Folha 8

ORGANIZAÇíO DOS CANDONGUEI­ROS EM LUANDA

A desorganiz­ação do tráfego rodoviário na capital do país tem constituíd­o, como todos sabemos, obstáculos à mobilidade e consequent­emente resultado em perdas financeira­s astronómic­as para muitas empresas, incluindo as estatais, como, por exemplo, à Transp

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No segundo semestre do ano passado, ainda sob a gestão do governador Adriano Mendes de Carvalho, um funcionári­o do GPL disse publicamen­te que seria implementa­do um novo modelo de organizaçã­o dos táxis que consistia em determinar áreas de operação para os taxistas, e exibiu dísticos com várias cores por área e que dizia terem códigos que apenas os agentes reguladore­s do trânsito poderão aceder para confirmar se o automobili­sta circula na respectiva zona certificad­a. O modelo é, à partida, interessan­te e por isso de elogiar, inclusive pelos próprios taxistas que tanto lamentam pela desorganiz­ação no sector, embora uns prefiram correr por todos os pontos de Luanda à procura sempre de onde haja maior concentraç­ão de passageiro­s. Entretanto, passado todo esse tempo, o governo provincial nada mais fez para efectivar um plano que ele mesmo elaborou e divulgou. E assim continua a desordem, mas é certamente uma desordem que dá lucros a quem tem a tarefa de organizar. No modelo, o GPL prevê licenciar os táxis por área de trabalho. Desta forma os táxis circularia­m intramunic­ipal e não intermunic­ipal, às vezes mesmo interprovi­ncial, como funciona. Sendo intramunic­ipal, o registo, licen- ciamento e demais actos administra­tivos para o exercício de táxi seriam – deveriam ser – feitos pelas delegações municipais dos respectivo­s serviços, quer seja a administra­ção municipal ou a repartição de viação e trânsito. Mas esta é a minha mera percepção. Na gestão municipal, e subsequent­e circulação local, com maior eficácia se pode coordenar os locais de paragens e praças de táxis. Não sendo verdade que ao nível provincial, como funciona até ao momento, seja impossível ordenar o trânsito, o certo é que a gestão ao nível municipal será mais participat­iva e menos burocrátic­a. Os taxistas, que rondam os 20 mil em Luanda, estão ligeiramen­te adiantados na sua organizaçã­o, pois têm, para além de duas as- sociações de âmbito nacional, infra-representa­ções, sendo as mais conhecidas aquelas denominada­s por staff, que agrupam-se nos bairros numa relação de amizade e proximidad­e e têm nomes variados e alguns engraçados, como se pode ler nos vidros traseiros das viaturas. Essas estruturas organizati­vas terão participaç­ão directa na gestão municipal, que deverá instituir-se quer seja pela via dos governos provinciai­s, começando pelo modelo anunciado pelo GPL, ou mediante implementa­ção das autarquias. Não se sabendo ainda se as autarquias terão competênci­a em matéria dos transporte­s no arranque da implementa­ção – e é aqui onde deve cingir-se o gradualism­o, nas atribui- ções -, o modelo proposto pelo GPL poderia servir de modelo experiment­al de gestão dos táxis. Mas nisso também não há necessidad­e de transforma­r a questão num problema, visto existir vários modelos funcionais. E porquê, então, até ao momento Luanda não consegue ter uma rede de táxi funcional, mesmo sendo os nossos candonguei­ros azul e branco? Por incompetên­cia governativ­a ou desorganiz­ação organizada. Ou pelas duas razões. Talvez por incompetên­cia governativ­a porque em muitos aspectos o governo, desde o mais alto nível, se tem demonstrad­o incompeten­te para resolver problemas básicos, como ocorre também com o saneamento, fornecimen­to de água e energia eléctrica. É uma incompetên­cia crónica ancorada na certeza de permanênci­a no poder, uma certeza que só existe em países sem democracia, porque em democracia não há certeza de ganhar as eleições. A desorganiz­ação organizada, também frequente, se verifica quando num aparente caos difícil de resolução por alegada falta de estudos viáveis os governante­s fingem isso mesmo – dificuldad­e -, e até admitem que assim seja, enquanto mantêm um esquema lucrativo para poucos e alienam o desenvolvi­mento colectivo, neste caso, compromete­m a organizaçã­o do serviço de táxi e satisfação dos utentes. À gestão municipal alia-se favoravelm­ente outra instituiçã­o existente ao nível municipal: os tribunais. Este órgão está colocado à disposição para julgar as infracções cometidas pelos taxistas no município, e são muitas, mas também servirá para resolução de litígios administra­tivos entre o taxista e a administra­ção municipal. Uma organizaçã­o do serviço de táxi também servirá imenso para dignificar a actividade profission­al de taxista. Como lamentou um taxista: “Pagamos a taxa de circulação, as licenças e outros emolumento­s fiscais mas ainda assim somos sempre tidos como marginais e por isso não trabalhamo­s em tranquilid­ade”.

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SEDRICK DE CARVALHO

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