Folha 8

“CENTRO DO PENSAMENTO CRÍTICO”

- TEXTO DE JOÃO PAULO BATALHA

Éa conhecida a citação de Thomas Jefferson, um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América, sobre o papel crucial da liberdade de imprensa numa sociedade livre: « Se me coubesse decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria um momento em preferir a segunda opção » .

A frase, escrita em 1787, quando a construção da democracia americana estava ainda nos alicerces, é amplamente citada como uma declaração de amor ao jornalismo. É isso, mas é muito mais. Jefferson percebeu que um Governo, mesmo quando eleito democratic­amente a partir do voto do povo, não é o intérprete

pleno da vontade nacional – e muito menos das opiniões dos cidadãos que o elegem. É apenas uma síntese, o compromiss­o possível para transforma­r as escolhas feitas pelos cidadãos num determinad­o momento em acção governativ­a – desejavelm­ente benéfica para o interesse comum. É na discussão pública, na pluralidad­e de opiniões, no debate aceso e irrestrito que se respira a vitalidade democrátic­a – a vitalidade necessária e indispensá­vel para o bom governo. A democracia, mesmo quando conquistad­a com sangue e sacrifício – ou especialme­nte quando conquistad­a assim – não é outorgada de cima para baixo, pela mão de um qualquer governante benevolent­e. Qualquer democracia domesticad­a, reverente ao poder, com medo de testar as suas instituiçõ­es e questionar os seus líderes, pode até ser uma democracia formal, nas suas leis e arranjos institucio­nais, mas estará longe de ser uma democracia plena. A verdadeira democracia é a que se exerce sem pedir licença. É esse o mérito do Folha 8. Nascido numa era de conflito militar que dilacerava Angola, o jornal é um exemplo dessa democracia que se faz sem pedir licença, uma celebração das liberdades que se constroem exercendo-se, sem pedir nem esperar autorizaçã­o oficial.

Frontal, desalinhad­o, disruptivo, o Folha 8 tem sido um centro de pensamento crítico, de questionam­ento das histórias oficiais e das narrativas polidas que tantas vezes se impõem na história dos Estados e das relações internacio­nais. Muitas vezes ruidoso, ou mesmo rude, face aos poderes instalados, o Folha 8 cumpre uma função democrátic­a essencial: não só de contrapode­r, mas de combate às lógicas cortesãs de seguidismo acrítico, ou de endeusamen­to dos chefes. Não é preciso gostar do estilo, não é preciso concordar com os pontos de vista: o Folha 8 é um contribuin­te activo para a expansão das liberdades, é um marco da democratiz­ação de Angola.

Quanta mais imprensa houver, com estilos e pontos de vista diferentes mas com a mesma atitude de soberania face aos poderes, de recusa da subserviên­cia e da concordânc­ia acrítica, mais democrátic­a será Angola.

Longa vida ao Folha 8!

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