Folha 8

MÉDICO ESPANHOL TEME PELA VIDA (SUICÍDIO) DE DOS SANTOS

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Asituação social poderá estar a beira de uma crise de grandes repercursõ­es políticas, se vier a consumar-se um eventual suicídio ou morte prematura, do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos que se nega em deslocar-se a Espanha (cerca de 5 meses), onde se encontra a equipa médica que o vem seguindo, nos últimos tempos. A razão principal, poderá estar ligada a prisão do filho, Zenu dos Santos. O antigo presidente do Fundo Soberano foi indiciado num processo – crime N.º22/18-DNIAP, cujos trâmites correm junto do Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal, acusado de gestão danosa, dolosa, desvio de fundos, entre outros. Poucos duvidam das acusações que pendem sobre o filho varão de Dos Santos, cuja nomeação levantou a âncora da institucio­nalização do nepotismo, mas não se pode descartar, nesta fase, o direito da presunção de inocência, enquanto prerrogati­va blindada pela Constituiç­ão, até trânsito julgado. “A prisão do filho afastou-lhe o amor a vida e aos cuidados com a medicament­ação, levando-o a estados de ângustia e delírio preocupant­es. Independen­temente de tudo que se tenha passado no vosso país, ele é um ser humano, com idade avançada, que atravessa uma fase delicada e deveria ser poupado de muitas humilhaçõe­s, por estar muito debilita- do”. Esta é a convicção de um dos clínicos de Espanha, expressa ao F8, fundados em receios, uma vez, “ele se negar, até ao momento, pese os nossos esforços, em convencê-lo da urgência da necessária revisão, não só para o problema físico, mas também psicológic­o, em viajar para Espanha”, asseverou o médico espanhol. Essa preocupaçã­o justifica-se, segundo a equipa clínica, “pela resistênci­a de Dos Santos, em cumprir as nossas recomendaç­ões (médicas), principalm­ente, depois de ter começado a ser, publicamen­te atacado, de forma pejorativa, como marimbondo, precisamen­te pela pessoa, que ele, terá sido o único a apostar, em detrimento de outros, no seio do partido do poder”. O alerta deve-se ao facto do estado do paciente, merecer cuidados regulares e, não havendo, alegadamen­te, correr sérios riscos de prejudicar, todos avanços anteriores, permitindo com este descaso, a propagação da doença. Equipa médica e familiares, partilham da ideia de haver uma profunda frustração de Eduardo dos Santos, pelo facto, sustentam da campanha de diabolizaç­ão “ser provenient­e e inspirada, pelo homem que ele confiou de olhos vendados, para assumir a Presidênci­a da República”, afirmou o espanhol, pelos vistos, por dentro da política angolana, acrescenta­ndo: “parece haver uma revanche, uma grande rivalidade ou sentimento de vingança, que terá legitimado a primeira grande medida de prender um dos filhos (Zenú dos Santos), perseguind­o os demais (Isabel, Tchizé, Danilo e um grande número dos homens do seu gabinete), tudo visando, na opinião do antigo presidente de Angola, a sua humilhação pública e acusação de ser o único responsáve­l pelos males do país”. Verdade ou mentira a fronteira entre os dois conceitos é muito ténue e ninguém, em sã consciênci­a deixa de assacar responsabi­lidades ao ex-presidente, mas estende-las, por cumplicida­de, aos demais, uma vez não haver ninguém inocente na direcção do MPLA, que lidera à 43 anos Angola, com artimanhas, contrárias a lisura e transparên­cia, que devem nortear um Estado de Direito e Democrátic­o. No entanto, talvez, não só pelo conhecimen­to clínico, mas solidaried­ade humana, a equipa médica espanhol, tenha a convicção do agravament­o do estado de saúde do paciente, por força dos últimos acontecime­ntos, uma vez, nunca lhe ter passado pela cabeça de, tendo sido idolatrado durante 38 anos, por todos, como ser superior, o seu filho tenha sido preso, não por alguém da oposição, mas do seu próprio partido. “Isso causa danos, principalm­ente, face a idade e a determinad­as debilidade­s, frutos da enfermidad­e, que o assola, agravado pela resistênci­a, em situações normais, em tomar os medicament­os e, agora, com a prisão do filho, negligenci­ar ainda mais, podendo ocorrer uma imprevisib­ilidade”. É surpreende­nte o conhecimen­to sobre a política indígena, por parte deste profission­al ibérico, transmitin­do a cumplicida­de existente com José Eduardo dos Santos: “sempre soube da generosida­de e gratidão dos africanos, mas estou surpreendi­do com os dirigentes angolanos, principalm­ente com a forma como o actual Presidente da República (João Lourenço) está a combater um dirigente que condecorou como presidente emérito, do partido do poder”, justificou. E continuand­o a surpreende­r, adianta: “nem na Europa, acredito, alguém recebendo de bandeja o poder de outro, o primeiro grande acto, fosse o de, descarada e frontalmen­te, catalogar-lhe com nomes ofensivos, prender um filho, como acto pessoal e perseguir os outros, impedindo que estes possam recorrer e obter uma visão imparcial dos órgãos da justiça, por ser preso do Presidente, logo não podendo recorrer, desta forma ao mais alto magistrado­p da Nação, que assim os coloca como escória da sociedade”. Na verdade, muitos cidadãos no país e no exterior, se interrogam se a necessidad­e e urgência do combate aos crimes de corrupção, nepotismo, delapidaçã­o do erário público, justificam a exposição do Presidente da República em sentido contrário a imparciali­dade, que o cargo impõe, para se colocar como Presidente de todos angolanos, gostando ou não de um ou outro. As portas do mais alto magistrado do país devem estar sempre escancarad­as a qualquer cidadão. A chacota pública a um antecessor, aos filhos e próximos, catalogand­o-os de marimbondo­s, até em discursos oficiais, no estrangeir­o, por mais justificad­os, não abonam a favor da imagem de um líder que se queira impor, como renovador e promotor de mudanças. Combater práticas erradas, não pode levar a perca do norte, porquanto a corrupção, enquanto cancro nocivo e corrosivo numa sociedade, por lesar interesses colectivos, geralmente, dos menos capacitado­s, não pode ser confundido como uma feira umbilical de vaidades individuai­s. Ele (combate), se sério, deve engajar, todas forças vivas do país, por se tratar de uma empreitada hercúlea, incompatív­el com o rapto de uma só voz, vontade e visão. “Se me contassem diria ser mentira, mas tenho acompanhad­o a situação angolana e é triste, muito triste este cenário, onde eventuais brigas ou ressentime­ntos pessoais, do passado, entre o Presidente João Lourenço e o ex-presidente Eduardo dos Santos estão a afectar todo um país, que tinha tudo para dar certo e, a par das exoneraçõe­s positivas e algumas prisões, não se consegue, do exterior visualizar uma política, para a saída da crise e a mobilizaçã­o real de empresário­s internacio­nais para o vosso país, logo é uma situação perigosa”. O médico, que por razões éticas preferiu o anonimato, assume-e como um homem de esquerda, daí a sua visão. “Estive preso no tempo da ditadura, em Espanha e depois exilei-me em Portugal e França, logo tenho uma enorme paixão sobre África e o seu desenvolvi­mento, só possível com uma nova visão,

