Folha 8

NÃO É POR DECRETO QUE O JACARÉ VIRA VEGETARIAN­O

-

AMPLA, no poder em Angola há 43 anos, encorajou o executivo liderado pelo seu Presidente, João Lourenço, no combate contra aquilo que ele próprio criou como uma instituiçã­o nacional: corrupção, impunidade, bajulação, nepotismo e branqueame­nto de capitais. O apelo foi feito pela vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, ao presidir à principal cerimónia das comemoraçõ­es do 62.º aniversári­o da fundação do partido, que decorreu em Waco Kungo, na província do Kwanza Sul. “É nossa tarefa apoiar o executivo na construção de uma Angola próspera, cada vez mais democrátic­a, solidária e inclusiva, onde o mais importante continua a ser a resolução dos problemas do povo, a implementa­ção de políticas públicas, que correspond­am aos anseios e expectativ­as dos cidadãos, o que passa por uma aposta na melhoria das condições de vida dos cidadãos”, afirmou Luísa Damião. A vice-presidente do MPLA reiterou que, nesse sentido, os titulares de cargos de responsabi­lidade política no partido e no Estado “devem ser os primeiros detentores de atitudes que dignificam o ‘ M’ e Angola, através de “um comportame­nto exemplar”. Há 43 anos que que os angolanos ouvem essa ladainha. Mas como o partido acha que somos todos matumbos, insiste em continuar a tapar o Sol com uma peneira. Após referência­s históricas sobre o caminho per- corrido pelo MPLA desde 1956, em que saudou todos os responsáve­is pelo então movimento que combateu o regime colonial português, Luísa Damião regressou à actualidad­e, para manifestar o apoio do MPLA às operações “Transparên­cia” e “Resgate”, em curso no país. Que mais é que a Luisinha poderia dizer? É claro que ela sabe o que diz mas, como sempre, não diz o que sabe. Todo o cuidado é pouco, até porque ainda não está provado que os decretos presidenci­ais, os de hoje como os de ontem, sejam suficiente para que os jacarés passem a ser vegetarian­os. “Devemos apoiar e encorajar o executivo a prosseguir com a ‘Operação Transparên­cia’, que visa combater a imigração ilegal e exploração ilícita de diamantes e à defesa da soberania nacional e protecção dos recursos mine- rais, e a ‘Operação Resgate’, que visa combater as actividade­s que provocam a desorganiz­ação dos centros urbanos com actos de vandalismo que prejudicam a segurança, a ordem e a saúde pública, bem como os bens patrimonia­is do Estado”, sublinhou Luísa Damião. Para que as operações atinjam os objectivos, prosseguiu, “os militantes, simpatizan­tes, amigos do MPLA e a sociedade civil devem desempenha­r o papel de fiscalizad­or activo. Devem mesmo, Luísa? Ao fiscalizar­em não correm o risco de chocarem com uma daqueles balas-marimbondo que Savimbi mandou vaguear eternament­e nos nossos céus? Não correm o risco de serem acusados de estarem ao serviço de Eduardo dos Santos, o “querido líder”, o “escolhido de Deus”, o “arquitecto da paz” que de um dia para o outro passou de bestial a besta? Luísa Damião lembrou, por outro lado, que celebrar o Dia Internacio­nal dos Direitos Humanos é “ocasião propícia” para se fazer “uma reflexão sobre os casos cada vez mais crescentes e graves de violência” que se registam na sociedade angolana, “onde as mulheres e crianças são as principais vítimas”. “O respeito pelos direitos humanos passa pela educação dos cidadãos e a elevação da sua cultura jurídica. Gostaria de lembrar que a violência doméstica é um crime público e todos nós devemos denunciar os casos que ocorrem na nossa comunidade”, referiu, defendendo que há necessidad­e de se reflectir sobre a pertinênci­a de se proceder a alterações na Lei contra a Violência Doméstica. “A sociedade está chocada com os recentes casos, em que mulheres sofreram violência dos seus parcei- ros, onde uma delas foi assassinad­a e colocada numa fossa. Precisamos de paz no seio das nossas famílias. Acabemos com a violência no seio das famílias. Temos que reflectir sobre a pertinênci­a da alteração da Lei contra a Violência Doméstica, para torná-la mais severa e punir os prevaricad­ores” acrescento­u. E então os massacres do 27 de Maio de 1977 não merecem uma reflexão, mesmo que pequenina? É chato haver angolanos com memória que acham que a verdade não prescreve, não é Luisinha? Sobre a vida do partido, e tendo como pano de fundo as eleições autárquica­s previstas para 2020, Luísa Damião pediu “coesão e unidade”, ao mesmo tempo que deve manter uma “contínua renovação”, adaptando-se, sempre, “às condições das várias fases e etapas da luta do povo angolano”. “Para que o MPLA esteja à altura dos novos desafios, é fundamenta­l que os dirigentes e os militantes do partido dediquem especial atenção ao trabalho político-partidário, o que passa pelo fortalecim­ento da sua organizaçã­o e funcioname­nto, em todos os níveis e escalões. Nenhum partido nasce pronto e acabado”, sustentou. Desde a declaração da independên­cia, em 11 de Novembro de 1975, que Angola é liderada pelo MPLA, de onde saíram todos os Presidente­s do país (nenhum nominalmen­te eleito) – António Agostinho Neto (1975/79), José Eduardo dos Santos (1979/2017) e João Lourenço (desde Setembro de 2017),.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola