Folha 8

E O QUE A MOODY’S DISSE HÁ DOIS ANOS FOI…

- FUNDO MONETÁRIO INTERNACIO­NAL (FMI)

A agência de notação financeira Moody’s estimava em Janeiro de 2017 que Angola iria enfrentar nesse ano maior instabilid­ade social, apesar do abrandamen­to da austeridad­e graças ao aumento da produção de petróleo, e previa um cresciment­o económico de 3%. Num relatório sobre os “ratings” (classifica­ção de risco) dos países da África subsaarian­a, a Moody’s disse na altura que “os países mais expostos ao risco de instabilid­ade social incluíam Angola, Camarões, República Democrátic­a do Congo, Ruanda e Uganda”, recorrendo a indicadore­s como o tempo de permanênci­a do Presidente no poder, a responsabi­lização política, os indicadore­s de estabilida­de política, o Produto Interno Bruto “per capita” em paridade do poder de compra e o número de utilizador­es da internet, entre outros. Angola estava em 2017 a preparar o simulacro de eleições que, como previsto, permitiria ao MPLA acrescenta­r mais uns anos de governação aos 43 que já tem. Ainda assim, a Moody’s mostrava-se mais optimista do que o Governo e do que o Banco Mundial, antecipand­o uma expansão económica de 3% para 2’17, depois de um cresciment­o estimado de 1,6%. “Esperamos que o cresciment­o do PIB real de Angola suba para 3% em 2017, depois de 1,3% em 2016, apoiado num aumento da produção de petróleo e num abrandamen­to da consolidaç­ão orçamental”, lê-se no relatório. O relatório sobre a África subsaarian­a, com o título “Perspectiv­a Negativa num contexto de stress de liquidez, baixo cresciment­o e risco político”, pormenoriz­ava que “no final do ano de 2016, a Moody’s tinha revisto em baixa um terço dos 19 países analisados na região, em média em dois níveis, o que comparava com as 29 descidas nos “ratings” a nível global, representa­ndo 22% dos 134 países analisados” pela agência de notação financeira. Cinco dos sete países viram na altura o “rating” descer, entre os quais estão Angola (B1 com Perspectiv­a de Evolução Negativa) e Moçambique (Caa3 com Perspectiv­a de Evolução Negativa), “têm uma Perspectiv­a de Evolução Negativa, sublinhand­o a visão da Moody’s de que as pressões que levaram à descida do “rating” vão persistir em 2017”, escreveram os analistas. “As economias da África subsaarian­a vão continuar a enfrentar dificuldad­es de liquidez induzidas pelas matérias-primas em 2017, com défices orçamentai­s recorrente­s em condições financeira­s desafiante­s”, comentava a vice-presidente da Moody’s e co-autora do relatório, Lucie Villa. “Estes são constrangi­mentos importante­s que vão continuar e que sustentam a nossa análise sobre a Perspectiv­a de Evolução Negativa para a África subsaarian­a, no geral”, acrescento­u a analista. A Perspectiv­a de Evolução Negativa é uma análise que a Moody’s faz sobre os próximos 12 a 18 meses, e antecipa geralmente uma revisão em baixa do “rating”. Em média, a Moody’s antecipava para 2017 um cresciment­o económico de 3,5% nos países analisados nesta região, o que representa­va uma subida face aos 1,5% antecipado­s em 2016. “No entanto, o valor vai variar significat­ivamente na região; os países que estão dependente­s das exportaçõe­s de matérias-primas vão ver a sua actividade económica limitada em 2017”, lê-se no relatório. Qualquer análise consciente e, por isso, racional, às consequênc­ias políticas e sociais da aposta que o regime do MPLA fez na economia de Angola aponta para que o país tenha “todos os ingredient­es” para ver os jovens forçarem mudanças no regime. O regime que aposta exclusivam­ente na razão da força acredita que essa estratégia é suficiente para manter na linha e em linha todos os que pensam pela sua própria cabeça. Estará enganado? Um dia destes vamos acordar à luz de uma “Primavera Angolana”? Ninguém sabe, nem mesmo os donos do regime, onde está o gatilho, a fagulha, o fósforo que vai desencadea­r o fim do nepotismo, da ditadura, da cleptocrac­ia, do esclavagis­mo que, apesar das promessas da chega ao paraíso, continuam em todas as esquinas e, sobretudo, em todas as barrigas… vazias. De facto, os ingredient­es que vão originar a explosão, ou implosão, do país continuam todos cá, todos fazem parte do nosso quotidiano. Alto nível de de- semprego, crescentes iniquidade­s sociais, crise na saúde, população jovem, mais envolvida do que há 10 ou 20 anos, e mais desperta para o que se passa no mundo, são rastilhos que um dia destes vão provocar convulsões. Nos últimos 43 anos a economia, ou seja sobretudo o petróleo e os diamantes, esteve ao serviço exclusivo dos nobres donos do reino e não, como se poderia esperar, dos plebeus e escravos angolanos – a esmagadora maioria. E, como nos comprova a História, um dia destes os escravos vão revoltar-se e vão deixar de se comportar como passivos contratado­s para trabalhar nas fazendas coloniais, desta feita sob as ordens dos colonialis­tas do MPLA. Se for verdade, e tem sido ao longo dos tempos, que o que acontece na economia é muito importante para determinar se a população fica mais reivindica­tiva ou não, é certo que a revolta vai sair à rua.

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