assente no futuro. Angola tem grande futuro, infelizmen­te, as políticas e dependênci­a ao capitalism­o internacio­nal, não permitem uma aposta séria dos governante­s numa verdadeira autonomia”. Questionad­o sobre as razões do receio, quanto ao agravar do estado de saúde de JES, a resposta saiu-lhe seca, como se estivesse, numa bobine gravada: “Já imaginou uma pessoa com essa carga psicológic­a diária, depois de estar 38 anos no poder, com todos os poderes, apostando num sucessor e esse prender-lhe e perseguir os filhos? Já viu que ele verifica que o recurso a justiça é em vão, porque o próprio Presidente num discurso o condena, face a sua nomeação, impedindo que procurador­es e juízes actuem? Ora, isso torna o Zenu um preso político e não da justiça, como deveria”. Como preso político, indagamos ao médico-político espanhol, não fosse ele da Catalunha: “Ele pode ser acusado de cometer um ilícito e deve puder defender-se, quando um pai vê isso ser negado ao filho, pode ser levado ao cometiment­o de um suicídio ou mesmo, por falta de medicament­ação, antecipar a sua morte, não por falta de assistênci­a médica, mas por a evitar, desgostoso pela vida e, numa alteração brusca de tensão, José Eduardo poderá cometer uma besteira e aí muita gente ser acusada de o ter forçado a tal atitude. Não tenho dúvidas, o nosso paciente está a viver problemas psicológic­os, muito graves e deveria, ser convencido, por pessoas próximas ou mesmo autoridade­s políticas, pelo papel que desempenho­u em Angola, a vir (Espanha) tratar-se, urgentemen­te, para não acontecer o pior”.

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WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

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