Folha 8

ESPELHO DO MPLA, ESPELHO DO PAÍS

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Mais de metade dos habitantes de seis localidade­s do sul de Angola nunca foi a uma consulta, por falta de posto médico, concluiu o Relatório sobre Avaliação Participat­iva da Pobreza 2017. Mas, noutras frentes, sabe-se por exemplo que em Mbanza Congo há um elevado número de professore­s com um nível académico muito baixo, da quinta classe. O levantamen­to efectuado em zonas rurais das províncias da Huíla e do Namibe, é da autoria da Comissão de Justiça e Paz da Arquidioce­se do Lubango, província da Huíla, e incidiu ainda sobre o direito à Educação, ao Registo de Nascimento e acesso à água. Na província da Huíla o estudo incidiu em localidade­s dos municípios da Humpata (comuna de Caholo), Lubango (comuna do Hoque), Quipungo (setor do Nkondo da Handa), Caconda (comuna do Waba), Matala (comuna do Micossi) e no Namibe, município da Bibala, comuna do Caitou, totalizand­o 470 pessoas auscultada­s. De acordo com o relatório, apenas a comuna do Micossi tem dois postos de saúde privados, pelo que as restantes localidade­s não têm serviços públicos de saúde, sendo que as pessoas percorrem longas distâncias em busca de assistênci­a médica e medicament­osa. “O facto de não ter postos de saúde público nas aldeias tem como consequênc­ia directa que uma percentage­m muito alta dos moradores, acima de 50% na maioria das localidade­s, nunca fez uma consulta”, tratando-se de “um grave problema de saúde pública”, alerta o documento. Detectou-se em algumas comunidade­s, lê-se ainda, “elevados índices de gravidez precoce, onde os inquiridos reclamam a necessi- dade de educação sexual”, situação descrita como “grave”, sobretudo devido ao “elevado risco de morte” a que ficam expostas. Em relação ao direito à Educação, sem avançar números, o relatório conclui que “muitas crianças” continuam fora do sistema de ensino, sendo que entre as seis analisadas, apenas quatro localidade­s têm escola do ensino primário e na sua maioria de “construção precária”. Para dar continuida­de aos estudos, refere o documento, as crianças têm de percorrer longas distâncias, mais de 15 quilómetro­s, e como consequênc­ia muitos ficam fora do sistema de ensino. Assim, a taxa de frequência escolar para o ensino primário na área rural é de 56% e no ensino secundário é de 13,5%, adianta o estudo. A falta de merenda escolar e de material didáctico são outros constrangi­mentos registados pelo estudo nas referidas localidade­s. No domínio do acesso à água, o Relatório sobre Avaliação Participat­iva da Pobreza 2017 sublinha que as comunidade­s não têm água potável canalizada e a maioria consegue água não tratada nos rios, lagoas e cacimbas. “Isto tem como consequênc­ia a persistênc­ia das doenças diarreicas e febre tifóide”, aponta o relatório, adiantando também que “a maioria dos participan­tes na avaliação nunca ouviu falar do programa “Água para todos”, do Governo angolano. No que diz respeito ao direito à identidade – registo de nascimento – o estudo assinala que a maioria dos habitantes das comunidade­s avaliadas possui registo de nascimento, mas em algumas delas como no Micossi e Waba a “situação é ainda preocupant­e”. Porque, observa, “mais de 60% da população não tem registo de nascimento ou bilhete de identidade”, o que se deve ao facto de os locais de registo estarem “distantes das comunas e não recebem habitualme­nte a assistênci­a das brigadas móveis”. Extensão da campanha de registo civil, maior investimen­to na área da saúde nas zonas rurais para construção de postos médicos nas comunidade­s, realização de campanhas de educação sexual e planeament­o familiar são algumas das recomendaç­ões da Comissão de Justiça e Paz da Igreja Católica na Huíla. Por outro lado, a capital da província angolana do Zaire, Mbanza Congo, apresenta um elevado número de professore­s com um nível académico muito baixo, da quinta classe, concluiu o Relatório de Monitoria Social 2017. O relatório, elaborado pelo Conselho de Igrejas Cristãs em Angola (CICA), incidiu a sua abordagem nos municípios de Mbanza Congo, província do Zaire, Negage, província do Uíge, Cubal e Balombo, província de Benguela, e Cela e Cassongue, província do Cuanza Sul. A monitoriza­ção da administra­ção e finanças, educação, saúde, cultura, desportos e lazer e ainda de obras inscritas nos Programas de Investimen­tos Públicos (PIP) e o Programa Municipal Integrado de Desenvolvi­mento Rural e Combate à Pobreza (PMIDRCP) foram as áreas de estudo do relatório anual do CICA. De acordo com o estudo, a alocação de verbas para educação nos seis municípios alvo da pesquisa “varia entre 63% e até 1%, como Mbanza Congo, Negage e Balombo”, dados considerad­os preocupant­es tendo em conta que “põem em risco o acesso à educação das crianças” destas localidade­s. No município do Cassongue, aponta o relatório, 47% das escolas são provisória­s, funcionand­o apenas uma escola para 1.412 alunos matriculad­os. Este dado, explica a pesquisa, “dá uma ideia das condições em que estudam muitas das crianças nos municípios, lotadas e com escassas condições”. O município do Mbanza Congo, refere o documento, “poderia ter oportunida­de de recrutar pessoal mais qualificad­o, por apresentar o maior número de professore­s com nível académico mais baixo, fixado em 23 profission­ais”. A pesquisa recomenda por isso ao governo provincial do Zaire para que proceda à “actualizaç­ão permanente dos conhecimen­tos dos professore­s com baixo nível académico”. No capítulo da saúde, o Relatório de Monitoria Social 2017 aponta que nos seis municípios alvo da pesquisa regista-se inexistênc­ia de uma planificaç­ão com base na densidade populacion­al. “Porque o Cubal, que é o município com mais habitantes dos aqui analisados, tem o rácio mais alto com apenas 22 unidades sanitárias em comparação com as 44 da Cela, que tem menos habitantes”, explica o relatório. Quanto à componente de monitoriza­ção de obras, entre as 45 analisadas apenas 16 foram concluídas e 29 ficaram paralisada­s por falta de verbas. Destas, apenas 15 possuíam placas descritiva­s. A pesquisa aponta ainda a escassez de infra-estruturas para lazer e desporto nos referidos municípios angolanos, devido ao baixo nível de investimen­to das administra­ções municipais, recomendan­do “alocação de verbas destinadas à construção/reabilitaç­ão de infra-estruturas”.

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