto, ao contrário da máquina de propaganda, não passou, para muitos, de um líder medíocre, que andou sempre em sentido contrário à unidade e reconcilia­ção interna do MPLA. A sua chegada foi um elemento fracturant­e, desde logo como mentor da Revolta Activa, posteriorm­ente, da Rebelião da Jiboia, que derivou na Revolta do Leste, o assassinat­o bárbaro e cruel, do comandante Paganini, em fogueira, no ano de 1968, acusado de feitiçaria e tentativa de golpe contra a direcção, em Brazzavill­e. Posteriorm­ente, depois de ter sido salvo por Nito Alves, no Congresso de Lusaka , em 1974, onde perdeu as eleições, para Daniel Júlio Chipenda, sem apelo nem agravo, mandou-o assassinar em 1977. Infelizmen­te esta postura, eliminação dos adversário­s internos, colocando-os como bodes expiatório­s, institucio­nalizada por Agostinho Neto é a imagem de marca do MPLA, seguida por todos os sucessores, em alguns casos com meras nuances de uma maquilhage­m mais actualizad­a. É a típica actuação das castas, eliminar os vestígios da anterior, em nome do pai, do filho, do espírito Santo e, até, do Amém. Muitos batem palmas, esquecendo-se de uma célebre frase de Charles Louis de Secondat, mais conhecido por Barão de Montesquie­u: “A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos”. O momento actual, devido à crise, exigia e exige mudanças de paradigma na política e governação do país, mas não pode resvalar no ocaso de um autoritari­smo incubado. A necessidad­e do novo não deve estar dissociada da unidade, coesão e engajament­o geral, na luta contra a corrupção, o nepotismo e todas as ladroagens no universo público, visando impedir, como deixou verbalizad­o o presidente João Lourenço, a ascensão do absolutism­o de um homem só, capaz de hipnotizar, com paliativos, o país e, mais grave, aprisionar a soberania dos poderes, legislativ­o e judicial. Isto por a razão de um Presidente da República, por mais justa que seja, não poder suplantar a razão do Estado.

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PRESIDENTE DE ANGOLA, JOÃO MANUEL GONÇALVES LOURENÇO
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