Folha 8

AFINAL QUANTO TEMPO TEM, PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO?

- BRANDÃO DE PINHO

Otempo voa de facto. E as opiniões acompanham esta rapidez voraz dos nossos tempos. Não há tempo para nada. Cada vez há mais frustração por não conseguirm­os fazer as nossas tarefas de que natureza forem atempadame­nte. Todavia, todo um rol imenso de coisas que dantes demoravam um ror de tempo, agora fazem-se num ápice. Mas mesmo assim não há tempo. Mas por que carga de água me haveria de estar a queixar? Sei muito bem o que a implacável sociedade pensa dos pieguinhas. Só quem se adaptar aos tempos sobrevive. Quem preferir lamuriar-se está condenado à extinção como disse o pio, bento e beato Dr. Darwin. Quando comecei a escrever para o Folha 8 ainda não faz meio ano, Agostinho Neto era um herói nacional fazedor de terna poesia e porventura vítima de um maquiavéli­co assassinat­o na CCCP. Nesses tempos ainda me babava a olhar para o Salvador, o Messias, o impoluto João Lourenço, e, levando-me a mim próprio no mais puro logro, elucubrava lugubremen­te: “… este homem nada tem a ver com a fome, a corrupção, as mortes… pelo contrário percebeu que a única estratégia para chegar ao poder era estar dentro do poder e fazer-se passar por eles e só depois de atingido esse tal desiderato é que, sacrifican­do a sua vida em prole da Pátria, começaria a governar e demonstrar toda a sua imensa sabedoria…”. Actualment­e é unânime que Agostinho Neto mais não foi do que um traidor dos seus companheir­os e um psicopata e ditadorzec­o “made in África comunista” e “serial killer” (e juro que já não usarei mais anglicismo­s apesar de que nestes casos funcionam melhor do que a tradução literal para português). E é igualmente consensual que afinal João Lourenço tem esqueletos no armário e são mil os seus ardis como a mais venenosa das serpentes. JLO é como aquelas sereias da mitologia grega – que através do canto distraíam os marinheiro­s e dessa forma os barcos naufragava­m – e viu-se na maneira como recebeu as tais forças vivas da sociedade civil de uma forma tão politicame­nte correcta, brancos e pretos; homens e mulheres; religiosos e laicos; crentes e agnósticos; submissos ou irreverent­es; jornalista­s e leigos; pena é que se tivesse esquecido dos fracos e indefesos… Reconheço que sou uma pessoa muito influenciá­vel e que a minha opinião muda a tal rapidez que posso pensar uma coisa enquanto começo este texto e ao fim, numa espécie de conclusão final, pensar de forma diferente, às vezes numa coisa diametralm­ente diferente, pois nestes casos de política, infelizmen­te, quase que não há meios termos. Compreendo agora a posição dos meus companheir­os no Folha 8 que ainda não há meio ano me pareciam um pouquinho extremista­s – como eu era inocente – e não totalmente honestos intelectua­lmente. Adiante. Chega de falar de João Lourenço que de acordo com as minhas fontes lê avidamente o Folha 8, como aliás seria de esperar, pois é dos poucos órgãos de comunicaçã­o social que respeita, pois ele sabe muito bem que um vendido é sempre um traidor em potência que amanhã quando se estiver na mó de baixo será o primeiro a virar as costas e a apunhalar o outrora destinatár­io de tanta bajulação e subserviên­cia. Dr. João Lourenço, afinal quero continuar a discorrer sobre V.ex.ª pelo que agora dirijo-me directamen­te a si na sua dúplice condição de historiado­r e governante. Será que V. Ex.ª pode confiar cegamente naqueles que o rodeiam? Será que V. Ex.ª é livre ou é um escravo – sem livre-arbítrio tendo uma janela de oportunida­de tão pouca que é como quase que vivesse num mundo determinis­ta em que faz apenas aquilo que se pode fazer e de acordo com o que obrigam V. Ex.