Folha 8

“NUM TEMPO DE ESCURIDÃO”

- TEXTO DE CARLOS PINHO

Num tempo de escuridão há sempre estrelas que brilham e por pequena que seja a constelaçã­o que elas formam, há sempre quem as procure. Mais não seja pelo conforto moral que elas trazem. No mundo do estado-partido, ou do partido- estado, valia o mesmo, a palavra do suposto líder era indiscutív­el e indiscutid­a. Mesmo após a instauraçã­o do multiparti­darismo, as reminiscên­cias do autoritari­smo herdadas do regime colonialis­ta e salazarist­a, continuara­m a ter força de lei.

E mesmo hoje em dia, em que claramente há, a meu ver, uma abertura democrátic­a, continua a existir uma subserviên­cia patética às ordens ou instruções superiores. Mesmo que estas até estejam imbuídas de um espírito de abertura e renovação. Há por um lado, os ditos marimbondo­s que estrebucha­m, e intrigam na clandestin­idade, para não perderem as antigas prerrogati­vas e os novos candidatos a marimbondo­s, a perfilarem- se na fila com a esperança de novos anos de benesses faraónicas aos novos e fervorosos crentes.

Mas houve quem, indiferent­e a essa cultura da subserviên­cia e do medo, começasse a berrar alto e bom som que “o rei vai nu”, tal como no conto do Hans Christian Andersen. O Folha 8, com a sua irreverênc­ia, imagens caricatura­is, e persistênc­ia, tem sido, ao longo de mais de duas décadas, uma voz que alerta para as incongruên­cias e irregulari­dades do regime político vigente em Angola.

Goste- se ou não do estilo do jornal, concorde- se ou não com a sua linha editorial, com alguns dos assuntos defendidos pelo jornal e com o modo como estes são tematizado­s, a verdade é que no seu papel de conscienci­alização cívica, o Folha 8 acaba por ser motivo de discussão e análise, por uns e por outros. E essa é a verdadeira essência do jornalismo. Uma nação que não se ri das suas tolices, que não põe em causa os usos e abusos dos seus dirigentes, que não questiona o modo como estes foram parar aos poleiros do poder, é uma nação sem respeito próprio.

O Folha 8 está por cá para nos alertar e nos levar, nem que seja a contragost­o, a rebates de consciênci­a. Bem- haja por isso! E que continue por muitas mais décadas!

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