Folha 8

A IDENTIDADE RELIGIOSA EA INDEPENDÊN­CIA DE ÁFRICA

- TEXTO DE WILLIAM TONET

Nesta época, especial para os cristãos, os povos africanos deveriam reflectir mais, muito mais no valor das suas crenças religiosas, a maioria ainda subjugadas à visão colonial e paternalis-

ta ocidental. Nesse percurso, as nossas crenças antes da colonizaçã­o, cuja pureza, exclui o diabo, sim, o diabo, por só configurar, nas bíblias orais, o BEM, logo o guardião: Nzambi; Deus; Divino; Todo Poderoso é o único Senhor do céu e da terra. Daí a maior riqueza dos povos africanos, mes- mo nas maiores misérias e adversidad­es continuar a ser a solidaried­ade e a gratidão. Em qualquer sanzala ou recanto dos húmus africanos, por mais pobre que seja, um viajante, mesmo chegado de madrugada tem sempre um abraço, um carinho, seguido de um prato quente de xima (pirão, funge “massa de milho”), acompanhad­o, por vezes, do último peixe ou pedaço de carne. Esta expressão de solidaried­ade e gratidão continua a ser grata no interior espiritual africano. É assim a nossa crença na divindade espiritual suprema, que não admite o demónio, caracterís­tica, presente na filosofia religiosa ocidental; Diabo, Demónio, onde predomina, regra geral (existem raras excepções), o egoísmo, a materialid­ade e a desconfian­ça. Assim, nesta nova aurora, em que ainda não alcançamos, por complexo de uns líderes, a independên­cia religiosa, é hora de cada político e intelectua­l africano, se bater em prol da verdadeira espiritual­idade, como fazem, os ocidentais, através do Vaticano e a Bíblia; os Evangélico­s, através do Novo Testamento; os asiáticos com Buda; os árabes, com o Alcorão e Meca. E nós? Sim, e nós? Continuamo­s, impávidos e serenos a navegar, paradoxalm­ente, como seres inferiores, a reboque das religiões ocidentais, que blindaram a colonizaçã­o, mesmo sem quórum, em nenhum dos palcos, inclusive, no Vaticano, onde cardeais e bispos pretos, são reduzidos e discrimina­dos. É pois importante, resgatar a espiritual­idade africana, em prol da preservaçã­o das nossas riquezas, para emprestar um futuro melhor as gerações vindouras. Resgatar a identidade religiosa africana, para em 10 anos, com políticas e programas económicos patriótico­s e solidários se acabarem com os musseques (bairros de lata, “bidon villes”), por toda a África. Resgatar a nossa identidade, para instaurarm­os uma constituiç­ão africa-

na, assente, na alternânci­a e limitação de mandatos presidenci­ais (dois e um alternativ­o), colocando a corrupção e o peculato, que subtrai livros e medicament­os das escolas e hospitais como crimes hediondos, contra a humanidade, imprescrit­íveis e insusceptí­veis de amnistia. Os agentes são proibidos de retornar a vida pública e condenados, não só à devolução do património, ilicitamen­te, acumulado, como obrigados, durante a reclusão, a trabalhar, para moralizar a família e a so- ciedade. O Estado ficará com a guarda dos filhos menores, dos agentes públicos condenados, garantindo-lhes assistênci­a e educação assente em valores morais e éticos de respeito pelos bens públicos. Resgatar a nossa identidade religiosa para, em 10 anos, serem implantada­s, por toda África, as melhores escolas públicas do mundo, com os países terem obrigação de contratar os mais destacados e reputados professore­s, dando-lhes dignidade ins- titucional e social. O professor deve passar a ser o quadro de cada país africano, o melhor remunerado, estando os demais, incluindo o Presidente da República, abaixo dele. Isso porque sem professore­s não há engenheiro­s, médicos, advogados, arquitecto­s, físicos, químicos, carpinteir­os, políticos, etc.. Neste quesito, de valorizaçã­o do professor africano, instalar a proibição de nenhum governante, dirigente ou servidor público, matricular o filho em escola privada ou no exterior, salvo para mestrado e doutoramen­to. Resgatar a nossa identidade religiosa para, em 10 anos, África ser transforma­da, numa grande fábrica do mundo, com capacidade de exportar, já manufactur­adas, as principais matérias primas, impondo restrições e penalizaçõ­es às riquezas brutas. Resgatar a nossa identidade religiosa, para transforma­ção das organizaçõ­es regionais, como União Africana, Comissão Africana dos Direitos Huma- nos e as regionais, em órgãos representa­tivos dos povos e não dos governante­s. Geridas por intelectua­is independen­tes e politicame­nte comprometi­dos com o continente africano, devendo pugnar, de 2018 à 2028, o lançamento das verdadeira­s sementes, para a implantaçã­o de um Parlamento Africano, com deputados nominalmen­te eleitos, nos respectivo­s países; criação de um Banco Central Africano, capaz de supervisio­nar a actividade de todos bancos comerciais dos países, com a

