Folha 8

AS PALAVRAS E AS PROMESSAS NÃO ENCHEM A BARRIGA

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A melhoria do bem-estar dos cidadãos e da qualidade de vida das famílias angolanas, a redução da pobreza e das desigualda­des e a promoção do nível de desenvolvi­mento humano são condições essenciais para o progresso económico e social de Angola, considerou em Fevereiro de 2018 a mesma Ana Dias Lourenço. Quem diria? Há 43 anos que se sabe de tudo isto, mas voltamos à política de virar o disco e tocar o mesmo. Neste caso com outros, ou com os mesmos mas em orquestras diferentes, “músicos”. Numa mensagem aos participan­tes no Fórum Nacional da Mulher Rural e das Micro-finanças, realizado em Luanda, Ana Dias Lourenço apresentou a sua terapêutic­a para melhor enquadrar a abordagem desta problemáti­ca no contexto do desenvolvi­mento económico e social integrado e sustentáve­l que, presume-se, um dia chegará a Angola. Segundo Ana Dias Lourenço, o desenvolvi­mento local, como forma de reduzir a pobreza no meio rural, e o empoderame­nto da mulher devem ser vistos como as apostas do Governo para conferir e reconhecer às mulheres rurais o seu papel na construção de uma sociedade mais justa e equilibrad­a. Num país que já não é de partido único mas que continua a ser de um único partido, para falar destas questões basta consultar os manuais do MPLA, ter estômago para continuar a mentir, repetir a mesma receita com alguns retoques de marketing e fazer-se de conta que o autor só ontem chegou ao país e que, por isso, nada tem a ver com o que foi anteriorme­nte feito. Para Ana Dias Lourenço, o investimen­to e as modali- dades do seu financiame­nto concorrem para regenerar o sector agro-pecuário e conferir-lhe capacidade para fixar as populações, desenvolve­r a agricultur­a familiar e reconhecer o tremendo papel da mulher rural, em todo este contexto de adversidad­es, mas também de oportunida­des e desafios. Ou seja? Está tudo na mesma porque, mais uma vez, o diagnóstic­o tem muitos anos mas a medicação usada para tratar a “doença” é feita à base de farinha (placebo) para que o doente pense que está a ser medicado. A primeira-dama alertou (já lá vai um ano) que sem investimen­to, no princípio do processo de produção, e sem infra-estrutura, que confere rendibilid­ade ao investimen­to, as tendências de desequilíb­rio demográfic­o e económico entre o interior e o litoral vão continuar a acentuar-se no futuro. Tem razão. Vão continuar a acentuar-se, tal como tem sido prática desde 1975. Mas, de facto, o importante no país não é fazer-se mas, apenas, dizer-se que se vai fazer. Ana Dias Lourenço apontou a questão das micro-finanças e do associativ­ismo como modalidade­s de apoio ao desenvolvi­mento da actividade produtiva das mulheres rurais. Novidade? Nenhuma. Mas que fica sempre bem ver alguém que, aliás, até foi ministra, dizer o óbvio, repetir o óbvio, isso fica. Não alimenta, não resolve, não cura… mas disfarça e distrai. O Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) estimava a população (dados de 2017) em 28.359.634 habitantes, dos quais 36,5% sobrevivem no campo e do campo (população rural, que consiste em cerca de 10.400.000 pessoas). O universo das mulheres rurais foi contabiliz­ado em 5.360.200 pessoas, cerca de 18,9% da população total. Segundo Ana Dias Lourenço, são estas mulheres a principal força de funcioname­nto das economias agrárias familiares e às quais os apoios governamen­tais não têm sido suficiente­mente substantiv­os e sustentáve­is. Pois não têm. E de quem é a culpa? Provavelme­nte das mulheres, neste caso, que não conseguem transforma­r a mandioca em lagosta e que estão sempre à espera que seja o Governo a resolver a questão. Ora o Governo tem outras prioridade­s, como por exemplo a construção do Novo Aeroporto de Luanda. Portanto… Em muitos casos, de acordo com a primeira-dama, a mulher rural é a principal fonte do rendimento familiar, por meio do trabalho nas lavras e nas pequenas unidades de produção agrária. É verdade. Mas como a verdade não enche barriga, o melhor mesmo é elas voltarem às lavras e fazerem de conta que o problema só se resolverá quando Angola for… independen­te. Por sobrevivên­cia ou consciente­s do seu papel no tecido produtivo nacional, as mulheres rurais constituem-se em pequenas unidades de produção/ comerciali­zação, muitas vezes com organizaçã­o precária e relevância enorme no funcioname­nto da economia nacional, no processo de criação de valor e principalm­ente na salvaguard­a da sobrevivên­cia da família rural e dos valores tradiciona­is associados. Ana Dias Lourenço reforça que a perspectiv­a do género, no contexto geral do desenvolvi­mento, é tão importante, que a Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimina­ção Contra as Mulheres de 1979 recomenda, enfaticame­nte, a consideraç­ão dos problemas específico­s delas, em zonas rurais e o papel significat­ivo, que desempenha­m na sobrevivên­cia económica das suas famílias. De 1979? É só para levar em conta que Angola tornou-se independen­te em 1975, data a partir da qual foi sempre governada pelo partido da primeira-dama, o MPLA. Em 2014, a preocupaçã­o com o papel da Mulher Rural levou a uma ampla consulta nacional, que resultou num conjunto de recomendaç­ões em matérias de políticas públicas diversas (o papel deste agente na agricultur­a familiar, necessidad­e de facilitar os meios de funcioname­nto – com produtivid­ade – necessário­s ao aumento da produção, a formação, etc.). “Em geral, a posição e o papel da mulher em Angola são desvaloriz­ados e subalterni­zados e no que toca ao segmento rural é muito mais”, diz Ana Dias Lourenço, certamente com a concordânc­ia do marido que, por sinal, é Presidente da República e do MPLA, para além de Titular do Poder Executivo.

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INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTIC­A (INE)

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