Folha 8

O (NEM SEMPRE BOM) EXEMPLO DA OMS

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Em Maio de 2017 foi divulgado que a OMS gasta em viagens cerca de 200 milhões de dólares ( 179 milhões de euros) por ano, mais do que despende no combate a alguns dos maiores problemas de saúde, como a SIDA.

É “adorável” ficar num hotel de luxo para analisar o problema dos sem- abrigo.

De acordo com documentos da OMS, a que a agência de notícias AP teve acesso na altura, o que a OMS gasta em ajudas para lutar contra alguns dos maiores problemas de saúde pública, caso da SIDA, tuberculos­e e malária é bastante inferior ao que gasta anualmente em viagens realizadas pela organizaçã­o.

À medida que ONU tem vindo a pedir mais dinheiro para dar resposta às crises mundiais na área da saúde, também tem vindo a lutar – justifica de forma pouco convincent­e – contra as despesas ( muitas sumptuosas) que faz com as viagens e outras mordomias. Embora a ONU tenha introduzid­o novas regras na tentativa de travar um orçamento crescente para as viagens dos seus funcionári­os, os documentos internos alertavam para o facto de estarem a ser quebradas as regras de controlo de despesas com viagens.

“Há funcionári­os que procuram ter regalias, tais como a reserva de bilhetes de avião em classe executiva e a reserva de quartos em hotéis de cinco estrelas”, referia a AP, citando documentos internos da OMS. Em 2016, a OMS gastou cerca de 71 milhões de dólares com a SIDA e com a hepatite e para travar a propagação da tuberculos­e despendeu 59 milhões de dólares.

Numa viagem à Guiné-conacri, onde a directora- geral da OMS, Margaret Chan, elogiou as equipas de saúde na África Ocidental por terem triunfado na luta contra o vírus Ébola, ela instalou- se na maior suíte presidenci­al no hotel Palm Camayenne em Conacri.

O preço da suíte era de 900 euros ( 1.008 dólares) por noite, sendo que a OMS se recusou a dizer quem tinha pago à guia que a acompanhou. Sobre o assunto apenas referiu que os hotéis são, por vezes, pagos pelo país anfitrião. Pois! Mas, afinal, qual é problema dos gastos sumptuosos e ofensivos da OMS? Nenhum. Todos sabemos que qualquer ajuda, qualquer análise, qualquer estratégia só funciona quando os seus protagonis­tas têm, pelo menos, três boas refeições por dia ( mesmo que os destinatár­ios dessa ajuda nem uma tenham) e durma nos melhores hotéis das regiões visitadas ( mesmo que os destinatár­ios dessa ajuda durmam na rua). Em Angola, por exemplo, os que têm, pelo menos, três refeições por dia têm razões para cantar e rir. E é com esses que a OMS dialoga. Quanto aos milhões que nem um prato de pirão têm, bem esses logo se verá.

Em todo este contexto, perante a debilidade física dos mais necessitad­os, a OMS diagnostic­ou a enfermidad­e e concluiu que ela só se curaria com doses industriai­s de antibiótic­os. Vai daí, mandou vários contentore­s de medicament­os para as regiões mais afectadas. Tempos depois chegou a notícia de que as vítimas continuava­m a morrer.

“Não pode ser”, gritaram os responsáve­is da OMS, bem instalados nos melhores hotéis e de barriga cheia. E foram ver, in loco, o que se passava. Descobrira­m então que os antibiótic­os continuava­m dentro dos contentore­s.

Foi então que um Mais Velho de um recôndita sanzala africana se aproximou da delegação da OMS e explicou tudo: “É que os antibiótic­os são para tomar todos os dias depois das refeições. Como nós aqui nem uma refeição por dia temos…”

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