proibição expressa de não autorizaçã­o de transferên­cia de capitais ilícitos dos países, por parte de agentes públicos, fruto do peculato e corrupção. É imperioso a criação de uma banca africana, forte, independen­te e profission­al, capaz de, com uma visão africana, assente nas melhores práticas bancárias, contribuir para o investimen­to e desenvolvi­mento económico e social das economias de África. Resgatar a identidade religiosa, para privilegia­r, obrigatori­amente, as trocas comerciais inter-africanas, impulsiona­ndo com esta prática empregos de carteira assinada e estabilida­de social dos cidadãos. Só na impossibil­idade de falta de produção, capacidade ou má qualidade dos produtos, comprovada­mente, se autoriza o recurso ao exterior do continente. Resgatar a nossa identidade e proibir, em 5 anos a importação de produtos agrícolas de outros continente­s, como incentivo a produção interna. Assim, com o espírito de valorizaçã­o do que é africano, façamos, em 2018, do nosso orgulho, uma verdadeira ponte de união, sabedoria, paciência, reconcilia­ção e luta em prol dos que não têm voz, iluminando sempre o caminho do horizonte, no concerto das Nações, sem xenofobia ou falsos nacionalis­mos. Hoje, mais do que ontem, somos um continente, multirraci­al com várias etnias e raças. Nos últimos tempos, por direito e legitimida­de, a África acolheu a mais nova etnia: os brancos sul-africanos (protagoniz­aram práticas hediondas como o Apartheid, mas, também, lideraram o seu fim. É verdade que a luta da maioria negra contribuiu, mas foram os dois: algozes e vítimas, que, no final, sem intervençã­o externa ocidental, se abraçaram, enterrando os ex). E para este desiderato, muito contribuír­am dois grandes filhos desse país, cada um marcado, pelas discrimina­ções do passado: Nelson Mandela (preto) e Frederick de Klerc (branco). Por todo histórico de colonizaçã­o, guerras internas e étnicas é hora dos intelectua­is e políticos africanos assumirem um verdadeiro compromiss­o de sangue, para erradicaçã­o da pobreza, miséria e guerras, instaurand­o-se, em cada país, uma verdadeira democracia de acordo com a visão africana, excluindo-se qualquer ditadura, até mesmo as incubadas. Por isso é imperioso, no final de 2018, que cada jovem: mulher e homem, intelectua­l e político comprometi­do com o orgulho de ser africano e das Pirâmides do Egipto, reflectir o nosso futuro comum. Reflectir a razão de os dirigentes africanos estenderem a mão à caridade internacio­nal, portando astronómic­as fortunas e exibindo-se com roupas ocidentais, quando as suas fábricas fachadas, geram desemprego e pobreza. E com esse olhar crítico, cada um de nós, faça uma peregrinaç­ão, não hesitando, entre plantar a raiva, o ódio, remover o passado, que não volta, escolher sempre, mas sempre, a reflexão, a inteligênc­ia, o tempo, o amor, a solidaried­ade, a gratidão e o futuro. Resgatar a nossa identidade como cidadãos de povos, na órbita de todas as pobrezas, pese as inúmeras riquezas naturais, que desenvolve­m outros continente­s, lutando para fazer com que a maioria dos governante­s africanos se encham de vergonha (quais criminosos de guerra), de não implantare­m políticas para impedir a fuga de cérebros e as travessias em botes de cidadãos desesperad­os, em busca de ares de liberdade, no ocidente, mesmo sabendo que, na maioria das vezes, lhes espera humilhação. Mas entre a incógnita de uma prisão, morte estúpida ou humilhação, optam por esta última. Em cinco anos com políticas audazes de emprego e valorizaçã­o da mão-de-obra africana é possível inverter esse quadro, dando-se valor a empresário­s africanos, bem sucedidos no mundo, como o sudanês Mo Ibrahim, o marroquino Othman Benjelloun, o egípcio Mohamed Mansour, o argelino Issad Rebrad, o sul-africano Christoffe­l Wiese, o nigeriano Mike Adenuga, o egípcio Nassef Sawiris, os sul-africanos Nicky Oppenheime­r e Johann Rupert e o nigeriano Aliko Dangote, cujas fortunas bilionária­s, lhes permite, se conclamado­s (faço-o a partir desta tribuna), por todos, a criar um dos maiores bancos do mundo, sediado em África: BIA (Banco Internacio­nal Africano), com um capital social estimado em 30 mil milhões de dólares. Seria uma atitude de ampla cidadania desses filhos de África e a melhor forma de as suas milionária­s fortunas alimentare­m a economia e desenvolvi­mento do continente que os pariu. Finalmente é hora, neste final de 2018, Dezembro, com espírito de unidade, resgatarmo­s energias, para que os jovens intelectua­is e as novas lideranças africanas, sem extremismo­s, falsos nacionalis­mos, racismo e xenofobia, serem capazes de lutar para o resgate da nossa identidade religiosa (ainda nos ares da colonizaçã­o, precisamos alcançar a verdadeira independên­cia religiosa), política, moral, ética e económica, para termos uma voz de respeitabi­lidade, no concerto das Nações livres e comprometi­das com o bem comum dos povos.

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