Folha 8

BATATAS… PODRES

-

Recorde-se que o próprio comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, admitiu no dia 26 de Outubro que vários agentes policiais praticam “burlas, falsificaç­ões e extorsões a cidadãos”, prometendo combater as “batatas podres” no seio da corporação. Ainda bem que, ao que parece, os chefes não armazenam “batatas podres”. E de onde parte o exemplo? Recorde-se que Paulo Gaspar de Almeida é arguido num processo que está a ser apreciado pelo Tribunal Supremo. O comissário-chefe Paulo Gaspar de Almeida, foi constituíd­o arguido (processo n.º 16/17-DNIAP) por esbulho violento de uma quinta de 12 hectares, em posse do camponês Armando Manuel, de 71 anos, há quase 40 anos. A disputa com o então segundo comandante-geral da Polícia Nacional remonta a 12 de Dezembro de 2016. Um despacho do procurador-geral adjunto da República, Domingos Baxe, de Fevereiro deste ano, atesta que “existem nos autos indícios mais que suficiente­s que o participad­o Comissário-Chefe Paulo Gaspar de Almeida cometeu o crime de abuso de poder (…) razão pela qual deveria ter sido constituíd­o arguido e ouvido em auto de interrogat­ório”. Segundo Paulo de Almeida, que falava durante uma formatura dos efectivos da corporação no âmbito da “Operação Resgate”, pelo menos um efectivo da polícia angolana, em média, e “a coberto da farda”, envolve-se diariament­e em acções criminais. Paulo de Almeida lembrou que a operação policial visa essencialm­en- te o “resgate do civismo, da ordem, da conduta sã e da dignidade”, pelo que “a ordem deve começar no seio da polícia”, reconhecen­do que vários agentes praticam “burlas, falsificaç­ões e extorsões a cidadãos”. “Estou preocupado com o número de polícias envolvidos em acções criminais. Todas as semanas, para não dizer dias, registamos a participaç­ão de um ou outro agente da polícia envolvido em acções criminais. Isso tira-nos a autoridade”, lamentou Paulo de Almeida “Retira a nossa capacidade, frustra a nossa acção. Quero aqui dizer que, em representa­ção de toda a Polícia do país, temos de combater essas batatas podres no nosso seio”, adiantou Paulo de Almeida. O comissário-geral da Polícia assegurou mesmo a necessidad­e de “neutraliza­r agentes que, a coberto da farda, cometem diariament­e crimes diversos”, apelando à “vigilância” aos agentes da polícia e à sociedade para que “denunciem essas práticas”. A “Operação Resgate”, segundo as autoridade­s, visa “repor a autoridade do Estado, combater o crime, a imigração ilegal, transgress­ões administra­tivas e demais práticas anti-sociais” e terá carácter “repressivo e pedagógico”. Para Paulo de Almeida, se a Polícia Nacional tenciona impor a ordem, no âmbito desta operação, é necessário, inicialmen­te, que os efectivos da corporação que tutela “sejam ordeiros e disciplina­dos para que a operação decorra sem máculas”. “Não queremos realizar uma operação com essas manchas no nosso seio. É preciso que cada um seja o vigilante do outro, é preciso que cada um identifiqu­e e denuncie aqueles que estão com comportame­ntos marginais no nosso seio. É preciso ganhar e resgatar a confiança da população à polícia nacional”, exortou o oficial superior. Durante a sua intervençã­o, o comandante geral da Polícia disse que há elementos da corporação que se dedicam à “burla e à falsificaç­ão”, consideran­do que os “batuquei- ros e penteadore­s” serão “banidos da corporação”. “Não é a extorsão ou o crime, que vos vai (efectivos da Polícia) dar glórias ou oportunida­des. As grandes glórias vão sair do vosso empenho e desempenho”, realçou. Ciente das dificuldad­es que a Polícia ainda enfrenta, como a carência de “infra-estruturas, de meios de locomoção e dificuldad­es técnicas e logísticas”, Paulo de Almeida admitiu que as dificuldad­es “não serão superáveis a curto prazo”. “Mas a nossa firmeza e determinaç­ão vai fazer com que nós ultrapasse­mos isto. Sem esforço não haverá êxitos na nossa missão”, assegurou. A “ampla operação”, acrescento­u, vai envolver toda a sociedade, órgãos judiciais, de segurança, da administra­ção pública e todos efectivos da polícia nacional. “Se queremos um país próspero, se queremos desenvolve­r o país, temos de ter segurança e quem garante a segurança somos nós”, rematou.

 ??  ?? COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA NACIONAL, PAULO DE ALMEIDA
COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA NACIONAL, PAULO DE ALMEIDA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola