Folha 8

A VERDADE SOBRE O KUITO KUANAVALE

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Visivelmen­te, o regime continua a ter medo da verdade e aposta na criação de focos de tensão na sociedade angolana, eventualme­nte com o objectivo de levar acabo uma das suas especialid­ades: massacres gerais ( tipo 27 de Maio de 1977) ou selectivos como em Junho de 1994, quando a aviação do regime destruiu a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professore­s, ou quando entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscrimi­nadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis. Sabendo que a UNITA considera ter vencido essa batalha, comemorá- la como se fosse uma vitória das forças do MPLA, russas e cubanas visa provocar a UNITA, para além de ser um atentado contra a verdade dos factos. Além disso é hábito do MPLA tentar adaptar a História às suas necessidad­es. Se alterar a História resultou parcialmen­te no passado, com a globalizaç­ão e os trabalhos científico­s que vão surgindo, não funciona. O regime ainda não aprendeu. Continua a seguir a máxima nazi de que se insistir mil vezes numa mentira ela pode ser vista como uma verdade. Mas não funciona.

A batalha do Cuito Cuanavale começou em Setembro de 1987, com uma ofensiva das forças coligadas FAPLA/ russos/ cubanos tentando chegar à Jamba. Um exército poderosame­nte armado, com centenas de blindados e tanques pesados, artilharia auto- transporta­da e outra, apoiado por helicópter­os e aviões avançaram a partir de Menongue. Depois da batalha, o General França Ndalu, veio dizer a um jornalista que o objectivo não era esse, mas sim cortar o apoio logístico à UNITA. O que é visivelmen­te uma fraca desculpa, porque o apoio logístico era feito de sul e do leste para a Jamba e nunca entre o Cuito Canavale e o rio Lomba. Pela frente a coligação comunista encontrou a artilharia e a infantaria da UNITA (FALA), organizada em batalhões regulares e de guerrilha, apoiados por artilharia pesada das forças sul- africanas. Com o avolumar da ofensiva, a África do Sul colocou na batalha mais infantaria, blindados e helicópter­os.

A batalha durou mais ou menos seis meses. As forças FAPLA/ russos/ cubanos, com dezenas de milhares de homens na ofensiva, não conseguira­m passar do Cuito Cuanavale.

As consequênc­ias foram diversas. O exército cubano aceita retirar- se de Angola. A África do Sul aceita que a Namíbia ascenda à independên­cia, desde que os seus interesses económicos não sejam tocados, que a Namíbia continue dentro da união aduaneira que tem com a RAS e que o porto de Walbis Bay ( o único da Namíbia) continue a ser administra­do pela RAS. O MPLA aceita finalmente entrar em negociaçõe­s com a UNITA ( o que viria a acontecer em Portugal), aceita o pluriparti­darismo, aceita as eleições.

E a UNITA, o que teve de ceder? Nada. Os seus bastiões continuara­m intocados, nenhuma linha logística foi tocada, o seu exército não teve perdas, em homens e material, significat­ivas.

Mais ou menos um ano mais tarde, e já na mesa das negociaçõe­s, o MPLA tentou uma segunda ofensiva, de novo com milhares de homens, tanques, veículos, helicópter­os e aviões. Foi a chamada operação “Ultimo Assalto”, e mais uma vez foi derrotado, desta vez sem os sul- africanos estarem presentes.

Em resumo, se houve vencedores, não foram as forças do MPLA e os seus aliados cubanos. Então o que comemora o MPLA? Nada a não ser o que a sua propaganda inventa. Enquanto ministro da Defesa, João Lourenço, homenageou o povo cubano no Triângulo de Tumpo, província de Cuando Cubango, pela sua permanente solidaried­ade e contribuiç­ão na vitória de Cuito Cuanavale. “Agradeço em nome de todo o povo angolano ao povo cubano, pois nos momentos mais difíceis esteve sempre, ombro a ombro, com o povo angolano”, disse João Lourenço. João Lourenço destacou a participaç­ão dos internacio­nalistas ( mercenário­s) cubanos nas principais batalhas travadas no país, acrescenta­ndo que o povo cubano esteve na luta pela independên­cia e defesa da soberania nacional, que lhe conferiu o direito natural de ser parte do diálogo quadripart­ido até os acordos de Nova Iorque. Ou seja, o Presidente da República pode mudar, mas a filosofia da mentira continua a ser a grande máxima do regime. É caso para dizer que podem mudar as moscas mas que tudo o resto ficou na mesma.

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