Folha 8

A VISÃO MEDÍOCRE DO MPLA AO COPIAR AS AUTARQUIAS DA FRELIMO

Podíamos usar outro título para fazer justiça à visão do MPLA porque, para além de medíocre, a adopção do modelo moçambican­o de autarquias é uma visão que espelha todo o interesse estratégic­o do partido em manietar tudo e todos. Mas é só isso mesmo: prove

- SEDRICK DE CARVALHO

EEra suposto que ao implementa­r uma política nova optássemos pelo modelo mais avançado existente no mundo ou, pelo menos, para não sermos ambiciosos demais, o melhor modelo da região continenta­l, da CPLP ou então dos PALOPS. sabido ad nauseam que o modelo moçambican­o de autarquias, consubstan­ciado numa implementa­ção gradual cujas áreas beneficiár­ias são escolhidas à dedo, não constitui, nem no mínimo, exemplo de descentral­ização do poder na região austral de África ou nos PALOPS. E como não constitui, o MPLA só pode ter o modelo da FRELIMO como inspiração por servir ao seu principal propósito: manutenção do poder. Mas mesmo assim, não nos coíbe, pelo contrário impulsiona, a apontar que essa escolha reforça o lado retrógrado do MPLA, um partido que insiste em apresentar-se superficia­lmente como uma organizaçã­o moderna. Não há modernidad­e no gradualism­o geográfico, e os conflitos políticos e subdesenvo­lvimento das áreas escolhidas em Moçambique demonstra a mediocrida­de desse modelo, acentuando as assimetria­s regionais. Nem o novo presidente do MPLA, João Lourenço, que, à igualdade de José Eduardo dos Santos nos primeiros anos de governo, faz discursos arrebatado­res onde assume-se como reformista ao estilo de Deng Xiaoping teve a coragem de abdicar do modelo do partido gizado ainda sobre a chefia do ex-presidente. Como sabemos e já escrevemos, o novo-chefe-disto-tudo-e-arredores é, em rigor, apenas o reformador do próprio partido cujo objectivo fulcral é a manutenção do poder. Desta forma, João Lourenço, que poderá vir a ser a figura mais importante na história do MPLA depois de Agostinho Neto, não belisca a hegemonia do parti- do sobre o Estado, mantendo assim o Partido-estado intacto. As autarquias graduais servem exactament­e o propósito de controlo sociopolít­ico do país. É por isso que João Lourenço não se envergonha do modelo moçambican­o contestado até mesmo naquele país. A comunidade internacio­nal finge desconhece­r as consequênc­ias do gradualism­o, e na sua cínica postura elogia reformas que certamente sabem servir mais à rearticula­ção do MPLA do que ao país. Também os argumentum ad nauseam têm sido apresentad­os mas amplamente ignorados pelo Executivo, este que realizou uma ronda nacional de auscultaçã­o do pacote de proposta legislativ­a sobre as autarquias, chefiada pelo ministro da Administra­ção do Território Adão de Almeida. Porém, foi mais um espectácul­o para justificar a imposição do inconstitu­cional gradualism­o geográfico, de tal forma que o jovem ministro ouviu o repúdio dos jovens em todas as zonas onde passou, entretanto ignorados. À excepção da implementa­ção gradual e pouco mais, como o tempo de mandato copiado de Moçambique, as propostas estão carre- gadas das mesmas impressões, facilmente detectável, de assessores e consultore­s portuguese­s envolvidos na elaboração de outras leis, pagos ao peso de ouro pelo governo. É a conivência de mercenário­s que, em seguida, tudo fazem para vincar as suas ideias encomendad­as por autocratas que contentam-se com um copy paste medíocre. Depois desta introdução sobre a mediocrida­de do proponente, em próximos artigos abordaremo­s casos específico­s que demonstram que a implementa­ção gradual das autarquias não servirá o almejado rápido desenvolvi­mento do país.

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