A EDUCAÇÃO PATRIÓTICA
Estávamos em 2016. O Ministério do Interior de Angola (que é parte activa e integrante do Comité de especialidade do MPLA) veio a terreiro no dia 27 de Junho, através do então director do Gabinete de Estudos, Informação e Análise, comissário Aristófanes dos Santos, dizer o que todos esperavam. Ou seja, a culpa dos incidentais mortais então ocorridos em Benguela era da UNITA. Aristófanes dos Santos era um dos melhores pe- ritos que o regime da altura, dirigido por sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, tinha à sua disposição. Ninguém era tão eloquente ventríloquo e mímico. Tal como hoje, finge que pensa, finge que fala, mas o que se ouve é a voz do seu patrão, agora de nome João Lourenço. Assim, segundo o recado que mandaram Aristófanes dos Santos transmitir, “os militantes da UNITA é que provocaram a desordem, arrancando duas bandeiras do MPLA” e, como convém neste simulacro de democracia e de Estado de Direito, apresentou um rol de supostas testemunhas cuja credibilidade é inquestionável: eram todas, mas todas, do MPLA. Para abrilhantar a farsa, o regime ordenou igualmente que a comunicação social do reino ajudasse a difundir a mentira, convicto que estava (e que continua a estar) que uma mentira dita mil vezes acabará por se tornar verdade. Como dizia o poeta popular
português António Aleixo, ”Para a mentira ser segura / e atingir profundidade / tem de trazer à mistura / qualquer coisa de verdade.” Março de 2016. As Forças Armadas Angolanas foram exortadas, no Huambo, a “revestir-se” (o termo é da Angop) de alto sentido de fidelidade patriótica que o conduz a nunca trair o juramento prestado à Bandeira Nacional e os interesses superiores da Nação. Hoje, tal como ontem, importa manter na ribalta a “educação patriótica”, seguindo as metodologias das ditaduras. A exortação veio do então Chefe do Estado-Maior General adjunto das FAA para Educação Patriótica, general Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, quando falava na abertura do 16º seminário metodológico dos órgãos de Educação Patriótica das FAA, que decorreu sob o lema “Pelo reforço da organização e disciplina – revitalizemos o trabalho de educação patriótica das FAA”. O general lembrou aos militares que ao abandonarem a unidade onde estiverem colocados ou a farda a si atribuída por imperativo do compromisso assumido com à Pátria, cometem acto de deserção, susceptível de constituir crime militar, por ser infiel ao seu juramento. “O militar que age desta forma não é um patriota que esteja realmente comprometido com a defesa dos mais altos interesses da Nação angolana e nem é digno de ser considerado um bom cidadão, capaz de contribuir com o seu esforço na defesa da independência nacional, da integridade do solo pátrio, nem tão pouco no desenvolvimento económico-social do país e do bem-estar da população”, asseverou o general nesta lição de patriotismo. Incorrem no mesmo crime, segundo Egídio de Sousa Santos, os indivíduos que colaboram com este tipo de militares, facilitando a sua colocação noutras unidades, sem a prévia anuência do comandante da unidade de origem, visto que a instituição castrense existe para cuidar do homem em todas as suas dimensões, designadamente física, espiritual, moral e humana. Neste sentido, o responsável militar orientou os órgãos de Educação Patriótica a trabalhar, de forma conjunta com os de Educação Jurídica, para elevar os sentimentos de patriotismo, civismo, liberdade e de justiça. O general afirmou que os órgãos de Educação Patriótica são importantes ferramentas para que o efectivo tenha um comportamento baseado no cumprimento da missão na estrita observância consciente das normas e regulamentos militares. “Esta coordenação entre os órgãos patrióticos e jurídicos das FAA deve ser comparada aos fármacos combinados no organismo humano, quando se pretende combater determinadas enfermidades, de modo a que os oficiais, sargentos e praças compreendam e aceitem a observância das normas da vida castrense que em nenhuma outra instituição social se podem exigir”, disse. Participam no seminário, comandantes adjuntos para Educação Patriótica dos três ramos das FAA (Exército, a Força Aérea e Marinha de Guerra), chefes das direcções de educação patriótica, das repartições da direcção principal desta área e comandantes adjuntos das unidades de subordinação central.