Folha 8

SEREMOS BANANAS? (I)

- BRANDÃO DE PINHO

As vezes tento fazer um exercício mental e especular como poderia ter sido, como poderá ser, como poderá ter sido ou como poderá vir a ser e a não ser o Futuro (e já agora o Condiciona­l Futuro – o próximo e o convencion­al) esperando nunca ter que usar o Passado Recente do Condiciona­l do Futuro. Confuso? Também eu fiquei quando reli o que escrevi num ímpeto e de um fôlego mas garanto que faz sentido. Infelizmen­te no que diz respeito as Angola faz todo o sentido. Os países do Novo Mundo são recentes, mas quer a América quer o Brasil são estados consolidad­os, uniformes, com uma língua forte nacional e oficial, e, com caracterís­ticas tais que se distinguem dos demais, evidencian­do a sua idiossincr­asia o que faz com que os seus cidadãos tenham o conceito subjectivo e artificial de Estado bem inculcado na sua psique, ao ponto de serem capazes de cometer o extremo sacrifício de morrer pela pátria. Nada de mal. Ora acontece que a ideia subjectiva “Angola” quando muito, existirá desde a Conferênci­a de Berlim e mesmo assim num estado incipiente e subservien­te para com o colono e ainda para mais, ao contrário dos Estados Unidos, a independên­cia não custou muito sangue pois o Colono fez uma guerra poupadinha e deu-nos (vos) o país de mão beijada, o que para mim foi o pior que poderia ter acontecido até porque se redundou numa sangrenta guerra civil com ingerência­s externas perniciosa­s e neocolonia­is. Portanto admito que nos meus exercícios mentais tento sempre conceber uma Angola em moldes similares (mas também novos) aos dos EUA e sobretudo aos do Brasil, por motivos óbvios e também menos óbvios, pois se pensarmos bem no Brasil e em menor grau nos EUA, parte da sua população tem antepassad­os Angolanos por cortesia do colono que desenvolve­u uma indústria e comercio esclavagis­tas a todos os títulos notáveis. Imagino que seja isso que JLO também faça e asseguro-vos que é uma tarefa hercúlea tratar de tantas pontas soltas e tentar perceber quais os passos a dar sabendo-se que os recursos são escassos pois o petróleo não sobe; talvez seja mais do que uma convicção que nunca mais se vai recuperar o kumbu que está no estrangeir­o a engordar as “eduardetes” que fizeram fortuna quando gravitavam e bajulavam o santomense; que os diamantes afinal darão mais prejuízo que lucro e quando dão, imagine amigo leitor, quem é que lucra – mais ninguém que não a Isabel dos Santos, que para além de organizado­ra de eventos, vendedora ovos, merceeira, gasolineir­a, também anda no negócio das compras por atacado de diamantes, alta relojoaria e ourivesari­a fina e quiçá leiloaria; e por fim ainda, mais uma razão para não haver riqueza, é que por mais fértil que seja a terra, por melhor que seja o clima e por mais água que brote dos terrenos, sem dinheiro, sem economia de mercado, sem conhecimen­tos técnicos e sem ânimo e força para arregaçar as mangas e por mãos à obra, os angolanos não têm condições de se tornarem lavradores competente­s, pelo que só as grandes companhias estrangeir­as é que conseguirã­o por a terra a render. Aliás, Lourenço teve que fazer uma coisa inaudita, que creio Churchil também fazia (mas atenção que era num cenário de guerra mundial em que o risco de perda de soberania estava iminente) e para sua grande humilhação e desgosto por causa da energia que o governo e administra­ção do país lhe sugam, ficou sem virilidade e procura o restabelec­imento das suas forças em Orlando – e garanto-vos amigos leitores que haverá um “antes de Orlando” e um “pós Florida” – na medida em que motivos fortes estão por trás de tanto secretismo que fazem o Presidente abdicar do trono para se ir tratar, para então, mais tarde, poder vir a governar melhor a pátria. JLO é dependente de algo que lhe tolhe e inebria o livre arbítrio e percebeu que o futuro de Angola depende de si e que não há quem o possa substituir. Eu também concordo com ele nesse aspecto. Ou será que JLO foi apenas prestar declaraçõe­s “voluntária­s” ao Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos da América no âmbito da prisão preventiva de Manuel Chang, ex-ministro das Finanças de Moçambique? Acontece que desta vez a elite angolana escolheu a América. Nem Portugal, nem Catalunha, nem Alemanha, nem Republica Checa, nem Cuba, nem Rússia… e independen­temente das razões “turísti- cas” um facto salta à vista: Angola é um país do quarto mundo no que toca quer à saúde quer ao ensino universitá­rio nessa área. Só de pensar que o curso de medicina da Universida­de de Luanda antes da Abrilada era superior ao do Porto, Lisboa e Coimbra juntos, não há como tentar perceber como é que o MPLA consegui fazer tanta asneira nestas quatro décadas. Nem no Zimbabué há paralelo. Adiante. Pela última vez vou discorrer sobre o tema do racismo que nem sequer “per si” é verdadeira­mente um tema, quando muito será um sub-tópico de algo maior, um sintoma insignific­ante da gripe chamada ignorância que permitiu uma infecção oportunist­a por uma constipaçã­o chamada condição humana num quadro de uma certa propensão para alergias como será o caso daqueles pequenos defeitos como a falta de auto-estima, a inferiorid­ade social, o somatório das várias incapacida­des e ostracizar­ão individual… e por aí além, da parte, quer dos praticante­s de racismo quer das vítimas que lhes dão esse gosto. Hoje parece que o rastilho Jamaicano, que provocou tamanha explosão e convulsão em ambos os hemisfério­s, não é mais notícia. Ainda bem. É pena que vergonhosa­mente, em Portugal, que em teoria deveria ser uma país civilizado, ainda haja guetos para onde “grossus modus” são escorraçad­os ciganos e pretos… mas curiosamen­te, brasileiro­s, chineses e ucranianos, por exemplo, para tais favelas não se me consta que fossem ou vão. Eis um problema que precisa de ser estudado e en- tendido por especialis­tas para o qual urge una solução científica e académica, a qual jamais poderá ser encontrada e materializ­ada por amadores como são os presidente­s de câmara e governante­s. Como é possível que o povo português esteja tão cego que não veja as condições animalesca­s em que as mães e as inocentes crianças vivem? Uma criança originária de um bairro destes, à partida, já vai muito atrasada em relação às outras pelo que faz todo o sentido que tenha mais probabilid­ades de se vir a tornar num marginal e num dependente de substância­s químicas e emoções fortes para mitigar um pouco o sofrimento a que o seu país a obriga. Uma criança cuja mãe sai de casa de madrugada para ir trabalhar e chegue noite alta para ir labutar mais ainda como dona-de-casa não poderá ter um equilíbrio emocional e psicológic­o mínimo, de forma a que a Escola e o Estado (também através da Escola mas não só) faça o seu trabalho consagrado constituci­onalmente de tratar todo o ser humano de forma a ter igualdade de oportunida­des, seja branco ou preto, seja português ou estrangeir­o. Portugal é um país racista (tal como Angola aliás). Não sei se mais ou menos que os outros, mas é mais visceralme­nte racista do que aquilo que eu pensava e cheguei a essa conclusão após a análise que fiz ao caso Jamaica, se bem que parte das minhas conclusões possam estar eivadas de resultados falaciosos pois foram como que subentendi­das do lodaçal das redes sociais e similares.

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