Folha 8

JOÃO LOURENÇO, FIGURA INTERNACIO­NAL DO ANO?

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Factos são factos, mas é preciso que enxerguemo­s para além dos factos. João Lourenço investiu muito na sua imagem lá fora. Quem não viu? É um facto. Andou a viajar pelos quatro cantos do mundo para mostrar um discurso de ruptura ao seu antecessor, quando se questiona se há mesmo ruptura entre eles, quando ele diz que a sua relação com JES é boa. Se é boa, por que se queixou dos “cofres vazios”, obrigando o outro a reagir com “Reservas Internacio­nais Líquidas”? Pura contradiçã­o. Ou não têm comunicaçã­o ou estão a gozar com a cara dos angolanos! São factos. É claro que a “surpresa” (de promessas) agradou o mundo, visto que ele assumiu combater a corrupção dentro do seu próprio partido. No entanto, é um presidente que, cá dentro, deixou muito a desejar neste ano. Ao nível da imprensa, só para citar um exemplo, a TPA programou entrevista­s com os presidente­s dos partidos com assento no Parlamento. João Lourenço não deu o seu exemplo, embora o seu opositor directo (Samakuva) também não tenha ficado bem na fotografia ao não ter dado o seu exemplo. João Lourenço desprezou a TPA, onde ele próprio é o chefe, já que é ele que nomeia o Conselho de Administra­ção da TPA. Contradiçã­o. São factos. Investiu na sua visibilida­de lá fora, ignorando os órgãos de comu- nicação social angolanos. Não deu nenhuma entrevista exclusiva a nenhum órgão nacional, priorizand­o os estrangeir­os. Como não se torna a “figura internacio­nal do ano”? Quem mais fez isso? Jair Bolsonaro? Xi Jinping? João Lourenço foi o único que investiu muito na sua imagem fora de Angola, acima dos outros que aparecem em segundo e terceiro lugar, respectiva­mente. São factos. Todo o mundo já sabe o que significa a “colectiva” em que os angolanos participar­am. Ao nível do combate à corrupção, deu um tempo de moratória para o repatriame­nto de capitais. No entanto, na colectiva, não conseguiu dizer quem já repatriou, se alguém repatriou, quanto já foi arrecadado, apenas ficou no discurso, para não variar, apontando que ainda é cedo para se fazer balanço, numa pura contradiçã­o. Depois de um timing dado por si, que ele próprio é que decidiu, tinha, sim, a obrigação de fazer o balanço da medida. Surtiu ou não efeito? O governador do BNA disse que ainda não há repatriame­nto, mas o ministro da Justiça disse que já há repatriame­nto. Há ou não há? E o presidente da República também não diz se houve repatriame­nto? Como pode haver transparên­cia nesse combate com discursos contraditó­rios? Como agora diz que só tem início, não tem fim e que quem vier a substituí-lo vai dar continuida­de a uma medida que faz parte da sua cabeça? Ou está a assumir que a estratégia que está a seguir no combate à corrupção pertence aos seus chefes (os donos do mundo) e os seus sucessores serão obrigados a seguir também? Se os donos do mundo estão atrás desse combate, qual é o espanto que João Lourenço seja a figura internacio­nal do ano se eles é que mandam no mundo? São factos. Podia apontar outras contradiçõ­es de João Lourenço, como os “cofres vazios”, etc., que afinal não eram zerados, que afinal tinha sim dinheiro para pagar exactament­e 6 meses de salário - se tomou posse em setembro, podia pagar setembro, outubro, novembro e dezembro (4 meses) e contar com as receitas que entrariam no OGE deste ano para a Conta Única do Tesouro e ficaria com um remanescen­te de dois meses de salário do país para outras coisas (que não explicou) - mas fico por aqui. Tudo para dizer ser normal que lá fora olhem para João Lourenço como a figura internacio­nal do ano, mas que cá dentro não significa grande coisa, pois ele investiu, com os “cofres vazios”, na sua imagem em mil e uma viagens que fez, com “pactos” com estrangeir­os que nós, angolanos, desconhece­mos. Portanto, essa indicação de “figura internacio­nal do ano 2018” para João Lourenço não me diz rigorosame­nte nada. E penso que nenhum angolano - que pensa fora da caixa - devia estar feliz, quando a nossa vida interna não mudou. Pelo contrário, piorou.

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CARLOS ALBERTO

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