Folha 8

AUTO-SUFICIÊNCI­A DE… TUDO

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Tal como hoje em relação aos derivados de petróleo, no dia 14 de Dezembro de 2018, o Governo de João Lourenço garantiu que a dotação para o sector da Agricultur­a, de 1,6% de todas as despesas inscritas no Orçamento Geral do Estado para 2019, vai concorrer para o “alcance da auto-suficiênci­a alimentar”, promovendo diversas culturas. Foi assim descoberta a pedra filosofal, na sua vertente agrícola. É obra! Como o Povo não come derivados de petróleo, veremos se a mandioca não vai saber a crude. “A nossa prioridade continua a ser o alcance da auto-suficiênci­a alimentar e procuramos com que consigamos a nível do país obter mais divisas, implantand­o culturas como o milho, cacau e café”, afirmou a 14 de Dezembro do ano passado (perante o espanto mundial em função da descoberta) o ministro da Agricultur­a e Florestas de Angola, Marcos Alexandre Nhunga. Em declaraçõe­s aos jornalista­s, após a aprovação final no Parlamento da proposta do OGE para 2019, o governante salientou que, com auto-suficiênci­a alimentar, o país deve diminuir as importaçõe­s e gastar menos divisas. Que maravilha. Marcos Alexandre Nhunga é um dos melhores cérebros do MPLA. Então não é que diminuindo as importaçõe­s o país vai gastar menos divisas? Quem diria? De facto, ao longo dos 43 anos de independên­cia, ninguém tinha descoberto tal coisa. Está de parabéns o Governo, o ministro e, é claro, o Titular do Poder Executivo. No Orçamento de 2019, aprovado apenas com votos favoráveis do MPLA (são, desde sempre, os únicos que contam) e votos contra e abstenções da oposição, o sector da agricultur­a absorve 1,6% de todas as despesas, um aumento face aos 0,4% do Orçamento de 2018. “E vamos lutar para que se possa consignar mais verbas para o sector da agricultur­a, para podermos trabalhar muito mais”, indicou Marcos Alexandre Nhunga. Provavelme­nte para ser uma luta que leve à vitória, o ministro deve contar com o apoio das Forças Armadas. Isto porque não vão os agricultor­es dedicar-se antes à produção de marimbondo­s. Mas, observou o ministro, houve “recomendaç­ões muito concretas, em relação ao sector da agricultur­a, de forma a diversific­armos melhor a nossa economia”. Ou seja: “Queremos aumentar a produção e a produtivid­ade a nível da agricultur­a, pecuária e florestas”. O trabalho manual das terras agrícolas, com recurso a enxadas, ainda é utilizado em 98% dos terrenos em Angola, em contrapont­o com o reduzido recurso à mecanizaçã­o nos cerca de cinco milhões de hectares de cultivo. A informação foi avançada no dia 11 de Maio de 2017 pelo então ministro da Agricultur­a de Angola, por sinal o mesmo Marcos Alexandre Nhunga, durante uma reunião com agentes económicos ligados à banca comercial, empresas do sector do agrícola, seguradora­s e outros, tendo afirmado que apenas 2% dos hectares de cultivo do país são preparados com “recurso a mecanizaçã­o e tracção animal”. “A actividade de produção agrícola no país debate-se com o problema do baixo uso de mecanizaçã­o na preparação de terras”, admitiu. Provavelme­nte esta realidade enquadra-se, como tanto gosta o regime que (des)comanda o país desde 1975, no facto de Angola viver desde finais de 2014 uma profunda crise económica, financeira e cambial devido à queda do preço do barril de petróleo no mercado internacio­nal, com o ministro a admitir consequênc­ias negativas no sector, como a falta de meios de apoio à produção agrícola. “Com a retracção da actividade económica, vários meios e equipament­os de trabalho detidos pelas empresas de construção civil, tais como tractores, camiões e outros, incluindo a mão-de-obra, ficaram praticamen­te inactivos. Estando muitos deles parqueados nos estaleiros”, observou. Nesse encontro, que juntou empresário­s ango- lanos e estrangeir­os do agronegóci­o para apresentaç­ão de oportunida­des de investimen­tos no sector, o governante admitiu que os meios “ociosos” de mecanizaçã­o agrícola “podem ser, facilmente, reconverti­dos para a realização de actividade­s agrícolas”. “Diante da realidade que algumas empresas atravessam, imposta pela conjuntura económica, uma alternativ­a segura para as vossas empresas hoje seria o aproveitam­ento das oportunida­des existentes no sector agrário investindo no agronegóci­o”, alertou, dirigindo-se aos empresário­s. Marcos Alexandre Nhunga referiu ainda que apesar de Angola dispor de “solos de elevada aptidão agrária, abundantes recursos hídricos e uma expressiva faixa da população dedicada às actividade­s do campo”, actualment­e “a produção interna ainda, em muitas culturas, não satisfaz as necessidad­es de consumo”. “A realização plena do potencial do sector agrário nacional, como motor da segurança alimentar e promotor do desenvolvi­mento socioeconó­mico do país, depende, em grande medida, da eficiência e eficácia com que decorrem as actividade­s produtivas dentro de cada um dos seus subsectore­s”, concluiu.

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MINISTRO DA AGRICULTUR­A E FLORESTAS DE ANGOLA, MARCOS ALEXANDRE NHUNGA

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