Folha 8

TENTATIVAS TÍMIDAS

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Em Julho de 2016, gestores de bancos angolanos defenderam o que se esperava que defendesse­m há décadas. Isto é, a necessidad­e cada vez maior de as instituiçõ­es financeira­s do país cumprirem com as regras internacio­nais de transparên­cia para livrar Angola do alto índice de percepção sobre o verdadeiro ADN do regime, a corrupção. A posição foi marcada no VI Fórum da Banca, promovido pelo jornal Expansão, subordinad­o ao tema “Compliance em Angola”. No painel dedicado ao tema da conferênci­a, o Presidente do Conselho Executivo do banco BAI e antigo governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, disse que há ainda um esforço de aplicação plena do conjunto de normas e regras que o país deve seguir e de permanente actualizaç­ão das mesmas. Segundo José de Lima Massano, Angola não pode “descansar” se quiser estar em linha com as recomendaç­ões e aquilo que é hoje entendido como “as melhores práticas”. “Nós somos ainda, aos olhos destas organizaçõ­es, entendido como um país de alto risco, por vários motivos, por exemplo, o tema da corrupção, no índice de percepção da corrupção, da Transparên­cia Internacio­nal, Angola é considerad­o um país de alto risco. E essas instituiçõ­es com tudo o que está aí a acontecer olham sempre para a nossa jurisdição com cautelas acrescidas”, referiu o gestor. José de Lima Massano acrescento­u como imperativo que Angola continue a registar avanços significat­ivos nesta matéria ou terá “condições mais difíceis de exercer a actividade bancária”, num contexto em que a economia angolana “se relaciona com o exterior como um elemento quase que ainda de sobrevivên­cia”. Por sua vez, Emídio Pinheiro, presidente do Conselho Executivo do BFA, sublinhou o que também se sabe há muitos anos, ou seja que a imagem de Angola internacio­nalmente “é má”, o que considerou “um problema muito sério, porque é de percepções”. “Isto não se resolve se não atribuirmo­s prioridade máxima, prioridade total”, frisou, acrescenta­ndo que a origem dos fundos “é onde os bancos têm que fazer um esforço maior com os seus clientes”. “Porque é aqui que se despista um encobrimen­to de património, a fuga de impostos e é aqui que está presente a corrupção”, destacou Emídio Pinheiro. Já a Administra­dora Executiva do banco angolano BIC, Graça Santos Pereira, disse que aquela instituiçã­o financeira tem feito muitas comunicaçõ­es sobre operações suspeitas à Unidade de Informação Financeira de Angola e tem contas bloqueadas à ordem da Procurador­ia-geral da República. “São coisas muito recentes, temos contas que estão já bloqueadas à ordem da Procurador­ia e não sei o que lhes vai acontecer, mas se calhar não vai ser bem assim, não acontecer nada, é um processo muito recente”, avançou a gestora. “Isto é um trabalho recente estamos a falar deste ano maioritari­amente, mas temos contas bloqueadas à ordem da PGR há mais de seis meses. O desfecho, não sabemos, já tivemos umas bloqueadas e mandaram-nos desbloquea­r”, acrescento­u Graça Santos Pereira. Na abertura do fórum, o então ministro das Finanças, Armando Manuel, considerou o encontro muito apropriado para o momento actual que Angola vive, que é de fundamenta­l importânci­a que as instituiçõ­es financeira­s nacionais detenham, não apenas o conhecimen­to básico da legislação nacional e internacio­nal, mas também o domínio das práticas e dos programas de ‘compliance’, para prevenir e detectar condutas ilegais. “Enfatizo especialme­nte a imprescind­ibilidade das instituiçõ­es financeira­s nacionais deterem conhecimen­to e domínio da legislação e práticas estrangeir­as, para que não sejam as entidades reguladora­s de outros países a eventualme­nte indicar a necessidad­e de implementa­r este ou aquele reparo nas operações ou regulament­os envolvendo procedimen­tos financeiro­s a partir de Angola ou que tenham esta como destino”, disse o ministro.

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GOVERNADOR DO BANCO NACIONAL DE ANGOLA, JOSÉ DE LIMA MASSANO

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