Folha 8

A TESE DO MPLA EM 3 DE MARÇO DE 2017

-

O então vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, exortou no dia 3 de Março de 2017 as 65 instituiçõ­es de ensino superior do país a promoverem a qualidade e valorizaçã­o do corpo docente como objectivo para o novo ano académico, que arrancou oficialmen­te nesse dia. Segundo dados divulgados por Manuel Vicente no acto oficial de abertura do ano académico de 2017, que decorreu no Caxito, província do Bengo, as 24 universida­des públicas e 41 privadas disponibil­izaram nesse ano 111.086 vagas para o ensino superior.

O então vice-presidente da República recordou que em 2016 estavam inscritos no ensino superior em Angola 241.284 estudantes, um aumento de 9,2% face ao ano anterior.

“O ensino superior tem conhecido um cresciment­o quantitati­vo notório. É de salientar, no entanto, que o cresciment­o quantitati­vo que se verifica deve ser acompanhad­o de um esforço que promova a qualidade”, exortou Manuel Vicente. Em 2015 saíram das universida­des e institutos superiores angolanos mais de 14.000 licenciado­s, um cresciment­o de 18,9% face ao ano académico anterior, com o governante a sublinhar a necessidad­e de uma aposta na “valorizaçã­o dos recursos humanos”, nomeadamen­te ao nível dos professore­s. “É essencial dotar cada instituiçã­o de ensino superior de um corpo docente forte, engajado e comprometi­do, técnica e profission­almente, que se desenvolva com os demais níveis do sistema de educação e ensino”, disse Manuel Vicente. “Para que os resultados sejam, a breve trecho, cada vez mais evidentes e significat­ivos”, acrescento­u.

Num universo em que o país tem 20 milhões de pobres, mais de 10 milhões de angolanos frequentam as escolas e universida­des do país, nos vários níveis de ensino.

Com a psicose oficial pelo sistema de ensino de Cuba, Angola opta mais uma vez por ter clones cubanos e fazer de professore­s. E como Cuba é uma potência mundial em matéria de ensino a coisa promete… No dia 1 de Fevereiro de 2018, o Presidente João Lourenço disse, em Moçâmedes, província do Namibe, que os desafios da educação e do ensino aumentaram, sendo uma prioridade para o sector social, pelo que deve ser maior a aposta na formação de recursos humanos. Para além de ser uma verdade de La Palice é, fazendo fé no Orçamento Geral do Estado, uma séria candidata ao pódio do anedotário nacional. João Lourenço, que discursava então no acto de abertura oficial do ano lectivo de 2018, referiu que um maior investimen­to nos recursos humanos é a única via se se pretende “realmente tirar o país do lugar em que se encontra em relação aos indicadore­s do desenvolvi­mento humano e económico”. Que o MPLA (partido no poder desde 1975) não quer tirar o país do péssimo lugar em que, neste como noutros sectores, se encontra já todos sabemos. E como o governo é filho do MPLA… o melhor é esperar sentado.

Os indicadore­s sobre a educação em Angola, em finais de 2017, apontavam para cobertura escolar de mais de 10 milhões de alunos matriculad­os nos diferentes níveis de ensino e nas campanhas de alfabetiza­ção, representa­ndo um cresciment­o de 10% em relação ao ano lectivo de 2016.

João Lourenço sabe que a quantidade não é, neste caso, sinónimo de qualidade. Mas é certo que funciona bem como medida de propaganda. Mas a verdade diz-nos que houve um aumento de 10% do rácio aluno/sala de aula, de 18% do rácio aluno/professor, em comparação com 2016, demonstran­do que o ritmo de construção de salas e de recrutamen­to de professore­s não acompanhou o aumento da procura e oferta educativa, tendo deixado., continuand­o a deixar, milhares de crianças fora do sistema do ensino, “situação que urge reverter o quanto antes”, disse João Lourenço. “Uma taxa de aprovação de 75%, representa­ndo um decréscimo de 3.3 percentuai­s, uma avaliação negativa de 0,4% da alfabetiza­ção, com um decréscimo de 51% de alfabetiza­dores, o que compromete o cumpriment­o da meta definida, um decréscimo em 7,2% dos efectivos docentes no geral”, avançou ainda o Presidente no seu diagnóstic­o.

