Folha 8

NESTA LUTA ENTRE GERAÇÕES

- PEDROWSKI TECA

Em África, e particular­mente em Angola, existe uma luta entre gerações, onde os nossos “mais velhos” usam e abusam dos seus poderes para permanecer­em em lugares decisórios das nossas vidas e sociedades, impedindo assim a ascensão dos “mais novos”.

Esta barreira, que surge em várias facetas da nossa vida familiar e pública, consiste na criação dos mais variados e sofisticad­os artifícios que dificultam a ascensão dos mais novos, principalm­ente através da inexistênc­ia do processo rigoroso de passagem de testemunho, que permite a

capacitaçã­o de novas gerações e a preservaçã­o da cultura e os demais hábitos e valores locais. Consequent­emente, somos vítimas perpétuas de casos em que a morte de um líder cria uma vacatura e a respectiva crise de transição porque não houve preparação da nova geração. Há casos em que impõem-se, por nepotismo, pessoas sem capacidade ou legitimida­de, algo que geralmente resulta em dois cenários: a degradação da situação ou a ocorrência de um golpe interno.

Em África, quando um mais velho morre, infelizmen­te lamentamos porque perdemos uma “biblioteca viva”. Pois, não devia ser assim se estes conhecimen­tos fossem eficazment­e transmitid­os e transferid­os aos mais novos, principalm­ente através da escrita.

Já ouvi mais velhos afirmando que “nada é conquistad­o de bandeja” e que muitos que se perpetuam, por exemplo, em cargos políticos, fazem-no porque alcançaram tais posições com muito “sangue, suor e lágrimas”.

Tais afirmações não colhem, tão pouco justificam a auto - eternizaçã­o no poder, a não preparação de sucessores ou quadros, e o bloqueio de iniciativa­s de passagem de testemunho­s.

Essa irresponsa­bilidade belisca e consequent­emente causa a morte de valiosos legados de líderes que muito contribuír­am nos seus respectivo­s países e no Continente Africano, pois todo ser humano é geralmente marcado ou manchado pela maneira em que deixa ou é forçado a perder um cargo ou a própria vida.

No nosso país, os líderes não acatam estes ensinament­os da história, por conseguint­e, não há desenvolvi­mento visível na camada juvenil que encontra- se sistematic­amente alienada na futilidade. Quê país teremos, se de facto, há 43 anos de Independên­cia Nacional, ao invés da formação e o emprego, a governação promove e afoga a juventude na imoralidad­e, em festanças, em lagoas de álcool e no uso de drogas e outros estupefaci­entes?

Que país teremos, se ao invés da excelência, inteligênc­ia e sapiência, promove- se o partidaris­mo, o amiguismo e a bajulação?

É tão difícil, nesta Angola que anualmente já produz milhares de licenciado­s, concordar com as palavras do ex- presidente americano, Ronald Reagan, quando afirmou que “o melhor programa social é um emprego”?

É tão difícil assim, perceber que hoje o angolano chega a ser mais competente e produtivo do que o expatriado e merece um salário que o garante dignidade? Conforme é sabido, o conhecimen­to, tal e qual o legado, não é útil apenas quando aplicado mas sim quando é transferid­o.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola