SEREMOS BANANAS? (II)
Perante esta afirmação e partindo desta premissa, imperativos legais obrigam-me a fazer o seguinte aviso: «Trata-se de uma afirmação não aconselhável a menores de 16 anos ou a mentes mais susceptíveis e não deve ser lida por quem aparentar anomalia psíquica, aparente estar embriagado ou seja menor intelectualmente. Grávidas, idosos e quem leve crianças ao colo terão prioridade. O prazo de validade expira uma semana após publicação. O autor não se responsabiliza por danos, directa ou indirectamente causados pelo excessivo consumo do texto decorrente da premissa.» Como é óbvio trata-se de uma generalização grosseira pois não fiz uma bateria complexa de testes aos mais de 10 milhões de portugueses nem sequer cheguei a um consenso sobre o que é ser português (a extrema-direita lusitana alega que o dirigente da associação Sos-racismo não é português apesar de ele ter “Cartolina de Cidadania” portuguesa) e sobre a definição exacta do fenómeno chamado racismo, sobre o qual iremos mergulhar nos parágrafos seguintes. Por vezes, em discurso verbal com aleatórios e distintos (não no sentido de serem elevados outrossim naquele de diferentes) interlocutores, na minha oralidade – que não poucas vezes redunda em monólogo aborrecido – fico com a sensação de que não consegui passar uma ideia que é a base da minha abordagem ao tema racismo. Não raras vezes faço a seguinte pergunta que talvez tenha mais de retórica que o desejável pois ninguém me responde – agora que penso nesse assunto -: «- Sabias que existem mais diferenças genéticas entre duas comunidades de chimpanzés relativamente próximas entre si numa floresta do vizinho nortenho Congo do que entre duas populações humanas o mais afastadas e aparentemente diferentes entre si, sabendo-se que justamente os chimpanzés são os animais geneticamente mais parecidos connosco?» E de rompante faço uma afirmação: «- Já agora, nenhuma outra espécie tem a capacidade de mobilidade que o ser humano actualmente tem a tal ponto de em pouco mais de 24 horas podermos chegar, quase, ao mais recôndito canto do mundo.» Segue depois a explicação que é bastante simples. A espécie humana tem um ancestral comum ao chimpanzé, é relativamente recente e produz biliões (biliões europeus e não americanos) de proteínas, e destas, as responsáveis pela quantidade de melanina da pele; as responsáveis pela textura e consistência dos apêndices capilares; as pelo tamanho das narinas e forma dos nariz, bem como as pelo tipo e tamanho de ossos craneo-faciais; as responsáveis pela forma dos olhos (mais do que pela cor da íris); e, relacionadas com o tamanho doutros apêndices, são uma ínfima percentagem da totalidade de proteínas que o ser humano fabrica e que, excluindo estas que referi, são exactamente iguais em todos os cerca de 7 mil milhões de Homo Sapiens Sapiens. O que acontece, é que, suspeito que o nosso cérebro use em demasia o sentido da visão para distinguir as pessoas e as catalogar de acordo com os mais ínfimos detalhes nomeadamente os da face. Desconfio que na condição patológica conhecida como prospagnosia em que os doentes não conseguem distinguir as faces umas das outras, talvez a propensão para o racismo seja claramente inferior. A prosa vai longa e o dever chama-me mas de certa forma o racismo existe porque a palavra existe e porque é falada mais do que o necessário – na maior parte das vezes abusivamente – e serve muitas vezes para expressar uma miríade de conceitos quantas vezes antagónicos e que desobrigam o seu usuário a elaborar outros novos e raciocinar, comportando-se mais como um ser ruminante do que como uma entidade pensante. Esta palavra, tal como ouvi dizer uma vez o Morgan Freeman, deveria sair do léxico e tornar-se tabu (bela palavra esta e com origens que não gregas ou latinas). Se as pessoas verdadeiramente não tivessem tempo, nem vagar, nem folia, enfim, o que se chama de tempo livre ou de lazer, assevero que não se pensaria nestes moldes e o ser humano obrigar-se-ia a ser solidário entre si, pois é a única ferramenta com que a natureza nos dotou para superarmos as agruras por si plantadas. O homem nasceu na África Austral e colonizou o mundo inteiro, mas para isso teve de fugir ao máximo do pecado da consanguinidade e foi conseguindo adaptar-se a novos ambientes, muitas vezes cruzando-se com as populações autóctones, de forma a que a sua descendência herdasse características favoráveis em função do meio em que iria viver. Eu, de certa forma, admito que em última análise o racismo é uma perturbação na análise, que as pessoas fazem, do desejo inato e atracção natural, que sentem pelo portador de genes diferentes e capazes de providenciar o melhor “cocktail” e mais apurado “flavour” para a sua descendência, sobretudo no que diz respeito à saúde, pois todas a outras características como cor de olhos, tipo de cabelo e tonalidade da derme, se comparadas com esta, são absoluta e confrangedoramente fúteis. Para terminar, à boa maneira de Monsieur De La Fontaine, vou deixar uma enigmática moral da história, ou melhor, ao melhor estilo bíblico vou fazer uma parábola. Da inversa forma em que daqui a alguns anos não haverá bananas, também deixará de haver raças puras a não ser por caprichos estéticos e para fins de exibição em jardins zoológicos e botânicos ou concursos dominicais. Raças puras como algumas caninas são aberrações da natureza na medida em que os defeitos se combinam, perpetuam e consubstanciam-se nos indivíduos. Antes dos imperialistas e colonialistas (não confundir com colonizadores) americanos se tornarem no colosso agro-alimentar que ainda são hoje, havia imensas variedades de bananas nos trópicos de várias longitudes, mas nenhuma dessas era um produto que se compadecesse com os desígnios destes novos tempos em que os alimentos dão quase uma volta ao mundo e estão disponíveis todo o ano e mesmo assim conseguem ser mais baratos que os produzidos localmente. Dessa forma foi criada por selecção humana uma variedade de banana que preenchia todos os requisitos incluindo elevada resistência a vários tipos de condicionantes… mas não a todos. Consequentemente deixaram-se de cultivar as outras variedades sem o cuidado de se fazer um banco de sementes, pelo que agora, ao descobrir-se certas pragas para as quais não há tratamento e não havendo um acervo genético para preservar a espécie, a banana está literalmente condenada à extinção. Por isso pergunto amigo leitor. Será que nós seremos todos uns bananas? Será que o meu caríssimo leitor quer ser banana? Então por favor não se comporte como um ou uma banana e seja um homem de alma e coração cheios de, mais do que bondade… inteligência, pois esta determina em sentido unívoco aquela. Afianço-vos. Para a semana vou publicar uma entrevista que irei fazer ao líder da extrema-direita portuguesa pois a comunicação social lusitana tem vetado estes grupúsculos à absoluta e infame indigência e anonimato. Felizmente no Folha 8 não há censura nem somos servos do politicamente correcto. Doa a quem doer… a verdade acima de tudo.