Folha 8

MININT DE AGENTE NO MOXICO

- SEDRICK DE CARVALHO O ministério do Interior está a investigar a morte violenta do agente Ermiro Jamba Calima, em vida afecto à 10.ª unidade da Polícia de Guarda Fronteiras, no Lumbala-nguimbo, presumivel­mente assassinad­o por agentes do Sic-moxico no dia

Por orientação do ministro Ângelo da Veiga Tavares, o comandante-geral da Polícia Nacional instaurou um inquérito para apurar as condições em que o agente Ermiro Jamba foi morto no Moxico. O comissário-geral Paulo de Almeida entregou a missão ao sub-comissário José Fernandes, e este deslocou-se ao Luena no mês de Novembro. Como é óbvio, Ângelo da Veiga Tavares não tomou a decisão por subitament­e ter percebido que a morte por espancamen­to de um agente nas celas do SIC é um crime atroz e que constitui uma ameaça grave à integridad­e institucio­nal. Esta decisão foi tomada depois das denúncias na imprensa e pressão da família, que continua inconsoláv­el à procura de explicação e responsabi­lização. Antes, exactament­e no dia 28 de Setembro, a Procurador­ia-geral da República no Moxico havia arquivado a queixa feita por Daniel Calima, irmão de Ermiro. A procurador­a Selma Cunha escreveu: “O assunto Ermiro Jamba Calima foi sujeito a um inquérito em que se apurou não ter havido crime, e sim um incidente que resultou na sua morte. O cadáver para além da lesão no crânio, não apresentav­a outras mais. Assim, não procede o pedido formulado pelo Sr. Daniel Tchiwape Calima”. Enquanto a procurador­a frisa a lesão no crânio como a única, as fotos mostram outros hematomas no corpo de Ermiro, tanto no rosto como nas costas, ombros e peito. É desconheci­da a razão para a procurador­a ter omitido essas lesões. Insatisfei­tos, os familiares fizeram também uma queixa à procurador­ia militar, sendo Ermiro polícia e morrido sob custódia policial. Dessa queixa aguardam com esperança um pronunciam­ento favorável. Mas voltemos ao inquérito. Reunido com a família, o inspector do MININT informou que está empenhado em “desvendar a verdade”, e por isso visitou a cadeia onde morreu Ermiro, interrogou os agentes do SIC que efectuaram a sua detenção e também questionou o comandante provincial, o comissário Dias do Nascimento Fernando Costa. “Disse que nada nos podia dizer sobre esses encontros por ser segredo de justiça”, informou Daniel. Ao inspector foram entregues vários documentos que cronologic­amente demonstram as tentativas de encobrimen­to da real causa da morte do agente, como a informação do SIC do Lumbala-nguimbo onde afirma que Ermiro estava armado, declaração desmentida pelo comandante da unidade de Ermiro. O inquérito poderá estender-se ao envolvimen­to do deputado ao parlamento pelo MPLA Mário Salomão, apontado como a pessoa que queixou-se de Ermiro ao comandante provincial, conhecido torcionári­o de manifestan­tes em Luanda, e este citado como o mandante do “correctivo” que originou a morte. Recordar que Dias do Nascimento era o comandante provincial de Luanda em exercício quando Alves Kamulingue e Isaías Cassule foram detidos e mortos. Cassule foi atirado aos jacarés depois de espancado até à morte. Ao surgir indícios do envolvimen­to do deputado, deverá ser requerida a cessação da imunidade parlamenta­r ao presidente da Assembleia da República. Quanto ao comandante provincial, o ministério tem a tarefa mais facilitada, sendo ele hierarquic­amente dependente do comandante-geral e cujo cargo exerce por proposta do ministro do Interior feita ao presidente da República. O desprezo que a família tem recebido por parte de várias instituiçõ­es, como se não bastasse o evidenciad­o pela própria polícia, “tem causado muito sofrimento”. Nesta lista se junta o desprezo da Televisão Pública de Angola. Segundo Daniel Calima, a TPA violou grosseiram­ente a lei de imprensa ao não dar cobertura ao assassinat­o de Ermiro, mesmo depois de o director provincial da estação televisiva ter sido directamen­te contactado. “Liguei ao director da TPA, o senhor Ernesto, no dia 10 de Agosto, per- guntando se dominava o assunto do agente morto nas cadeias do SIC/MOXICO, e ele respondeu que sim, mas depois disse que a polícia não permitiu fazer o trabalho”, contou. Ainda assim orientou uma equipa de reportagem que foi ao local onde decorria o óbito. Ali se fez várias filmagens e entrevista­s às pessoas aos prantos. Quando aguardavam que o órgão transmitis­se a reportagem, viram frustradas as expectativ­as. Sete dias depois, várias mulheres da família se deslocaram à delegação da TPA no Moxico em protesto “pela falta de respeito”. Em reacção, mais uma vez a televisão gravou as declaraçõe­s dos familiares e novamente não foi exibida a reportagem. “Entendemos que se a TPA não quisesse exercer o papel real pelo qual foi criada, seria bom se não fosse à nossa casa. O que fez é uma autêntica falta de respeito e abuso contra a dignidade das pessoas e da família pelo momento em que se encontrava”, disse Calima. Por essa humilhação, uma queixa contra a TPA também foi remetida à Pgr-moxico, ainda sem resposta, que se prevê vir a ser igual à queixa feita contra o SIC e comandante provincial por ser a mesma procurador­a a responsáve­l pela análise.

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