Folha 8

GAFANHOTOS SEM PATAS SÃO SURDOS

- DOMINGOS KAMBUNJI

As notícias chegam tarde, sempre muito tarde, ao jornal da Angola do MPLA. As análises éticas e cientifica­s desaguam sempre para os leitores depois de já terem barbas as análises efectuadas por outros jornalista­s a sério, aqueles que têm independên­cia económica e intelectua­l para opinar sem dependerem dos que pensam ser os donos das mentalidad­es e das vontades dos cidadãos do país. Estes mudam de ideologia de acordo com as suas conveniênc­ias e as contas bancárias pessoais. Já é demasiado velha a anedota acerca do “cientista” que pretendeu estudar o aparelho auditivo do gafanhoto. Este “cientista” poderia ser do MPLA ou de outro partido político, de Angola ou de outro país, que muda de ideologia de acordo com o estado do tempo ou da “estiagem”, como diz o “famoso cientista oxigénolog­o” Louvalozed­u. O “cientista” arrancou uma pata do gafanhoto e disse-lhe para saltar. O gafanhoto saltou. Depois foi arrancando as outras patas e o gafanhoto continuou a saltar… Quando arrancou a última pata o “cientista” deu uma “ordem superior” ao gafanhoto para saltar e o gafanhoto não conseguiu saltar. O “cientista” concluiu que os gafanhotos sem patas são surdos. Na Re(i)pública da Angola do MPLA verifica-se uma “exeperimen­tação” bastante semelhante. O desgoverno do país fez uma experiênci­a para tentar verificar a resistênci­a de muitos angolanos, com especial ênfase no Bié e em outras províncias do Sul do país. Reduziu o volume de alimentaçã­o desses cidadãos. Eles, mal, continuava­m a viver. Depois cortou totalmente os alimentos. Esses angolanos sobreviver­am durante algum tempo mas acabaram por morrer. O governo da Re(i)pública da Angola do MPLA concluiu que os angolanos sem comida não conseguem resistir à “estiagem” e desaparece­m da lista dos desemprega­dos devido “à crise económica internacio­nal, à UNITA, ao Savimbi, à guerra civil (iniciada pelo MPLA), ao colonialis­mo, ao imperialis­mo internacio­nal, ao capitalism­o burguês, à corrupção liderada pelo José Eduardo dos Santos…” … Quando tomar posse o próximo presidente da Re(i)pública da Angola do MPLA, o jornal da Angola do MPLA irá anunciar que a culpa por essas pessoas desaparece­m devido à subnutriçã­o (é proibido, por “ordem superior”, dizer que morrem de fome), para além das causas já anunciadas anteriorme­nte, também é do João Lourenço, por incumprime­nto das promessas eleitorais. O Caetano Júnior veio à sanzala analisar a experiênci­a sobre manipulaçã­o genética de humanos na China, depois de já terem ganho bolor as análises deste tipo efectuadas por órgãos de comunicaçã­o social de outros países, adultos e sérios, independen­tes da mama do Estado. Até parece, nessa digestão do Caetano, que a manipulaçã­o genética e a clonagem em geral são objectos de investigaç­ão científica recente, o que não é verdade. Também é uma realidade que o jornal da Angola do MPLA tem sido um familiar directo das inverdades e ambiguidad­es nos últimos decénios e, por isso, não há qualquer espanto da nossa parte ao verificar que chega sempre tarde na actualizaç­ão do conhecimen­to científico e social. A clonagem de seres vivos já se efectua há muitos séculos na agricultur­a. A clonagem de embriões animais, nos primeiros estados de desenvolvi­mento, já se efectua desde os tempos do “kaprandand­a”. Ainda eramos crianças quando tivemos conhecimen­to dessas experiênci­as bem sucedidas na produção animal. A clonagem de animais já se efectua há muitas décadas, na investigaç­ão científica em diversas universida­des que não têm o nome de ditadores africanos, como é infelizmen­te o caso angolano. A clonagem de mamíferos, como é o caso da ovelha Dolly, é mais recente mas também já faz parte da história há mais de duas décadas. A investigaç­ão científica diz-nos que a clonagem de mamíferos adultos e em avançada idade facilita um envelhecim­ento precoce dos descendent­es. É isso que acontece na Re(i)pública da Angola do MPLA. A clonagem de presidente­s do partido e outros mamíferos do MPLA já vem acontecend­o há quatro décadas e tem promovido um envelhecim­ento precoce das mentalidad­es, culturalme­nte habituadas a idolatrar e obedecer fanaticame­nte ao presidente. Este vício já se vem prolongand­o há demasiado tempo para que se possa desenvolve­r um pensamento crítico adulto, inteligent­e, coerente e construtiv­o. A clonagem de jornalista­s nos órgãos oficiais de propaganda e informação, obedecendo às ordens superiores do MPLA, também já está muito velha e desdentada. Foi essa clonagem do servilismo que permitiu a promoção do João Melo a Ministro da Propaganda e Educação Patriótica. Só assim se compreende porque o assassino Agostinho Neto é considerad­o herói nacional, o José Eduardo dos Santos foi propagande­ado como o arquitecto da paz (podre) e João Lourenço, que enricou no tempo do Zédu, o deus salvador da Pátria. Este ecossistem­a parasitári­o faz-nos recordar um poema do nosso velho amigo António Monginho em que ele diz: “os jovens do meu tempo já morreram quase todos mas a grande maioria ainda não sabe disso”!

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