“TEMO PELA VIDA DE LULA”
Terminou no 31.01 o prazo para apoiar a campanha “Nobel para Lula”, lançada pelo arquitecto e activista argentino Adolfo Pérez Esquivel, Prémio Nobel da Paz de 1980. Recorde-se ter sido o activista, preso e torturado pela ditadura militar argentina, no seu país, daí reconhecer que deve a sua vida a campanhas internacionais, disse em entrevista exclusiva à RFI. Ao comentar as últimas decisões da Justiça brasileira, que impediram o ex-presidente Lula da Silva de acompanhar o velório e o enterro do seu irmão mais velho, Vavá, falecido aos 79 anos (29 de Janeiro), o Nobel argentino considera ser “gravíssimo que não tenham deixado que Lula fosse ao sepultamento do seu irmão mais velho. É um ataque onde existe muito ódio. Temo pela vida de Lula”, afirmou Esquivel, que também falou sobre Venezuela e disputas de poder na América Latina. A partir de agora, corre o prazo para que o Comité norueguês do Nobel, responsável para atribuir o Nobel da Paz, avalie a lista indicada oficialmente por cidadãos com as qualificações necessárias para apresentar nomes à Academia, baseada na Noruega. Puderam indicar oficialmente nomes até ao 31.01, segundo as normas definidas no estatuto do Nobel, parlamentares, chefes de Estado, membros da Corte Internacional de Haia, professores universitários e pessoas que já receberam o Nobel da Paz (como Esquivel), entre outras cate- gorias específicas. Até o fecho desta matéria, 546.622 assinantes, mais de meio milhão de pessoas, haviam apoiado a petição da campanha lançada por Esquivel, a favor de Lula, destinada ao público em geral. “Lancei a candidatura oficial de Lula ao Prémio Nobel da Paz antes mesmo dele ser preso e condenado injustamente”, conta o activista, que tornou pú-
blica a campanha em Curitiba. O argentino de 86 anos, criador da associação Serviço Paz e Justiça, decidiu promover a campanha quando foi impedido, ao lado de Leonardo Boff, da Teologia da Libertação, de visitar o ex-presidente brasileiro, na Polícia Federal de Curitiba, em Abril de 2018. As imagens de Boff a chorar, sentado em frente à sede da PF na capital paranaense, marcaram o episódio e viralizaram nas redes sociais brasileiras. “Condenam Lula porque ele tirou 36 milhões de brasileiros da miséria extrema, da fome, da marginalidade, da grave situação que vive o povo do Brasil”, afirmou Esquivel acrescentando, “ele dedicou a sua vida ao seu povo, e não se serviu do povo. Logicamente, esperamos que o comité do Nobel o considere”, estimou o argentino, que vê o Brasil como a sua “segunda pátria”. “É gravíssimo que não tenham deixado que Lula fosse ao funeral do seu irmão mais velho. É um ataque onde existe muito ódio. Temo pela vida de Lula, na situação em que ele se encontra. São sectores reaccionários que não medem a sua crueldade”, afirmou Esquivel. O activista considera que todo apoio destinado à “libertação” do ex-presidente brasileiro é importante, e não apenas aquele dedicado à sua indicação ao Nobel da Paz. “Seria muito relevante não apenas para o Brasil, mas também para a América Latina, onde existe cada vez mais fome e marginalidade, além de situações de perseguição política e social”, afirmou à RFI.