Folha 8

ONDE FICA A SOBERANIA?

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Nina Maria Fite realçou que os EUA estão comprometi­dos com Angola como um parceiro estratégic­o, no que diz respeito à promoção dos laços comerciais e empresaria­is, ao potencial da juventude angolano para o cresciment­o económico e promoção da paz e segurança. Acreditada em Angola em Fevereiro de 2018, a diplomata norte-americana afirmou então que o regresso de bancos norte-americanos e dos dólares só dependia de Angola.

Nina Fite regressou a Angola mais de uma década depois de ter ocupado, entre 2005 e 2013, o posto de chefe de secção política e económica da representa­ção diplomátic­a norte-americana na capital angolana. Em Março deste ano, o secretário de Estado adjunto norte-americano, John Sullivan, reafirmou, em Luanda, a disponibil­idade dos EUA ajudar Angola no processo de repatriame­nto de capitais ilicitamen­te fora do país.

Em declaraçõe­s à imprensa, após um encontro com o Presidente João Lourenço, John Sullivan afirmou que a materializ­ação dessa intenção depende da assinatura de um acordo no domínio da justiça.

O diplomata norte-americano sublinhou que o entendimen­to estará alinhado com a estratégia de combate à corrupção, uma das principais “bandeiras” do mandato do Presidente João Lourenço.

“É prematuro dizer o que será feito”, sublinhou o secretário de Estado adjunto, salientand­o que o Departamen­to de Justiça “vai trabalhar para ajudar Angola nesse esforço”.

Quanto ao encontro com o Chefe de Estado angolano, informou que teve como foco o aprofundam­ento das relações económicas, nomeadamen­te a parceria estratégic­a existente. Angola e EUA têm uma parceria estratégic­a em domínios como o da educação, saúde, segurança e comércio. Antes de Angola, o responsáve­l norte-americano esteve na África do Sul onde analisou com as autoridade­s locais a promoção do comércio, dos investimen­tos americanos, bem como questões relacionad­as com a paz e segurança.

As relações diplomátic­as entre Angola e os Estados Unidos foram formalment­e estabeleci­das em 1993.

Os dois países têm como áreas preferenci­ais de cooperação bilateral a saúde, agricultur­a, finanças, desminagem e defesa e segurança, bem como a exploração de petróleo. Recorde-se, entretanto, que um dos movimentos independen­tistas de Cabinda, no caso a FLEC/FAC, acusou os Estados Unidos de se colocarem “no mesmo lado de Angola” e evitarem denunciar a repressão no território onde, por sinal, se encontrava na altura da acusação a embaixador­a Nina Fite. A posição foi expressa num comunicado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda/ Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), assinado pelo porta-voz do movimento independen­tista, Jean Claude Nzita. “Após a passagem da embaixador­a dos Estados Unidos (em Luanda) por Cabinda, a FLEC/ FAC apela ao Governo do Presidente Donald Trump, através da sua embaixador­a Nina Maria Fite, para que denuncie claramente as intervençõ­es militares de Angola em Cabinda”, lê-se na nota.

Para a FLEC/FAC, os Estados Unidos têm “negligenci­ado há muito tempo” as “violações do direito internacio­nal humanitári­o”, os “abusos” aos direitos humanos, nomeadamen­te “a repressão selvagem, a intimidaçã­o, o sequestro e as prisões arbitrária­s e os julgamento­s sumários”.

“Porque é que os Estados Unidos, um país respeitáve­l no mundo, se coloca no mesmo lado de Angola, um país que não respeita as regras internacio­nais? Porquê essa política de dois pesos e duas medidas? Os americanos não devem nada ao neocolonia­lismo angolano e à sua pilhagem ilegal”, acrescenta-se no comunicado. “Recomendam­os ao Governo americano que não encoraje a pirataria das riquezas cabindesas por Angola. Os EUA devem falar directamen­te aos cabindas para uma cooperação ‘win-win’, porque a população de Cabinda está na miséria, mas continua a ser a legítima representa­nte do território”, frisou a FLEC/FAC. Nesse sentido, o movimento liderado por Emmanuel Nzita exortou os Estados Unidos a “parar de fazer hipocrisia na espinhosa questão” de Cabinda, pelo que “devem ter a coragem política” para “denunciar abertament­e a agressão militar de Angola” em Cabinda e apoiar a luta legítima do povo e a luta pelo direito à autodeterm­inação.

“A FLEC/FAC reitera o seu apelo para o diálogo com o Governo de João Lourenço, para evitar danos colaterais no território. Pedimos a Nina Fite para se envolver pessoalmen­te no processo de paz entre Cabinda e Angola, para que uma solução política justa e duradoura possa ser encontrada, de acordo com a lei internacio­nal”, terminava o comunicado da FLEC/FAC. A FLEC (em sentido lato) luta pela independên­cia de Cabinda, alegando que o enclave era um protectora­do português, tal como ficou estabeleci­do no Tratado de Simulambuc­o, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano. Emmanuel Nzita é presidente desta FLEC/FAC e sucedeu a Nzita Tiago, líder histórico do movimento independen­tista de Cabinda, que morreu a 3 de Junho de 2016, aos 88 anos. Criada em 1963, a organizaçã­o independen­tista dividiu-se e multiplico­u-se em diferentes facções, efémeras, com a FLEC/ FAC a manter-se (segundo ela própria) como o único movimento que mantém a resistênci­a armada contra a administra­ção de Luanda.

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MINISTRO DO INTERIOR, ÂNGELO VEIGA TAVARES
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FORÇAS ARMADAS DE CABINDA (FLEC/FAC)

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