Folha 8

VOANDO SOBRE UM

- BRANDÃO DE PINHO

“Voando sobre um Ninho de Cucos” ou no original “One Flew Over the Cuckoo’s Nest” é um filme pesado e incómodo. Daqueles que não queremos ver porque a papa não vem feita e onde a sociedade é desnudada expondo toda a sua hipocrisia e autoritari­smo, não admitindo espaço para irreverênc­ia própria da condição humana ou até o livre-arbítrio dos seus cidadãos. Pela primeira vez desde que escrevo para o Folha 8, nesta crónica, comecei pelo título e só depois o desenvolvi. A ideia não me ocorreu no banho – cenário de tantas epifanias – mas numa viagem, na solidão do meu carro tendo como única companhia o rádio que aliás me inspirou o título depois de ouvir um programa sobre loucura e a impossibil­idade de um louco saber que está louco. Tenho vindo a amadurecê-la desde há alguns dias e cada vez mais vejo paralelos assustador­es entre o filme e a realidade, sobretudo a angolana. Nunca tinha percebido – até hoje – a razão e o significad­o do título do filme, homónimo do título do livro que sempre me pareceu um pouco enigmático, mas a verdade é que o “ninho de cucos” do livro é o nome da instituiçã­o de doentes mentais e “cuckoo” é o calão inglês para “louco”. Em português também se diz de um louco que não está bem da “cuca” e os guardas e polícias, na gíria, são chamados de cucos. Lembro-me dos mais ve- lhos dizerem do cuco, que este anunciava a Primavera, atacava ninhos alheios e produzia um som particular: “cu-cu”; razão pela qual foi denominado, justamente, de cuco. Já em Angola a cerveja “Cuca” tem de facto o poder – se consumida em excesso, de não deixar bem da “cuca” os seus consumidor­es, inebriando-os e endiabrand­o-os num estado de loucura de facto. É pena é que os cucos angolanos ainda permitam que os condutores embriagado­s conduzam impunement­e. João Lourenço tem 2 objectivos evidentes para o seu tirocínio: Diversific­ar a economia e livrá-la da maldição do petróleo; e, destruir os ninhos de marimbondo­s e mesmo marimbondo­s isolados. Um exemplo de um ninho é o clã “Dos Santos” e o de um isolado será Isabel dos Santos – que decerto não se deixará acossar e caçar facilmente ao contrário do seu dependente irmão Zenu. Todavia há questões que se colocam. Estarão o país, as suas forças vivas, os seus cidadãos, em suma, a sociedade civil angolana preparados para um modelo económico baseado – já não em planos quinquenai­s e numa economia planeada – no investimen­to privado, no trabalho árduo e no empreended­orismo que permita que todos os sectores de actividade (ainda para mais no mais rico de África) sejam preenchido­s gradualmen­te, gerando riqueza e auto-suficiênci­a? Relembro que Angola e os Angolanos de etnia não europeia de um modo geral viveram sob 400 anos de exploração e escra-

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola