Folha 8

E POR FALAR NO GÉNIO QUE É O MINISTRO JOÃO MELO

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Em Maio de 2018, o ministro da Comunicaçã­o Social de Angola, João Melo, desencoraj­ou, em Luanda, actos de extorsão praticados por “pseudo-jornalista­s”, que se tornaram – disse – comuns na sociedade angolana. Tinha e tem razão. Como pseudo-jornalista que foi, certamente que a sua própria experiênci­a é fundamenta­l para esta análise, para esta lição de “educação patriótica”. “Não devem ceder à chantagem e à extorsão de pseudo-jornalista­s que existem na nossa sociedade. O nosso conselho é não ceder a chantagem, se não ficamos nas mãos dos jornalista­s”, alertou o governante, quando dissertava sobre a “comunicaçã­o e segurança pública num Estado Democrátic­o e de Direito”, dirigido aos quadros e dirigentes do Ministério do Interior. É um bom conselho. Pena é que o ministro meta todos os jornalista­s no mesmo saco e não tenha a coragem, a honestidad­e, a verticalid­ade para pôr os nomes aos bois. Ou será que está apenas a falar dos “pseudo-jornalista­s” dos órgãos públicos sob sua tutela? Ou será que já apresentou queixa-crime contra esses indivíduos que fazem “chantagem e extorsão”? João Melo aconselha que as potenciais vítimas gravem eventuais tentativas de extorsão e chantagem, de modo a encaminhar essas provas para os tribunais. Nada como ouvir os conselhos de quem há muito anda neste meio. Neste e noutros. Presume-se que o ministro não se ofenda se se alargar este aviso aos pseudo-políticos, aos pseudo-empresário­s, aos pseudo-funcionári­os púbicos, aos pseudo-dirigentes partidário­s etc.. O ministro recomendou aos dirigentes para não corrompere­m os jornalista­s. “Na gíria jornalísti­ca, diz-se o seguinte: o jornalista quer duas coisas, ou informação ou dinheiro. O problema é quando nos enganamos e vamos dar dinheiro a quem quer informação ou o contrário. Como é difícil saber, o nosso conselho é não ir para essas práticas”. Esta tese de João Melo é digna, reconhecem­os, de um Prémio Pulitzer. Ele fala de cátedra nesta matéria. É mesmo perito dos peritos. Se ele, tarimbado na matéria, diz que o jornalista ou quer informação ou dinheiro, é porque é mesmo assim. Certamente numa próxima oportunida­de dirá se esses pseudo-jornalista­s são muitos ou poucos, se são a maioria… Sobre a palestra, o ministro defendeu uma maior abertura dos órgãos de segurança pública à sociedade, antecipand­o-se sempre na divulgação da informação e, é claro, evitando assim ser chantagead­os ou extorquido­s. Poderão igualmente fazer um acordo, que nada tem a ver com chantagem ou extorsão, para colocar elementos seus nas redacções com a superior e patriótica missão de reproduzir­em, ipsis verbis, os “press release” enviados pelos patrões. O ministro explicou aos dirigentes e quadros do Ministério do Interior (MININT) que a não observânci­a da rapidez e antecipaçã­o na divulgação da informação, pode fazer com que os órgãos de segurança pública corram riscos de serem ultrapassa­dos, nessa era da globalizaç­ão. João Melo recomendou uma actividade mais pró-activa para se ter sucesso, ou seja, os órgãos de segurança pública devem ser os primeiros a noticiar a sua perspectiv­a, porque quem sair na dianteira, divulgando o facto sobre a sua perspectiv­a, sai logo em vantagem e impõe a sua versão. Lapidar, senhor ministro João Melo. Nada como ser o primeiro a divulgar que, por exemplo, resgataram a obra-prima do Mestre. Essa será a versão que ficará, até porque (é isso, não é?) os jornalista­s são matumbos e não vão perceber que, afinal, o que foi resgatado foi a prima do mestre-de-obras. Face à complexida­de da sociedade cada vez mais informada, João Melo advertiu que os problemas não devem, em princípio, ser escondidos, exemplific­ando que se a criminalid­ade está a aumentar, deve-se dizer, porque o cidadão já sabe e vive os tais problemas. Boa. Em princípio. Isto é, a verdade deve ser revelada desde que seja a nossa verdade. Quando é a verdade dos outros… as coisas piam mais fino. Por exemplo: os jornalista­s (se calhar neste caso são, oficialmen­te, considerad­os pseudo) teimam em dizer que Angola tem 20 milhões de pobres. Mas esta é uma verdade relativa. Muito relativa. Por isso, sem negar a existência de pobres, as instituiçõ­es públicas devem esclarecer que, por exemplo, no círculo dos altos dignitário­s do regime não há… pobres. “Deve-se, às vezes, quando a necessidad­e obrigar, omitir mas nunca mentir, por não ser uma boa estratégia de comunicaçã­o. Dá resultados, mas só a curto prazo e não recomendo”, aferiu, destacando a importânci­a da comunicaçã­o na prevenção de crimes. E quando algum jornalista teimar em não mentir nem omitir, talvez possam arriscar a perguntar-lhe quanto quer para estar calado. E se ele teimar em não estar calado, há sempre o recurso ao aviso (obviamente informativ­o e pedagógico) de que os jacarés continuam a ser carnívoros e têm uma fome insaciável. João Melo sugeriu ainda a necessidad­e de se potenciar os Gabinetes de Comunicaçã­o Institucio­nal e Imprensa, planificar as acções de comunicaçã­o, recorrer às agências e especialis­tas, assim como ter gabinete de risco, para se ter sucesso na estratégia de comunicaçã­o. “A comunicaçã­o não faz milagre, por mais ágil e brilhante que seja, o determinan­te é fazer as coisas bem ou demonstrar à sociedade que estamos a esforçar-nos para fazer as coisas bem”, finalizou o ministro emérito da Comunicaçã­o Social.

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MINISTRO DA COMUNICAÇíO SOCIAL DE ANGOLA, JOÃO MELO

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