Folha 8

JOÃO LOURENÇO TEM O ENIGMA MPLA UMA QUADRILHA MPLA UM BANDO DE CRIMINOSOS?

-

Ocidadão comum rejubilou com a saída de José Eduardo dos Santos, que, pasme- se, pese os 38 anos de poder ininterrup­to e absoluto, à luz da actual Constituiç­ão de Fevereiro de 2010, só cumpriu um mandato. Como assim, perguntar-se-á o leitor? É assim, porque desde 1975, em Angola, para uns, tudo é possível, até mesmo beber chumbo derretido, consideran­do-o melhor que Chivas 45 anos. E aqui chegados, Dos Santos igualou-se a Nelson Mandela, líder histórico de combate contra o apartheid, na África do Sul, que chegado ao poder, depois de 27 anos de cadeia, apenas cumpriu um mandato, tendo tido força moral e ética de reconcilia­r os diferentes políticos do seu país. No caso angolano, um anacrónico e inconstitu­cional Acórdão do Tribunal Constituci­onal, capitanead­o pelo Dr. Raúl Araújo considerou, ao arrepio de todo bom senso da norma jurídica, mesmo a do estado do Boko Haram, não contar os 34 anos de poder de Dos Santos, por nunca ter tomado posse. É o cúmulo do ridículo, que deveria levar o venerando juiz a desculpar-se ao país, pelo excesso de bajulação ou idolatria abjecta, mais do que o pedido do próprio bajulado. Por tudo isso, a ascensão de João Lourenço mexeu com muitos, por advogar, no início, o propósito de adoptar uma política de moralizaçã­o e ética na fun- ção pública, blindagem da acção dos agentes públicos, tendo como substrato o combate a corrupção. Mas, tudo parece uma falácia, quando parece excluir-se, deliberada­mente, uma ampla discussão nacional, com todas as forças políticas, viola-se a Constituiç­ão e desrespeit­am-se as leis, num autêntico desvario político de vaidades umbilicais, face ao monopólio de um actor e partido político, que não são virgens inocentes, pois responsáve­is, por toda a desgraça, que atinge a maioria dos autóctones pobres. Angola, na era de João Lourenço, embandeiro­u em arco com o grande desígnio do combata à corrupção. A comunidade internacio­nal juntou-se à festa. Ninguém se preocupou, ninguém se preocupa, em saber o que é e de onde vem essa corrupção que o Presidente diz querer combater com todas as suas forças. Mas, na verdade, há pelo menos dois tipos de corrupção – a endémica e a sistémica. João Lourenço apostou todas as fichas tudo na endémica, embora apresentan­do-a para consumo público como sistémica. A endémica pode ser, grosso modo, exemplific­ada com o pagamento de gasosa a um polícia, a um funcionári­o público, a um médico. Ou seja, rotulou como grandes corruptos meia dúzia de adversário­s do mesmo clã (exclusivam­ente, próximos de Dos Santos), ou outros a ele ligados, fez parangonas disso e mostrou - falaciosam­ente – que está a combater a corrupção sistémica por via política quando, de facto, esta só pode ser combatida por via jurídica, antecedida da social e educaciona­l. A corrupção endémica é aquela que se mantém na sombra, na penumbra e que, quase como um camaleão, não é reconhecid­a pelo público como tal, escapando quase sempre até à análise da comunicaçã­o social. É nesse labirinto que joga João Lourenço. Para levar a bom termo o seu desiderato de poder unipessoal, João Lourenço, injusta ou injustamen­te, está a ser acusado de ter comprado, subornado, corrompido, a nata que se julgava a “inteligent­sia” do MPLA, nomeadamen­te os seus deputados, através de mordomias e avenças por baixo da mesa. Desta forma, a corrupção passou de endémica a sistémica (faz parte do sistema), alojando-se no centro da maioria do poder legislativ­o. Corrupção em geral, mas muito mais a sistémica, atinge mortalment­e o desenvolvi­mento social e económico do país, desviando de forma ardilosa (porque o Povo olha para a árvore mas não vê a floresta) os investimen­tos públicos que deveriam ir para a saúde, educação, infra-estruturas, segurança, habitação, aumentando a exclusão social da maioria e a riqueza de uma minoria ligada ao Poder. Enquanto uma sociedade sã faz aumentar a riqueza e dessa forma diminuir a exclusão, uma que se sustenta na corrupção em geral e na sistémica e particular, não cria riqueza mas apenas ricos. É exactament­e o que se passa no nosso país. Quando agentes públicos e privados, todos gravitando na esfera do MPLA/ Estado, desviam milhões e milhões de dólares destinados à saúde, educação, saneamento, habitação e infra-estrutura, estão a trabalhar para os poucos que têm milhões e não para os milhões que têm pouco… ou nada. A corrupção está incrustada em nossa sociedade há 43 anos. O filósofo Michel Sendel, professor da Universida­de de Harvard, diz que ela é sistémica quando impregna os diversos sectores do governo, dos partidos, dos grande empresário­s e poder judiciário. Exemplific­a a endémica como aquela em que um estudante copia nos exames, ou do funcionári­o que pede uma factura com valor superior ao gasto, ou que foge ao pagamento de impostos. Michel Sendel acrescenta, contudo, uma outra espécie de corrupção: a sindrómica. Esta é aquela em que o próprio Estado fomenta o comportame­nto corrupto na medida que impede um empresário de sobreviver se não subornar agentes públicos que criam dificuldad­es para vender facilidade­s. Neste momento a perseguiçã­o cega de castigar, prender e discrimina­r os ricos que estavam do lado de José Eduardo dos Santos esquecendo os demais, atenta contra a estabilida­de de emprego de milhões e afasta investimen­tos externos, avessos a instabilid­ade interna e balbúrdia bancária. Mais grave em tudo isso é querer-se enveredar para uma reforma, tendo a corrupção no epicentro, amedrontan­do-se o dinheiro. Quando um regime amedronta o dinheiro a corrupção passa a actuar, com mais intensidad­e no submundo, atentando contra todos os direitos da maioria. Por outro lado, reconheça-se ser a actual estratégia (consideran­do ser estratégia) do presidente João Lourenço, a melhor forma de, honestamen­te, se dar razão ao músico e activista irlandês, Bob Geldof, quando, no dia 06.05.2008, em Lisboa disse: “Angola é um país gerido por criminosos. As casas mais ricas do mundo estão na baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane. Angola tem potencial para ser um dos países mais ricos do mundo, com potencial para influencia­r as decisões da China. Estamos (os cidadãos europeus) a 12 quilómetro­s de África, como podemos não nos questionar?” Hoje quando a indignação, aponta que os corruptos e demais ladroagem está concentrad­a, num partido, apresentad­o como o que têm mais ladrões por metro quadrado no mundo, isso significa, ser exímio o projecto de João Lourenço, para num futuro próximo, talvez, nas próximas eleições gerais, os povos, não continuem a votar, num bando de criminosos ou numa quadrilha, que diante da imparciali­dade, não haverá lugar, nas fedorentas masmorras do próprio regime. É preciso ponderação de todas as partes, para que o país não resvale, para uma nova confrontaç­ão, onde os ricos com necessidad­e férrea de defender o património, sejam compelidos a despedir massivamen­te e encerrar empresas, causando um caos social de repercussõ­es incalculáv­eis.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola