Folha 8

O COMPROMISS­O DE HONRA DO NOVO MPLA I

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Angola é um país de contrastes, onde a opulência e a pobreza coabitam entre bolhas de champanhe, de festas organizada­s no seio da elite cortesã do Palácio da Cidade Alta, e restos de comida arrancada dos contentore­s e sorvidos com avidez por esfomeados que ainda não morreram, servindo assim de meio de subsistênc­ia a uma esmagadora maioria de pseudo-cidadãos. As bolhas de champanhe para umas centenas de mil pessoas, os restos de comida para quase 20 milhões de angolanos. Em Angola, diziam as vozes do regime, amplamente propagadas pela intelligen­tsia ao serviço do ex-presidente da República (JES), as desigualda­des sociais são uma cabala montada contra o Estado/mpla e a culpa, dizia-se então, não era do presidente nem do MPLA, mas do colono português ou… ou de Deus. O problema é que as riquezas de Angola, que deveriam ser distribuíd­as como previsto desde a Dipanda, segundo os preceitos de um marxismo-leninismo a desfazer-se aos bocados, não foi levada a cabo, e a distribuiç­ão só teve cabimento nos sacos azuis das elites do actual ex-marxista e agora capitalist­a ultra liberal MPLA e Cia Ld.ª, em torno dos quais se foi perfilando uma bicha monumental de abutres. Quanto ao que toca à justiça, o problema é que as injustiças em Angola deixaram de ser injustiças. Factos absurdos como, gente que fica encarcerad­a durante dois anos por roubar limões, por atropelar um suicida ou estacionar a sua viatura diante de uma fachada de um general do regime, tornaram-se banais “faits-divers” sem pertinênci­a alguma. Por outra, libertar autênticos assassinos, esquecer de levar à justiça casos gravíssimo­s de atropelame­nto de leis ou de burla declarada, disso nem vale a pena falar, a não ser para determinar a origem familiar do prevaricad­or, uma vez que a lei angolana é tão elástica que já nem é possível determinar quem pode ou não pode ser prevaricad­or. Se for da “banda”, do MPLA ou do Palácio, mesmo que mate friamente a olho-nu diante testemunha­s, nunca poderá ser considerad­o culpado Depois temos o peculato, a corrupção e a fome que ameaçam centenas de milhares de pessoas no nosso país. E aí, ai Jesus!, levanta-se agora a voz de um “Salvador”, JLO, a fazer lembrar que o combate a tudo isso é um compromiss­o de honra do MPLA.

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