SEREMOS BANANAS? (I)
As vezes tento fazer um exercício mental e especular como poderia ter sido, como poderá ser, como poderá ter sido ou como poderá vir a ser e a não ser o Futuro (e já agora o Condicional Futuro – o próximo e o convencional) esperando nunca ter que usar o Passado Recente do Condicional do Futuro. Confuso? Também eu fiquei quando reli o que escrevi num ímpeto e de um fôlego mas garanto que faz sentido. Infelizmente no que diz respeito as Angola faz todo o sentido. Os países do Novo Mundo são recentes, mas quer a América quer o Brasil são estados consolidados, uniformes, com uma língua forte nacional e oficial, e, com características tais que se distinguem dos demais, evidenciando a sua idiossincrasia o que faz com que os seus cidadãos tenham o conceito subjectivo e artificial de Estado bem inculcado na sua psique, ao ponto de serem capazes de cometer o extremo sacrifício de morrer pela pátria. Nada de mal. Ora acontece que a ideia subjectiva “Angola” quando muito, existirá desde a Conferência de Berlim e mesmo assim num estado incipiente e subserviente para com o colono e ainda para mais, ao contrário dos Estados Unidos, a independência não custou muito sangue pois o Colono fez uma guerra poupadinha e deu-nos (vos) o país de mão beijada, o que para mim foi o pior que poderia ter acontecido até porque se redundou numa sangrenta guerra civil com ingerências externas perniciosas e neocoloniais. Portanto admito que nos meus exercícios mentais tento sempre conceber uma Angola em moldes similares (mas também novos) aos dos EUA e sobretudo aos do Brasil, por motivos óbvios e também menos óbvios, pois se pensarmos bem no Brasil e em menor grau nos EUA, parte da sua população tem antepassados Angolanos por cortesia do colono que desenvolveu uma indústria e comercio esclavagistas a todos os títulos notáveis. Imagino que seja isso que JLO também faça e asseguro-vos que é uma tarefa hercúlea tratar de tantas pontas soltas e tentar perceber quais os passos a dar sabendo-se que os recursos são escassos pois o petróleo não sobe; talvez seja mais do que uma convicção que nunca mais se vai recuperar o kumbu que está no estrangeiro a engordar as “eduardetes” que fizeram fortuna quando gravitavam e bajulavam o santomense; que os diamantes afinal darão mais prejuízo que lucro e quando dão, imagine amigo leitor, quem é que lucra – mais ninguém que não a Isabel dos Santos, que para além de organizadora de eventos, vendedora ovos, merceeira, gasolineira, também anda no negócio das compras por atacado de diamantes, alta relojoaria e ourivesaria fina e quiçá leiloaria; e por fim ainda, mais uma razão para não haver riqueza, é que por mais fértil que seja a terra, por melhor que seja o clima e por mais água que brote dos terrenos, sem dinheiro, sem economia de mercado, sem conhecimentos técnicos e sem ânimo e força para arregaçar as mangas e por mãos à obra, os angolanos não têm condições de se tornarem lavradores competentes, pelo que só as grandes companhias estrangeiras é que conseguirão por a terra a render. Aliás, Lourenço teve que fazer uma coisa inaudita, que creio Churchil também fazia (mas atenção que era num cenário de guerra mundial em que o risco de perda de soberania estava iminente) e para sua grande humilhação e desgosto por causa da energia que o governo e administração do país lhe sugam, ficou sem virilidade e procura o restabelecimento das suas forças em Orlando – e garanto-vos amigos leitores que haverá um “antes de Orlando” e um “pós Florida” – na medida em que motivos fortes estão por trás de tanto secretismo que fazem o Presidente abdicar do trono para se ir tratar, para então, mais tarde, poder vir a governar melhor a pátria. JLO é dependente de algo que lhe tolhe e inebria o livre arbítrio e percebeu que o futuro de Angola depende de si e que não há quem o possa substituir. Eu também concordo com ele nesse aspecto. Ou será que JLO foi apenas prestar declarações “voluntárias” ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América no âmbito da prisão preventiva de Manuel Chang, ex-ministro das Finanças de Moçambique? Acontece que desta vez a elite angolana escolheu a América. Nem Portugal, nem Catalunha, nem Alemanha, nem Republica Checa, nem Cuba, nem Rússia… e independentemente das razões “turísti- cas” um facto salta à vista: Angola é um país do quarto mundo no que toca quer à saúde quer ao ensino universitário nessa área. Só de pensar que o curso de medicina da Universidade de Luanda antes da Abrilada era superior ao do Porto, Lisboa e Coimbra juntos, não há como tentar perceber como é que o MPLA consegui fazer tanta asneira nestas quatro décadas. Nem no Zimbabué há paralelo. Adiante. Pela última vez vou discorrer sobre o tema do racismo que nem sequer “per si” é verdadeiramente um tema, quando muito será um sub-tópico de algo maior, um sintoma insignificante da gripe chamada ignorância que permitiu uma infecção oportunista por uma constipação chamada condição humana num quadro de uma certa propensão para alergias como será o caso daqueles pequenos defeitos como a falta de auto-estima, a inferioridade social, o somatório das várias incapacidades e ostracizarão individual… e por aí além, da parte, quer dos praticantes de racismo quer das vítimas que lhes dão esse gosto. Hoje parece que o rastilho Jamaicano, que provocou tamanha explosão e convulsão em ambos os hemisférios, não é mais notícia. Ainda bem. É pena que vergonhosamente, em Portugal, que em teoria deveria ser uma país civilizado, ainda haja guetos para onde “grossus modus” são escorraçados ciganos e pretos… mas curiosamente, brasileiros, chineses e ucranianos, por exemplo, para tais favelas não se me consta que fossem ou vão. Eis um problema que precisa de ser estudado e en- tendido por especialistas para o qual urge una solução científica e académica, a qual jamais poderá ser encontrada e materializada por amadores como são os presidentes de câmara e governantes. Como é possível que o povo português esteja tão cego que não veja as condições animalescas em que as mães e as inocentes crianças vivem? Uma criança originária de um bairro destes, à partida, já vai muito atrasada em relação às outras pelo que faz todo o sentido que tenha mais probabilidades de se vir a tornar num marginal e num dependente de substâncias químicas e emoções fortes para mitigar um pouco o sofrimento a que o seu país a obriga. Uma criança cuja mãe sai de casa de madrugada para ir trabalhar e chegue noite alta para ir labutar mais ainda como dona-de-casa não poderá ter um equilíbrio emocional e psicológico mínimo, de forma a que a Escola e o Estado (também através da Escola mas não só) faça o seu trabalho consagrado constitucionalmente de tratar todo o ser humano de forma a ter igualdade de oportunidades, seja branco ou preto, seja português ou estrangeiro. Portugal é um país racista (tal como Angola aliás). Não sei se mais ou menos que os outros, mas é mais visceralmente racista do que aquilo que eu pensava e cheguei a essa conclusão após a análise que fiz ao caso Jamaica, se bem que parte das minhas conclusões possam estar eivadas de resultados falaciosos pois foram como que subentendidas do lodaçal das redes sociais e similares.