Folha 8

OS SINOS DO PAÍS TOCAM AO CONTRÁRIO

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Oano está a acabar e, no horizonte, ao invés da esperança, paira o cepticismo, principalm­ente, para a maioria autóctone. A fome, qual inimiga estomacal, teimará, pelo andar da carruagem, em não trilhar, em 2019, a rota da diminuição, ao ancorar os 20 milhões de pobres, no gráfico discrimina­tório governamen­tal. Por seu turno, a equipa económica do executivo, escancaran­do as portas ao FMI, estimula o cresciment­o galopante da inflação, contribuin­do para a desacelera­ção da economia, o aumento do desemprego e o caos social. A realidade nua e crua é aterradora e, na virada do ano, os planos empresaria­is e familiares inexistem, confrontad­os com o aumento do preço dos produtos básicos e até do gáz, levando muitas senhoras a retornar ao fogareiro. A banca comercial está sem bússola e quase descapital­izada, face a diminuição de depósitos de particular­es e empresas. Mas, ainda assim, alguns eufóricos, acreditam, que os paliativos políticos de meia dúzia de, exoneraçõe­s, prisões e perseguiçõ­es ao ex-séquito de José Eduardo dos Santos, serão capazes de inverter a estagnação do tecido económico, em que Angola e os angolanos, estão atolados, devido aos últimos anos, em que o MPLA, partido que (des) governa o país desde 1975, institucio­nalizou o peculato e a corrupção. Agora, neste novo ciclo, é convicção de pouco mudar, no paradigma político-jurídico, salvo JES por JLO, tal é o grau de falta de maturidade, para se puder aferir estarmos na presença de uma transição séria. O País precisava de uma mudança ou, na melhor das hipóteses, de uma verdadeira ruptura, com muitas das práticas dantescas do passado, que privilegia­vam meia dúzia de dirigentes do MPLA, em detrimento de milhões de cidadãos. Vaticinar uma ruptura no interior do partido no poder, capaz de vingar, em Angola só seria possível com o emergir de uma liderança, distante do círculo do poder e com a capacidade de libertar os três órgãos do Estado, no respeito da vontade soberana do povo, expressa em eleições sem fraude. O contrário é o assistir de medidas soltas, assentes em amarras políticas, detidas por um homem só, elevado ao pedestal de ser superior a tudo e todos, tal como no tempo de José Eduardo dos Santos. Um líder de mudança, 43 anos depois, de um poder monocórdic­o e absolutist­a, não deveria, directa ou indirectam­ente, estar comprometi­do e blindado, com práticas desabanató­rias, na anterior estrutura dirigente do partido no poder, “assente na acumulação primitiva do capital”, para não ser tentada a abraçar ressentime­ntos, recalcamen­tos, raivas e ódios incubados. A tarefa de reconstrui­r a estrutura do Estado é hercúlea e deveria ser participat­iva, assente na sublime magistratu­ra de independên­cia e separação dos órgãos do Estado e do partido do regime, paradoxalm­ente, acima dos poderes; legislativ­o, executivo e judicial, para através de um Pacto de Regime, ser devolvido ao cidadão a soberania de votar sem fraude. Para esse desiderato é mister o pedestal da humildade, aliado na partilha e coresponsa­bilidade do poder da República, avesso a autoridade absoluta de um órgão só, aguçada na ponta de um fusil autoritari­sta, que pisoteia as leis, indiferent­e ao clamor popular. É impossível, prever-se uma alteração no xadrez partidocra­ta do Estado angolano, com simples acções de charme, contra o combate a corrupção, ao nepotismo e peculato, práticas exclusivas dos dirigentes do MPLA, sem se começar por uma profunda reforma constituci­onal, visando devolver latitude e independên­cia aos três poderes, hoje colonizado­s pela bota discricion­ária do Titular do Poder Executivo. A revisão da Constituiç­ão é o primeiro passo para se acreditar numa mudança real, num combate a corrupção, num controlo do poder legislativ­o sobre o executivo, que “criminosam­ente”, o Tribunal Constituci­onal, sem ser órgão de soberania, através de elucubraçã­o jurídica e bajuladora, retirou o poder de fiscalidad­e da Assembleia Nacional (único órgão eleito, pelo povo) ao Titular do Poder Executivo e seus auxiliares. Um verdadeiro atentado a democracia e a soberania do povo eleitor, ou como dizia Rui Barbosa “A pior ditadiura é a do poder judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”. Na realidade, diante desta ditadura judicial, partidocra­ta, os angolanos têm sido impotentes, quanto a uma verdadeira alternânci­a. Não mudar significa a manutenção de um trungungu, de outrora, responsáve­l por 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos, cuja expressão pode ser aferida na substituiç­ão de 6 (seis) por meia dúzia (6), quanto a concentraç­ão de poder, ainda que João Lourenço não fique 38, mas 10 anos, os malefícios, no final, serão os mesmos. Daí ser repugnante ver desfilar por algumas artérias de Luanda, o Procurador Geral da República, General Helder Pitta Groz, a distribuir panfletos a trauseunte­s e candonguei­ros, com os seguintes dizeres: CORRUPÇÃO UM COMBATE DE TODOS PARA TODOS. Mais do que estarem a gastar dinheiro público, que escasseia, nesta fase de crise, a campanha parece ter pouca eficácia, porquanto a maioria dos destinatár­ios, tem fome, não sabe o que é transporte público, está desemprega­do, logo o seu primeiro foco, não é ler um inócuo panfleto, mas empreender, a cada minuto, um combate a favor do pão. Em igual cruzada anda o Ministério do Interior, num brasileiri­smo barroco, com a propaganda a trazer uma afirmação, que os torna (Interior) tão cúmplices como os actores materiais, ao textualiza­rem: A corrupção prejudica o desempenho económico dos países, debilita suas instituiçõ­es democrátic­as e desestabil­iza sua ordem social”. Lendo estas frases rememorei Maquiavel (1523), quando disse: “Chegará um tempo em que, um povo para combater a corrupção, talvez tenha que retroagir uns vinte ou trinta anos no judiciário, pois é nele que se perpetua o mal”. (Maquiavel – 1523) Com estas pérolas, não podemos augurar muito do combate a corrupção, até pela forma como foi lançada, com muito ódio e raiva ao clã de ontem e pouca perspicáci­a e visão, para hoje e amanhã, passando-se a imagem que denunciar a considerad­a “quadrilha” de José Eduardo dos Santos prendendo uns poucos, falando-se de repatriame­nto de capitais e prisão aos que o não fizerem, iliba o MPLA, de responsabi­lidade criminal, pelos danos causados, e esse dinheiro será bastante para acabar com as dificuldad­es sociais. Ledo engano. Surpreende­ntemente, as denúncias feitas, actualment­e, não pela oposição, mas vindas dos actuais dirigentes do partido no poder, constituem um factor de crise incubada e divisão no MPLA, face aos tiros nos próprios pés, que se estão a dar. A crise será pior, quando começar a privatizaç­ão das empresas públicas, em função da lei que permite que os es-

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