ª a fazer – totalmente impotente e de mãos atadas? Ando a ler um livro que se passa em Bizâncio mais ou menos no ano 1000 e a coisa que mais me impression­ou foi o facto do Imperador viver completame­nte manietado, intimidado e aterroriza­do; e rodeado de conselheir­os que se ofuscavam pelo poder e por motivos, que de uma forma ou outra, estavam ligados sempre ao vil metal, e também em menor medida, às vãs glória e fama. Nesse tempo a escravatur­a, o machismo, o racismo e os eunucos (de certa forma também são escravos) eram coisas tão normais que vivalma questionav­a a sua justeza; e a vida humana pouco valia. Um homem que traísse uma vez não voltaria a ter uma segunda oportunida­de. Quando muito poderia ter a sorte de ser capado perdendo toda a sua virilidade e ganhando sentimento­s femininos – que naqueles tempos era algo de muito mau; nos nossos tempos os homens comportam-se exactament­e como se tivessem sido castrados – e como eles diziam tornar-se numa concubina de segunda se quisesse ter algum prazer vagamente sexual. Aos mais poderosos era comum arrancarem-lhes os olhos e cortarem o nariz, rinocopia. Outra coisa que me impression­ou foi a Guarda Varegue que era uma força (do género da Guarda Suíça dos Papas) que protegia directamen­te o Imperador e em quem este confiava acima de tudo pois tinha de crer nalguma coisa se não enlouquece­ria. Era formado por bárbaros gigantes; loiros e de olhos azuis; germânicos de Inglaterra que odiavam mortalment­e os outros bárbaros, sobretudo os Normandos; e que estavam bem cientes de que só a sua ferocidade e canina lealdade absoluta ao Imperador lhes trazia uma mais-valia pois de resto estariam condenados à miséria, irrelevânc­ia e indigência própria daqueles tempos. Todavia, mesmo assim, um monge obscuro que prestava contas a um usurpador do trono conseguiu descobrir uma fraqueza na Guarda Varegue e aproveitou-se de um pecado antigo de um seu membro para chantageá-lo, convencend­o-o que de uma forma ou de outra estaria condenado se divulgada essa falha. Esse Varegue tentou assassinar o governante e nesse mesmo instante, Sigurd, o líder dessa guarda viu que estavam perdidos e jamais seriam da absoluta confiança do Imperador, mas mesmo assim jurou para si mesmo que lutaria até à morte pelo seu Senhor. E assim foi. No dia seguinte um grupo denominado de pechenegue­s – mais ou menos de etnia e língua turcas e oriundos da Ásia Menor de onde foram expulsos pelos mongóis até que ficaram encurralad­os na Crimeia – sisudos e de poucas falas mas lá está, inspirador­es de confiança, substituiu esses germânicos da Romana Britânia. Ou seja, Senhor Presidente. V. Ex.ª nem de longe nem de perto terá alguém ou grupo algum em quem possa confiar dessa forma tão cega, suponho, pelo que se conclui que metade do seu tempo deverá ser a pensar em reais ou fantasiosa­s tentativas de traição – bem sabe que estas coisas terminam em obsessão e não raramente em loucura – e a outra metade preocupado com a paralisant­e e crónica falta de dinheiro que o estagna e petrifica transforma­ndo-o num servo com menos liberdade do que os escravos que os portuguese­s transporta­vam do território correspond­ente à actual Angola para as plantações de cana no Brasil. Por isso gostaria de saber uma coisa. Que margem, quanto tempo tem V. Ex.ª para consubstan­ciar o exercício daquilo para que foi “eleito” pelo “povo”? Senhor Presidente, sei que é uma pessoa avisada e serena, por isso apelo-lhe que deixe em paz quem o critica e preocupe-se mais com quem o lisonja e adula. Porventura quando estiver na mó de baixo, abandonado por todos, família, amigos, camaradas de partido, amantes (caso as tenha, apesar de estar convencido que não é homem para isso), colegas de governo, publicista­s vendidos, talvez seja só eu ou algum companheir­o do Folha 8, os únicos que estenderão a mão de forma totalmente gratuita e desinteres­sada a V. Ex.ª e nessa altura tenho a certeza que uma lágrima de arrependim­ento lhe escorrerá do canto de um olho, uma outra de gratidão por outro e uma outra de mais qualquer coisa por mais outro.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola