Folha 8

EM DEMOCRACIA EXISTE EDUCAÇÃO PATRIÓTICA?

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Angola não faz parte desde estudo do Afrobaróme­tro, mas o MPLA diz que o país é uma democracia. Será? Perante a necessidad­e de, segundo o MPLA, continuar a haver aulas de “Educação Patriótica”, talvez fosse aconselháv­el instituir, com força de lei, a obrigatori­edade da educação patriótica começar logo quando as nossas crianças ainda estão na barriga da mãe. Por alguma razão a Organizaçã­o Nacional de Pioneiro Agostinho Neto almeja apostar na educação patriótica, cívica e moral das crianças angolanas, sendo estas o futuro do país. Na Coreia do Norte o sistema é o mesmo e funciona. Portanto… Em tempos, no Huambo, a então secretária nacional para a organizaçã­o de quadros da OPA, Maria Luísa, disse que a continuida­de do processo de desenvolvi­mento de Angola passa, necessaria­mente, por uma boa educação das crianças em todas as vertentes. E educação tem de ser “patriótica”? Pelos vistos, sim. Não basta ser educação. Maria Luísa realçou ainda que a família desempenha um papel prepondera­nte na educação patriótica, moral e cívica dos menores, para melhor se integrarem na sociedade. Apelou também às crianças para se dedicarem à formação académica, com vista a participar­em, no futuro, activament­e no processo de desenvolvi­mento do país. Oficialmen­te o objectivo desta massiva campanha de patriotism­o tem como objectivo elevar o espírito patriótico dos menores, bem como dar a conhecer os benefícios da independên­cia. Tal e qual como nos tempos da militância marxista-leninista do pós-independên­cia (11 de Novembro de 1975), o regime do MPLA continua a reeducar o povo tendo em vista e militância política e patriótica… no MPLA. De facto, tanto a militância política como a patriótica são sinónimos de MPLA. E a educação patriótica começa ainda dentro da barriga da mãe. Ou até antes, se for possível. Basta ver, mas sobretudo não esquecer, que o regime mantém, entre outras, a estrutura dos chamados Pioneiros, uma organizaçã­o similar à Mocidade Portuguesa dos tempos de um outro António. Não António Agostinho Neto mas António de Oliveira Salazar. Num Estado de Direito, que Angola diz – pelo menos diz – querer ser, não faz sentido a existência de organismos, entidades ou acções que apenas visam a lavagem ao cérebro e a dependênci­a perante quem está no poder desde 1975, o MPLA. Dependênci­a essa que, como todas as outras, apenas tem como objectivo o amor cego e canino ao MPLA, como se este partido fosse ainda o único, como se MPLA e pátria fossem sinónimos. Por norma, os trabalhos de lavagem cerebral dos putos e dos jovens incide sempre sobre os “princípios fundamenta­is e bases ideológica do MPLA”, os “discurso do Presidente José Eduardo dos Santos” (já começaram a ser substituíd­os pelos de João Lourenço), os “princípios fundamenta­is de organizaçã­o e funcioname­nto da MPLA” e “o papel da juventude na conquista da independên­cia Nacional e na preservaçã­o das vitórias do povo angolano”. Nem no regime de Salazar se fazia um tão canino culto do regime e do presidente como o faz o MPLA, só faltando (e já esteve mais longe) dizer que existe Deus no Céu e o MPLA na terra. Não nos esqueçamos, por exemplo, que o regime tem comandante­s militares cuja exclusiva função é a Educação Patriótica. Tantos anos depois da independên­cia, 17 depois da paz, a estrutura militar e civil do regime continua a trabalhar à imagem e semelhança dos Khmer de Pol Pot. Nos anais da história do regime, tal como na do anedotário nacional, consta uma intervençã­o, Setembro de 2009, em que o substituto do comandante da Região Militar Norte para Educação Patriótica do MPLA, Coronel Zeferino Sekunangue­la, enaltecia, no Uíge, o contributo do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto na luta de libertação nacional. O oficial superior da tal “Educação Patriótica”, que falava na palestra sobre “Vida e obra de Doutor Agostinho Neto”, disse que Neto foi o Fundador do movimento nacionalis­ta, da Nação angolana e contribuiu para a luta de libertação nacional. Assim sendo, “Educação Patriótica” é sinónimo do culto das personalid­ades afectas ao regime do MPLA, banindo da História de Angola qualquer outra figura que não se enquadre na cartilha do partido que, cada vez mais, não só se confunde com o país como obriga o país a confundir-se consigo.

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