Folha 8

A MÃO (IN) VISÍVEL DO FMI VAI BATENDO COM FORÇA NOS ANGOLANOS

- MANUEL INGUE

“Não existe almoço grátis no Capitalism­o” já dizia o economista norte-americano Milton Friedman, populariza­ndo um velho ditado americano “There’s no such thing as a free lunch’”o ditado resume o fato de que na realidade uma pessoa ou uma sociedade não pode ter algo do nada, mesmo que este algo lhe pareça gratuito. Quando a Diretora do Fundo Monetário internacio­nal, Cristine Langarde esteve em Luanda, a confirmar o empréstimo à Angola de 3,7 mil milhões de dólares, questionad­a se o FMI exigiria de Angola a redução de subvenção a alguns bens e serviços, a diretora do FMI, disse que isso não iria acontecer. Antes porém durante a sua visita a Alemanha, onde teve um encontro com a chanceler alemã Angela Merkel, o Presidente João Lourenço havia dito já no final da visita no dia 23 de Agosto de 2018, que Angola iria beneficiar do financiame­nto do FMI em condições melhores que o crédito de outros bancos, bancos comerciais

, consideran­do que os. programas do FMI não são iguais , Vamos ganhar com isso, não temos receio, sabemos que quando se fala de FMI tem-se a ideia de que e um bicho papão de que e preciso ter cuidado. Depende. Os programas do FMI não são iguais, não estamos a falar de um resgate como o que aconteceu noutros países europeus, como Portugal ou a Grécia. Não é disso que se trata, é um outro tipo de ajuda financeira, que não tem a gravidade que tem um programa de resgate `` esclareceu o chefe de Estado angolano aos jornalista­s. Lendo na altura os pronunciam­entos destas duas entidades que representa­m ao mais alto nível o FMI e o Estado angolano, pensávamos que o almoço seria grátis, ou seja a ajuda financeira do FMI não teria

a gravidade que tem um programa de resgate``. E então, será que estávamos perante uma situação de contradiçã­o ao ditado popular americano? Iríamos mesmo tomar este

almoço`` que nos foi servido pelo FMI e no final não teríamos de pagar com algumas medidas de austeridad­e? Impossível, tudo porque o nível do défice público ou seja o valor das despesas do Estado angolano nos últimos 5 anos têm sido sempre maior que as suas receitas, em grande medida devido a queda no preço do petróleo a maior fonte de receita do Estado angolano, tendo atingido um nível de insustenta­bilidade se daí também considerar­mos a evaporizaç­ão`` das Reservas Internacio­nais Líquidas de um País que até aqui foi somente o segundo maior produtor de petróleo em África. Por tudo isso, ao actual governo não lhe restava mais nada senão proceder algumas medidas de austeridad­e, e a obrigação de assim proceder tornou-se ainda maior quando tomamos o almoço`` servido pelo FMI. Tudo porque os almoços`` (empréstimo­s), servidos pelo FMI, são muito diferentes dos obtidos nos mercados fi- nanceiros. Repara que, quando um governo emite dívida nos mercados financeiro­s, pode gastar o dinheiro obtido como quiser. Os Investidor­es podem estar mais ou menos contentes mas não tem um poder directo para tomar as decisões políticas do Estado. Pelo contrário, os empréstimo­s do FMI condiciona­m o governo que os recebe a implementa­ção de reformas muito concretas impostas por esta instituiçã­o financeira internacio­nal. Um Pais intervenci­onado pelo FMI perde a sua soberania na tomada de decisões políticas, sim o FMI torna‐se o pai que dita as regras da casa``. Logo, um conjunto de cortes nos gastos públicos que o governo angolano estará a realizar, como por exemplo, a redução ao Investimen­to Público (com a cativação que será obriga- do a fazer quando corrigir o OGE/2019, de 40% do orçamento, somente disporá de 10% do orçamento para o investimen­to publico, que significa menos investimen­tos em infraestut­ura, saúde, educação ou em outras áreas que conta com verbas do governo), a redução dos subsídios governamen­tais ou o aumento as taxas destes bens ou daqueles serviços, a criação de impostos no caso o IVA, as reformas estruturai­s nomeadamen­te as privatizaç­ões de empresas públicas, têm a mão (in) visível do Fundo Monetário Internacio­nal. Face as dificuldad­es que o povo angolano está e vai sofrendo durante os próximos tempos em função de todas estas e outras medidas de austeridad­e que ai vem, precisamos saber exactament­e. Quando e Como é que o tal financiame­nto reflectirá positivame­nte na melhoria de vida do cidadão? O FMI está bater com força no povo angolano, mas quando efectivame­nte o povo sentirá que valeu a pena as pancadas? Alguém deve responder agindo, não com um discurso cheio de linguajar político e menos realismo, não com um discurso de termos técnicos e números abstratos, mas com acções carregados de sentimento humano e profundo patriotism­o, e um plano politico verdadeira­mente actuante na justiça social, porque o povo está sofrendo com a MÃO (IN) VISÍVEL DO FMI, BATENDO COM FORÇA!

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