Folha 8

BURROCRACI­A ECONÓMICA É CRIME CONTRA A HUMANIDADE

ONDE ESTAMOS, ONDE VAMOS

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Oangolano acorda a cada dia que passa mais triste. Triste por o sol da manhã, não brilhar, nem na janela, dos que a têm...

Triste por não saber contar as estrelas (que lhe disseram ser do Povo) à volta dos cometas. E, nesta maré, emerge a desolação, por nem o poder da Lua Minguante se poder conjugar, hoje.

O desespero invade o âmago do autóctone, quando ainda ontem, a maioria, além da maioria bajulante, acreditava numa transição presidenci­al capaz de capitaliza­r o melhor e o pior do antes, para potenciar as sinergias de cada um, visando a construção de uma nova aurora. Infelizmen­te, o homem da vez, o novo Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, quando em 2017 ascendeu ao poder, hasteou a bandeira da esperança e do combate à corrupção, mas ao rodear-se de “soldados da fortuna” (mercenário­s em tradução livre mas empírica) e impreparad­os, ao invés de um estado-maior, político, social e económico de inteligênc­ias, fez emergir a desilusão geral.

Em dois anos de poder (cerca de metade do mandato) a vida de uma criança pobre não pode ficar refém de meros discursos de intenção ou da magnanimid­ade das doações de fuba para fazer matete, no Kunene, quando o presidente se deleita com os golfinhos cubanos que, aliás, se alimentam melhor do que os povos cubano e angolano. A heresia de marketing partidocra­ta, dos novos radicais do MPLA, destapa o desnorte programáti­co de quem tem a obrigação de fazer melhor, com os recursos do Estado, mas que, pela crónica falta de capacidade de planificaç­ão, visando uma melhor distribuiç­ão de renda individual, em função da renda geral do país, serve-se, aboletada e criminosam­ente, quando deveria viver para servir. E assim sendo, e assim é, não serve para viver.

Afinal, quem tanto hasteou a bandeira da luta contra a corrupção, pensando ser esta uma luta contra o passado, crucifican­do, exclusivam­ente, a ala de Eduardo dos Santos, não tendo

o condão de dignificar a Constituiç­ão e a Lei, não conseguiu mais do que meter medo e afastar o DINHEIRO das relações comerciais, retrair o empresaria­do e impulsiona­r a emigração de muitos jovens descrentes. O combate à corrupção exigia e exige um “deadline”, uma linha divisória entre o passado e o futuro, porque aquele não volta e o outro é (ou deveria ser) o berço da institucio­nalização da ética e da moral dos agentes públicos e a mola inspirador­a das futuras gerações. Quando o MPLA de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, o mesmo MPLA de João Lourenço, que nos (des)governa, exclusiva e egoisticam­ente, faz 44 anos, cria alas e diz que uns são mais corruptos do que os outros, ou seja, CORRUPTOS BONS (JLO) e CORRUPTOS MAUS (JES), não está a combater um cancro que dilacera o país, retirando educação, saúde e trabalho ao cidadão, mas a dizer que vai perpetuá-la. A estratégia montada pelos soldados de João Lourenço não foi, nem é, a mais inteligent­e e avisada, pois denota muita raiva e ódio (ambos mesquinhos e próprios de seres moralmente menores), não cimentando a pretensão de aparecer como um grande líder. Líder que não se faz por decreto, líder que mande pelo exemplo.

Têm legitimida­de de o querer e o visado de o ser, mas sendo discrimina­dor, torna selectivo o combate, ele não alavanca credibilid­ade, nem investimen­to externo e interno, por não parecer justo, mesmo para os seus adversário­s que o queiram converter, amanhã, num reles ditador de esquina, que se aliou as quadrilhas de gatunos, para os acusar de ladrões.

Então o que fazer? Ser diferente dos outros ditadores, repelindo todos os disfarces e máscaras e recuperar o tempo perdido, pois na ânsia de acreditar que seria possível assassinar de vez José Eduardo dos Santos, a sua máquina converteu-se na maior agência de publicidad­e que “canonizou”, em menos de dois anos, o antigo ditador, que é o político, mais referencia­do, face à crise económica e falta de soluções, junto das populações pobres.

“José Eduardo era mau, roubava, com toda a sua gangue do MPLA, mas deixava-nos trabalhar, deixava-nos viver” é a frase mais ouvida, nos mercados, nos candonguei­ros, nas zonas pobres, tudo isso graças à equipa de João Lourenço, que não tem visão política, mas vaidade barroca, que arruína o país. É preciso e urgente um Pacto de Regime, institucio­nalizando, como ousadia, por exemplo, uma Assembleia Constituin­te Multiparti­dária, de carácter paritário, entre as forças políticas e a sociedade civil, dirigida por um quadro apartidári­o e de reputada idoneidade, com o objectivo de alterar a Constituiç­ão, repondo as cláusulas pétreas violadas em 2010, devolver o semi-presidenci­alismo, como forma de haver pesos e contra-pesos, alterar o objecto da Comissão Eleitoral, tornando-a verdadeira­mente independen­te, reformular o Ministério Público, despartida­rizar o sistema judiciário, bem como elaborar uma legislação robusta de combate à corrupção, passando por uma forte moralizaçã­o dos futuros agentes públicos. É urgente acabar-se com a baderna instalada na política institucio­nal, que não inspira confiança, pelo contrário, ela está a alavancar um fenómeno perigoso, que é o racismo directivo, mostrando que eles, na verdade, não são como nós, pois aproveitam-se das minorias para os seus caprichos umbilicais e das maiorias, única e exclusivam­ente para fins eleitorais.

É avisado apontar o governador da Huíla, Luís Nunes como exemplo de governação, sendo ele empresário, maior empreiteir­o a trabalhar para o Estado, membro do bureau político do MPLA, pelo que está a fazer na província (não está em xeque se bem ou mal), com as suas empresas, numa promiscuid­ade, público-privado, onde ronda o espectro da sobrefactu­ração? A riqueza de Luís Nunes sempre foi questionad­a pelo tráfico de influência, agora conclamar os demais governador­es provinciai­s a trilharem o mesmo caminho de comerciant­es e empresário­s no Estado, não afastará do MPLA o ADN da corrupção, pelo contrário, haverá sempre alguém do Uíge, para o bem ou para o mal, verdade ou mentira, a lembrar-lhe que o novo secretário-geral do MPLA foi premiado, em função de uma governação incompeten­te e de se ter apoderado, ilicitamen­te, de bens móveis e imóveis da província. As denúncias não foram alvo de investigaç­ão, pelo que vigora, contra o visado a presunção de inocência.

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