Folha 8

AS NEGOCIATAS DE LOURENÇO, CHANG , VICENTE & SIMILARES

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Aconsultor­a EXX Africa alerta que Angola pode enfrentar riscos reputacion­ais por o Ministério da Defesa angolano, quando o actual presidente João Lourenço era ministro, ter feito um negócio de 495 milhões de euros com as empresas envolvidas na dívida oculta em Moçambique. Pois é. Uma chatice! Nada que não se resolva com uma lapidar explicação “made in MPLA”. Esse João Lourenço não é o mesmo. O actual Presidente (do MPLA e da República) “só” chegou à política angolana em 2017. Portanto… “Há indicações cada vez maiores de envolvimen­to de líderes políticos angolanos no escândalo moçambican­o que ainda não foram totalmente divulgadas”, escreve a consultora EXX Africa num Relatório Especial sobre a ligação entre a empresa Privinvest e o Governo de Angola, quando o actual Presidente da República, do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, era ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos. Recorde-se que no âmbito de uma investigaç­ão federal, o Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos da América solicitou a prisão preventiva de Manuel Chang, ex-ministro das Finanças de Moçambique entre 2005 e 2010 durante o mandato do presidente Armando Guebuza, por suspeitas de corrupção e branqueame­nto de capitais com vista ao enriquecim­ento ilícito. Chang, que estava em trânsito da África do Sul para o Dubai, foi detido em Joanesburg­o no dia 29 de Dezembro de 2018. Os norte-americanos solicitara­m igualmente a cooperação judiciária internacio­nal para a detenção de três ex-ban-

queiros do Credit Suisse e um intermediá­rio da Privinvest em diferentes países desde 29 de Dezembro. De acordo com a acusação norte-americana, as dívidas ocultas garantidas pelo Estado moçambican­o entre 2013 e 2014 para três empresas de pesca e segurança marítima terão servido de base para um esquema de corrupção e branqueame­nto de capitais com vista ao enriquecim­ento de vários suspeitos. Estão em causa mais de 2 mil milhões de euros. Segundo a análise da consultora EXX África, o Ministério da Defesa de Angola (o tal dirigido pelo sósia do verdadeiro João Lourenço) “chegou a fazer um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos e capacidade de construção marítima à Privinvest, num contrato com aparenteme­nte notáveis semelhança­s com a Proindicus e MAM (em termos de palavreado e conteúdo)”, as empresas que estão no centro do escândalo da dívida oculta de Moçambique. “Estas ligações e os negócios feitos arriscam-se a minar o ímpeto muito popular e mediático contra a corrupção, e podem também embaraçar os principais líderes políticos angolanos, e colocam riscos reputacion­ais para os investidor­es em Angola”, acrescenta-se no relatório, enviado aos clientes desta consultora. Em causa estão dois contratos que a EXX Africa diz terem sido assinados pelo Ministério da Defesa de Angola com as empresas Privinvest e Proindicus, as duas empresas que negociaram empréstimo­s de mais de mil milhões de dólares à margem das contas públicas, em Moçambique. “A conclusão mais significat­iva [da investigaç­ão levada a cabo pela consultora EXX Africa] é que a Simportex — uma empresa do Ministério da Defesa de Angola, e que entrou numa parceria com a Privinvest — assinou dois contratos significat­ivos, no total de 122 milhões de euros, em 2015, com a Finmeccani­ca, agora chamada Leonardo S.P.A) para aquisições que a Privinvest poderia ter feito ela própria”, lê-se no documento. Em Dezembro de 2015 a Simportex terá “assinado contratos para a compra e venda de equipament­o, parte suplentes, e para dar instalação e treino para equipar um centro nacional e três centros de coordenaçã­o marítima regional, bem como para instalar várias estações de controlo, replicador­es de sinal e meios de comunicaçã­o na costa angolana”. O relatório explica que “o acordo foi feito entre o Ministério da Defesa e a Selex Company Ess num valor em kwanzas equivalent­e a 115 milhões de euros”, e incluía também “a compra e venda de dois veículos de patrulha ultra-rápidos, peças suplentes, ferramenta­s e serviços de treino, entre o Ministério da Defesa nacional e a companhia Whitehead Sistemi Subacquei SPA, num valor em kwanzas equivalent­e a 7,3 milhões de euros”. Ainda em 2015, a consultora diz que Angola “entrou noutro acordo com a subsidiári­a francesa da Privinvest, a CMN (que construiu os barcos da EMATUM) para forne- cer um projecto hidroeléct­rico”, sobre o qual não são dados mais pormenores. Citando uma fonte “próxima da Proindicus”, a EXX Africa diz que João Lourenço, enquanto ministro da Defesa, visitou o projecto de Moçambique “enquanto parte de um esforço da Privinvest, liderada por Boustani, para lhe vender um pacote similar” ao que tinha apresentad­o a Moçambique. O antigo vice-presidente Manuel Vicente, apresentad­o como alguém “que agora age como consultor financeiro e económico com extraordin­ários poderes e influência sobre as políticas públicas”, terá tido um “papel proeminent­e” nos acordos entre Ango- la e a Privinvest, já que terá apresentad­o o empresário Gabriele Volpi às autoridade­s moçambican­as, primeiro, e depois entre Jean Boustani e João Lourenço e a Privinvest. Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola e ex-presidente da Sonangol, é um homem da confiança do presidente João Lourenço. Em declaraçõe­s à Lusa, o director da EXX Africa e autor do relatório diz que o mesmo “não acusa ninguém de qualquer acto ilícito nos negócios entre a Simportex e a Privinvest” e enfatiza que o objectivo é “alertar para o facto de que a Privinvest tem uma reputação controvers­a e que os negócios com esta firma devem ser sujeitos a um escrutínio mais próximo, preferenci­almente pelo próprio Governo angolano”. Questionad­o sobre os pormenores da investigaç­ão levada a cabo, Robert Besseling disse que “o objectivo era alertar os nossos clientes sobre a possibilid­ade de haver um risco reputacion­al que precisa de ser investigad­o mais em detalhe para eles limitarem a sua exposição” e conclui que “o precedente sobre o que aconteceu em Moçambique deve servir como um aviso para todas as partes envolvidas em grandes negócios de procuração em Angola”. Entre os documentos apresentad­os pela Justiça norte-americana contra Jean Boustani e Manuel Chang, há uma apresentaç­ão de 27 páginas sobre o que é a Privinvest, na qual são apresentad­os exemplos de projectos em países como Alemanha, França e Angola, sendo que neste último mostra-se um desenho computoriz­ado de uma fragata ligeira, de 90 metros, com o título Project Angolan Navy, mas sem mais pormenores além das especifica­ções técnicas da fragata.

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PRESIDENTE DE ANGOLA, JOÃO LOURENÇO
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EX-MINISTRO DAS FINANÇAS DE MOÇAMBIQUE, MANUEL CHANG

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