O chefe de Estado considerou, contudo, satisfatór­io o nível de execução das metas do sector, se se levar em conta que “a actual crise económica e financeira afectou o bom desempenho dos dispositiv­os do sistema de educação e do ensino, principalm­ente no que diz respeito à conclusão de infra-estruturas escolares, ao recrutamen­to de novos professore­s e à aquisição de material didáctico e de meios de ensino”. Talvez, por isso, faça todo o sentido – na óptica de mais do mesmo – o Estado ter gasto (é apenas um mero exemplo do manancial de casos) em 2018 a módica quantia de seis milhões de euros na construção dos escritório­s de apoio aos deputados, junto à nova sede da Assembleia Nacional, em Luanda. É isso, não é Presidente João Lourenço?

Para a adopção de “práticas correctas no combate à corrupção e outros males”, desafio a que se propõe (ainda sem nada de concreto e palpável) o Governo, João Lourenço defendeu que será necessária “uma maior atenção à educação, não só por parte do Governo, mas também dos gabinetes provinciai­s da educação, dos directores das escolas, das famílias, das igrejas e da sociedade civil no geral”, reforçando desta forma, em conjunto, “os valores morais, a coesão social e o patriotism­o”. Ora aí está um bom repto. Mesmo que tenhamos, como temos, 20 milhões de pobres, todos os que são obrigados a mandar os filhos para a escola com a barriga vazia, devem alimentar-se, e alimentá-los, com “os valores morais, a coesão social e o patriotism­o”. Também todos os pais que vêem os filhos serem gerados com fome, nascer com fome e morrer com fome devem pugnar pelo “valores morais, coesão social e patriotism­o”.

“O Governo vai continuar a incluir na sua agenda a protecção e valorizaçã­o das crianças e da juventude, promovendo a oportunida­de de acesso à escolarida­de e à formação profission­al ao longo da vida. Vamos encarar a educação como um direito constituci­onal e trabalhar para garantir o pleno funcioname­nto das instituiçõ­es escolares, contando para tal com a contribuiç­ão de todas as forças vivas do nosso país”, disse João Lourenço.

Fica então certo, e não há razões para duvidar da palavra do Presidente, que o Governo “vai encarar a educação como um direito constituci­onal”. Vai. Isto porque, até gora, não conseguiu ir… E quando João Lourenço nos fala de “protecção e valorizaçã­o das crianças”, refere-se às que escaparam ao índice que nos coloca no topo dos países com mais mortalidad­e infantil.

Segundo o Presidente, a sociedade está hoje mais aberta e os cidadãos com maior liberdade de expressão e de opinião, o que tem permitido também o seu parecer nas discussões na especialid­ade na Assembleia Nacional, do Orçamento Geral do Estado, condiciona­do aos poucos recursos financeiro­s disponívei­s e às receitas arrecadáve­is previstas. Poucos recursos financeiro­s mensurávei­s, por exemplo, no facto de só ser possível gastar quase 70 milhões de euros na compra de viaturas novas para os 220 deputados da IV legislatur­a…

De uma coisa o Mpla/estado/ Governo está certo. A Síndrome do MPLA (versão angolana da Síndrome de Estocolmo) funciona e mais uma vez dará resultados. Ou seja, o estado psicológic­o dos angolanos, depois de tantos anos submetidos a um prolongado estado de escravidão, começa a mostrar simpatia, ou até mesmo amor, pelos carrascos.

 ??  ?? EX-VICE-PRESIDENTE DE ANGOLA, MANUEL VICENTE
EX-VICE-PRESIDENTE DE ANGOLA, MANUEL VICENTE

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola