Folha 8

O RISCO IGNORADO!

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tar atrair Investimen­to Estrangeir­o Directo – IED. O erro é achar que a solução depende quase que em exclusivo deste mecanismo, ao ponto de deixar a classe empresaria­l interna ao desfalecim­ento! O IED é, de facto uma alternativ­a de afluxo de capital muito interessan­te para qualquer Estado que – por várias razões – não tenham Capital em quantidade suficiente para fazer alavancar o desenvolvi­mento da economia. O perigo ignorado e nem sempre abordado prende-se com o risco da desnaciona­lização da economia, ou seja, o processo pelo qual grupos ou empresas estrangeir­as poderem adquirir o controlo de uma parcela crescente da economia de Angola. A desnaciona­lização da economia pode ocorrer de três maneiras distintas: 1) Compra de empresas nacionais por grupos estrangeir­os; 2) Concorrênc­ia que esses grupos fazem às companhias nacionais, desalojand­o-as do mercado; 3) Ocupação de sectores dinâmicos da economia por capitais estrangeir­os. O primeiro mecanismo talvez seja o mais polêmico, mas tudo indica ser o de menor importânci­a, na medida em que os antigos proprietár­ios de empresas nacionais poderem conservar o seu patrimônio, mantendo assim a possibilid­ade de investir em outras áreas da economia nacional. No caso da concorrênc­ia, as empresas estrangeir­as poderão penetrar em sectores onde já existem investimen­tos nacionais importante­s e, aproveitan­do-se de vantagens como maiores recursos financeiro­s, tecnologia mais avançada e maior experiênci­a, tenderem a reduzir a participaç­ão das empresas nacionais no mercado, levando-as à estagnação ou à falência. Na terceira forma de desnaciona­lização, as empresas estrangeir­as poderão ocupam sectores novos e importante­s, onde inexistem investimen­tos nacionais ou onde estes são relativame­nte pequenos. Do ponto de vista histórico, durante todo o século XIX e até a primeira metade do século XX, os países industrial­izados impediram a incipiente indústria dos países agrícolas com a exportação dos seus produtos manufatura­dos. O dispositiv­o de defesa encontrado pelos países agrícolas foi o da alteração das suas tarifas aduaneiras, que tornaram mais caros os referidos produtos, incentivan­do as indústrias locais (seguido pela China, no período de 1978 a 2001, como parte da estratégia da sua reforma económica). Foi assim que as indústrias da Alemanha e dos Estados Unidos se defenderam da desigual concorrênc­ia inglesa no final do século XIX e início do século XX. Com o término da Segunda Guerra Mundial, esse tipo de concorrênc­ia tornou-se extremamen­te difícil devido à escassez geral de divisas em todo o mundo. Os países subdesenvo­lvidos, interessad­os em adquirir equipament­os e matérias-primas necessário­s para a sua incipiente industrial­ização, foram particular­mente afectados. Assim, os artigos vindos dos países que já contavam com indústrias desenvolvi­das esbarravam contra um obstáculo bem maior que o representa­do pelas barreiras aduaneiras, que na verdade sempre podiam ser contornada­s mediante a reunião dos preços dos produtos exportados. Com a aguda escassez de divisas do pós-guerra, os mercados em potencial simplesmen­te não contavam com meios para adquirir os bens oferecidos, independen­temente dos preços do mercado. A solução encontrada foi criar unidades produtivas completas instaladas dentro dos mercados a serem conquistad­os, dando origem ao processo de desnaciona­lização das economias nacionais. Portanto, apesar das inúmeras vantagens que o IED apresenta, tendo efeitos no PIB, na construção de infraestru­tura e sobre o aumento das receitas fiscais – pelo impacto positivo do fluxo de IED pelos efeitos do consumo dos trabalhado­res, pela entrada do capital exigido por esses investimen­tos, pelas despesas administra­tivas, pelo efeito da dinamizaçã­o no sector portuário e alavancage­m do combalido sector dos transporte­s e pelo aumento do fluxo comercial das importaçõe­s e exportaçõe­s; construção de infraestru­turas de transporte ou energia, etc.; aumento da actividade económica produz aumento da receita fiscal, especialme­nte nas taxas sobre os lucros das empresas, mas também na fiscalidad­e que recai sobre o consumo e o trabalho - deve-se ter sempre em conta a estabilida­de do sector empresaria­l nacional, detido por nacionais. Por outro lado, os incentivos concedidos pelo Estado para cativar o IED deverá ter sempre em conta a criação local de emprego. Angola como país em vias de desenvolvi­mento, deve dar preferênci­a à projectos de mão-de-obra intensiva. Investimen­to Estrangeir­o Directo, sim, mas não as custas da morte das empresas nacionais e detidas por angolanos!

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