BOAS INTENÇÕES NÃO CHEGAM
OPresidente João Lourenço, como afirmamos, anteriormente, garantiu (21.12.18) que o repatriamento coercivo de capitais começou a contar a partir de 26 de Dezembro mas avisando que o processo pode levar mais de 20 anos a estar concluído. Por alguma razão, a somar aos 43 anos que já leva no Poder, se admite que o MPLA precisa de mais 57 para pôr a casa em ordem… O Chefe de Estado – que é igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo – admitiu ser preciso ter calma para, como diz o cantor português Pedro Abrunhosa, fazer o que ainda não foi feito. E assim sendo, nada como esperar mais uns longos anos para, definitivamente, se concluir que a montanha continuará cheia de dores mas sem conseguir parir um rato. “É um fenómeno que ocorreu ao longo de anos e não me parece que pudéssemos resolver em seis meses, referente ao período de graça”, frisou João Lourenço. E frisou muito bem. Se Roma e Pavia não se fizeram num dia, se em 43 anos de independência ainda só conseguimos gerar ricos e não riqueza, “produzir” 20 milhões de pobres e ter a certeza de que 86% das nossas crianças dos 0 aos 23 meses estão privadas de uma alimentação adequada e nesta faixa cerca de 75% estão igualmente privadas de uma habitação, 71,8% da saúde, 53,8% da água potável, não é preciso ter pressa. Aliás, embora se saiba que o Angola é uma espécie de automóvel que te o motor gripado, os nossos ilustres e intelectualmente superiores dignitários político-governativos acham que não é preciso substituir, ou pelo menos reparar, o motor. Basta, dizem, mudar o motorista. Portanto, siga a farra! Para João Lourenço, o facto de haver um prazo de início do programa, não permite pensar-se (“não é justo”) que na data exacta todos os recursos regressam ao país. Anda bem que o Presidente esclareceu este aspecto. É que todos estávamos a pensar que, graças a ele, substituindo a antena do rádio o morto começava logo a trabalhar. Obrigado, Presidente, pela pedagogia. “Arranca a 26 de Dezembro e não tem data limite. Pode levar dez anos, 20 anos, leva o tempo que for necessário, no meu mandato ou de quem me for substituir nos próximos anos. Isto é um programa para ter continuidade”, sublinhou João Lourenço, omitindo, contudo, um pormenor que é vital para o entendimento deste programa. É que todos precisam de saber que a continuidade só pode ser conseguida (assim aprendemos nos últimos 43 anos) se o MPLA nunca deixar de estar no Poder. João Lourenço também referiu que as relações com o ex-chefe de Estado, do qual foi número dois no MPLA e ministro da Defesa, José Eduardo dos Santos, são normais. Afasta-se assim o receio de alguns familiares de que o anterior presidente (uma espécie – no dizer de João Lourenço – de marimbondo traidor que deixou os cofres vazios) poderia ser preso ou até mesmo assassinado. Poderia? Poderá? Veremos…
Assim sendo, nada como esperar mais uns longos anos para, definitivamente, se concluir que a montanha continuará cheia de dores mas sem conseguir parir um rato.