Folha 8

SEREMOS BANANAS? (II)

- BRANDÃO DE PINHO

Perante esta afirmação e partindo desta premissa, imperativo­s legais obrigam-me a fazer o seguinte aviso: «Trata-se de uma afirmação não aconselháv­el a menores de 16 anos ou a mentes mais susceptíve­is e não deve ser lida por quem aparentar anomalia psíquica, aparente estar embriagado ou seja menor intelectua­lmente. Grávidas, idosos e quem leve crianças ao colo terão prioridade. O prazo de validade expira uma semana após publicação. O autor não se responsabi­liza por danos, directa ou indirectam­ente causados pelo excessivo consumo do texto decorrente da premissa.» Como é óbvio trata-se de uma generaliza­ção grosseira pois não fiz uma bateria complexa de testes aos mais de 10 milhões de portuguese­s nem sequer cheguei a um consenso sobre o que é ser português (a extrema-direita lusitana alega que o dirigente da associação Sos-racismo não é português apesar de ele ter “Cartolina de Cidadania” portuguesa) e sobre a definição exacta do fenómeno chamado racismo, sobre o qual iremos mergulhar nos parágrafos seguintes. Por vezes, em discurso verbal com aleatórios e distintos (não no sentido de serem elevados outrossim naquele de diferentes) interlocut­ores, na minha oralidade – que não poucas vezes redunda em monólogo aborrecido – fico com a sensação de que não consegui passar uma ideia que é a base da minha abordagem ao tema racismo. Não raras vezes faço a seguinte pergunta que talvez tenha mais de retórica que o desejável pois ninguém me responde – agora que penso nesse assunto -: «- Sabias que existem mais diferenças genéticas entre duas comunidade­s de chimpanzés relativame­nte próximas entre si numa floresta do vizinho nortenho Congo do que entre duas populações humanas o mais afastadas e aparenteme­nte diferentes entre si, sabendo-se que justamente os chimpanzés são os animais geneticame­nte mais parecidos connosco?» E de rompante faço uma afirmação: «- Já agora, nenhuma outra espécie tem a capacidade de mobilidade que o ser humano actualment­e tem a tal ponto de em pouco mais de 24 horas podermos chegar, quase, ao mais recôndito canto do mundo.» Segue depois a explicação que é bastante simples. A espécie humana tem um ancestral comum ao chimpanzé, é relativame­nte recente e produz biliões (biliões europeus e não americanos) de proteínas, e destas, as responsáve­is pela quantidade de melanina da pele; as responsáve­is pela textura e consistênc­ia dos apêndices capilares; as pelo tamanho das narinas e forma dos nariz, bem como as pelo tipo e tamanho de ossos craneo-faciais; as responsáve­is pela forma dos olhos (mais do que pela cor da íris); e, relacionad­as com o tamanho doutros apêndices, são uma ínfima percentage­m da totalidade de proteínas que o ser humano fabrica e que, excluindo estas que referi, são exactament­e iguais em todos os cerca de 7 mil milhões de Homo Sapiens Sapiens. O que acontece, é que, suspeito que o nosso cérebro use em demasia o sentido da visão para distinguir as pessoas e as catalogar de acordo com os mais ínfimos detalhes nomeadamen­te os da face. Desconfio que na condição patológica conhecida como prospagnos­ia em que os doentes não conseguem distinguir as faces umas das outras, talvez a propensão para o racismo seja claramente inferior. A prosa vai longa e o dever chama-me mas de certa forma o racismo existe porque a palavra existe e porque é falada mais do que o necessário – na maior parte das vezes abusivamen­te – e serve muitas vezes para expressar uma miríade de conceitos quantas vezes antagónico­s e que desobrigam o seu usuário a elaborar outros novos e raciocinar, comportand­o-se mais como um ser ruminante do que como uma entidade pensante. Esta palavra, tal como ouvi dizer uma vez o Morgan Freeman, deveria sair do léxico e tornar-se tabu (bela palavra esta e com origens que não gregas ou latinas). Se as pessoas verdadeira­mente não tivessem tempo, nem vagar, nem folia, enfim, o que se chama de tempo livre ou de lazer, assevero que não se pensaria nestes moldes e o ser humano obrigar-se-ia a ser solidário entre si, pois é a única ferramenta com que a natureza nos dotou para superarmos as agruras por si plantadas. O homem nasceu na África Austral e colonizou o mundo inteiro, mas para isso teve de fugir ao máximo do pecado da consanguin­idade e foi conseguind­o adaptar-se a novos ambientes, muitas vezes cruzando-se com as populações autóctones, de forma a que a sua descendênc­ia herdasse caracterís­ticas favoráveis em função do meio em que iria viver. Eu, de certa forma, admito que em última análise o racismo é uma perturbaçã­o na análise, que as pessoas fazem, do desejo inato e atracção natural, que sentem pelo portador de genes diferentes e capazes de providenci­ar o melhor “cocktail” e mais apurado “flavour” para a sua descendênc­ia, sobretudo no que diz respeito à saúde, pois todas a outras caracterís­ticas como cor de olhos, tipo de cabelo e tonalidade da derme, se comparadas com esta, são absoluta e confranged­oramente fúteis. Para terminar, à boa maneira de Monsieur De La Fontaine, vou deixar uma enigmática moral da história, ou melhor, ao melhor estilo bíblico vou fazer uma parábola. Da inversa forma em que daqui a alguns anos não haverá bananas, também deixará de haver raças puras a não ser por caprichos estéticos e para fins de exibição em jardins zoológicos e botânicos ou concursos dominicais. Raças puras como algumas caninas são aberrações da natureza na medida em que os defeitos se combinam, perpetuam e consubstan­ciam-se nos indivíduos. Antes dos imperialis­tas e colonialis­tas (não confundir com colonizado­res) americanos se tornarem no colosso agro-alimentar que ainda são hoje, havia imensas variedades de bananas nos trópicos de várias longitudes, mas nenhuma dessas era um produto que se compadeces­se com os desígnios destes novos tempos em que os alimentos dão quase uma volta ao mundo e estão disponívei­s todo o ano e mesmo assim conseguem ser mais baratos que os produzidos localmente. Dessa forma foi criada por selecção humana uma variedade de banana que preenchia todos os requisitos incluindo elevada resistênci­a a vários tipos de condiciona­ntes… mas não a todos. Consequent­emente deixaram-se de cultivar as outras variedades sem o cuidado de se fazer um banco de sementes, pelo que agora, ao descobrir-se certas pragas para as quais não há tratamento e não havendo um acervo genético para preservar a espécie, a banana está literalmen­te condenada à extinção. Por isso pergunto amigo leitor. Será que nós seremos todos uns bananas? Será que o meu caríssimo leitor quer ser banana? Então por favor não se comporte como um ou uma banana e seja um homem de alma e coração cheios de, mais do que bondade… inteligênc­ia, pois esta determina em sentido unívoco aquela. Afianço-vos. Para a semana vou publicar uma entrevista que irei fazer ao líder da extrema-direita portuguesa pois a comunicaçã­o social lusitana tem vetado estes grupúsculo­s à absoluta e infame indigência e anonimato. Felizmente no Folha 8 não há censura nem somos servos do politicame­nte correcto. Doa a quem doer… a verdade acima de tudo.

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