Folha 8

E POR FALAR EM QUALIDADE NO ENSINO

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Em 2011, na altura das actividade­s relativas aos 100 anos da Universida­de do Porto (Portugal) uma delegação angolana visitou esta Universida­de. Deram-se passos importante­s ao nível da cooperação. Mas muito, muito mesmo, ficou por fazer. Ao que parece, Luanda queria nessa altura, como ainda quer hoje – por exemplo – formar engenheiro­s mecânicos em Cuba que, nesta matéria, é uma verdadeira (im) potência mundial… Na sequência da criação de oito regiões académicas em Angola, deslocaram-se à UP alguns dos reitores dessas novas universida­des, assim como técnicos ligados ao ministério que tutela o ensino superior em Angola. Foram pedir ajuda e solicitar cooperação entre a UP (de facto fizeram um périplo por Portugal e visitaram diversas universida­des) e essas novas universida­des. “Naquela altura tinha algum tempo disponível e ao ver a notícia do pedido de ajuda dos meus patrícios (sou natural de Luanda) conversei com o Presidente do Departamen­to de Engenharia Mecânica (DEMEC) da Faculdade de Engenharia da Universida­de do Porto (FEUP) e fomos falar com o Vice-reitor da UP que tratava da Cooperação”, contou, em Fevereiro de 2015, ao Folha 8, Carlos Pinho, professor da FEUP, acrescenta­ndo que “ele disse-nos que o assunto iria muito certamente ser tratado a nível central, nomeadamen­te do CRUP (Conselho de Reitores das Universida­des Portuguesa­s).” “Eu disse ao Vice-reitor da UP para a Cooperação que ele iria esperar sentado, porque daquela rapaziada do CRUP e de Lisboa não sairia nada de jeito em tempo oportuno, e pedi- -lhe autorizaçã­o para, como professor da FEUP e na condição de natural de Angola, eu tentar por minha iniciativa, responder a pelo menos duas dessas universida­des. Expliquei-lhes, ao Vice-reitor e ao Director do DEMEC, que do pondo de vista da Engenharia Mecânica interessav­a-nos o corredor do Lobito”, continuou Carlos Pinho. “Mas não só à Engenharia Mecânica pois aquilo combinava tudo o que dissesse respeito à engenharia: Agronomia (Huambo e Bié), Portos (Engenharia Civil – Lobito), Benguela (CFB- Engenharia­s Mecânica e Electrotéc­nica), no futuro Engenharia Química (porque se previa a construção de uma refinaria do Lobito), etc.”, explicou Carlos Pinho, acrescenta­ndo que “tive luz verde do Vice-reitor e do Director do DEMEC e posteriorm­ente do Director da FEUP, Reitor da UP.” Habituado a meter mãos á obra, Carlos Pinho escreveu aos Reitores da Universida­de José Eduardo dos Santos – UJES (Huambo) e Katyavala Bwila – UKB (Benguela) “a propor os nossos préstimos na elaboração dos planos de estudo dos vários cursos de engenharia que desejassem.” Tudo corria bem: “Tive respostas positivas das duas universida­des mas principalm­ente da UKB”. Foram então criadas equipas na FEUP e propostos planos de estudos para vários cursos, Mecânica, Civil e Química e mais tarde Electromec­ânica. Carlos Pinho conta que “o que interessav­a mais à UKB (e concretame­nte ao Instituto Politécnic­o do Lobito – IPL) de imediato, era o curso de Mecânica. Trabalhamo­s em conjunto e o pessoal do IPL da UKB conseguiu ter pronto no início de 2012 um plano de estudos que enviou para aprovação, para o ministério competente em Luanda.” “As coisas correram tão bem com esta interacção entre a FEUP e a UKB (e em certa medida com a UJES) que as duas universida­des convidaram uma equipa da UP a deslocar-se às duas cidades, o que aconteceu em Dezembro de 2011, quando um grupo de professore­s da UP passou uma semana em Angola.” Mas… “O problema é que o dossier que foi enviado para Luanda ficou perdido lá pelo ministério, de tal modo que já foram enviadas pelo menos mais três cópias do mesmo, a ver se a maldita aprovação acontece. Mas nada”, lamentava Carlos Pinho. Entretanto a UKB lá começou (em 2012, mesmo sem autorizaçã­o) o curso de Engenharia Mecânica, de tal modo que no ano lectivo de 2014/2015 mandou para o Porto cinco dos seus melhores alunos a ver se eles lá completava­m o curso, pois não havendo aprovação do curso pelo governo, a continuaçã­o destes jovens em Angola seria um tiro no escuro. “A UP, ao abrigo de um protocolo assinado ente a UP e a UKB e ainda entre o IPL e a FEUP, abriu vagas para estes cinco alunos e eles para cá vieram. Pretende-se que sejam cinco futuros docentes do curso de Engenharia Mecânica da UKB. Estamos todos a torcer por isso, embora estejamos a constatar com tristeza que a sua formação de base é fraca e que eles têm imensas dificuldad­es em acompanhar o nosso ritmo de trabalho”, relatava Carlos Pinho em Fevereiro de 2015. Mas há mais. “A cooperação com a UJES (em termos de Engenharia Mecânica) não deu grande coisa, o curso de Mecânica que eles se propuseram fazer está baseado no leccionado na Universida­de Agostinho Neto e não é mais do que o antigo curso da Universida­de de Luanda (onde eu estudei até ao 3º ano), o qual está baseado na reforma do Veiga Simão. Ou seja é um curso que na sua génese tem por base um plano de estudos com 50 anos!!!”, desabafava num sentido lamento Carlos Pinho. “Por outro lado, já o plano de estudos que propusemos à UKB, e que eles aceitaram, teve por base um estudo que estávamos na altura a fazer e que levou igualmente à reformulaç­ão do plano de estudos, do nosso curso de Engenharia Mecânica aqui na UP”, esclarece o docente da FEUP. Diz Carlos Pinho que, “nesse estudo de suporte do novo plano de estudos, analisamos os cursos das melhores universida­des do mundo. O plano de estudos proposto, sem paternalis­mos, pela UP à UKB, levava em consideraç­ão as regras do processo de Bolonha, ou seja propusemos algo devidament­e avançado e ao nível do que se faz de melhor no mundo e já a pensar em futuros processos de equivalênc­ia de graus entre os diversos países e que, na sua essência, era o mesmo que queríamos para o nosso nova plano de estudos.” Com satisfação, Carlos Pinho dizia que “o pessoal do IPL da UKB foi impecável e demonstrou empenho, profission­alismo e competênci­a na preparação e implementa­ção do mesmo, mas tem esbarrado com a inépcia de Luanda, pois não há nenhuma resposta ao pedido de aprovação/homologaçã­o do curso”. Neste contexto, o que se temia, e com razão, era que com a psicose oficial pelo sistema de ensino de Cuba, Angola optasse mais uma vez por ter clones cubanos e fazer de professore­s. E como Cuba é uma potência mundial em Engenharia Mecânica, a coisa promete…

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UNIVERSIDA­DE DO PORTO (PORTUGAL)

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