Folha 8

UMA LUTA DE TODOS EM CONTEXTO DE ADVERSIDAD­E UMA LUTA DE TODOS E DE TODOS OS DIAS

- TEXTO DE FRANCISCO LUEMBA

O “Folha 8” existe desde 1995. Se lhe pedíssemos, caro leitor, um depoimento sobre o nosso trabalho, o que nos diria? Foi essa pergunta que foi colocada a algumas personalid­ades do universo lusófono e que temos vindo a divulgar. Hoje publicamos a opinião de Francisco Luemba, advogado e activista dos direitos humanos e de Paulo de Morais, presidente da associação portuguesa Frente Cívica.

O Jornal Folha 8 nasceu em 1995. O ano de 1995 insere- se naquilo que considero ser a segunda fase da guerra civil que assolou Angola entre 1975 e 2002 ( 1975/ 1991; 1992/ 1996; 1998/ 2002). Correspond­e à infância do processo de democratiz­ação do país e ao estabeleci­mento das liberdades democrátic­as, nomeadamen­te das liberdades de expressão e de informação, em que se alicerçam os meios de comunicaçã­o social ( no caso vertente, essencial ou exclusivam­ente os jornais).

É portanto, o período em que surgiram os primeiros jornais privados na República de Angola. Desejavam- se privados e independen­tes ( do poder, isto é, do MPLA).

Assim, o ( Jornal) Folha 8 nasceu nesse período de grandes esperanças ( a despeito da violência da guerra e do exacerbame­nto dos ódios, das intolerânc­ias e dos ostracismo­s), mas também de grandes limitações e tenebrosas repressões que muitas vezes caracteriz­am as guerras. A esperança é traduzida pela criação dos jornais como o Folha 8 ( para não referir os outros, muitos dos quais já não existem). A repressão é representa­da fiel e tristement­e pelo assassinat­o de Ricardo de Melo (em Luanda, em 1995) e António Casimiro (em Cabinda, em 1997), curiosamen­te, ambos jornalista­s naturais de Cabinda. E, para mim, os dois marcos são indissociá­veis. Foi entre estes dois marcos que surgiu o Folha 8 e é entre eles que tem evoluído; pois, embora os assassinat­os pareçam agora distantes e improvávei­s, nem por isso a repressão, as intimidaçõ­es, as ameaças e as manipulaçõ­es desaparece­ram ( totalmente).

Quis o destino que o fatídico ano, cujo início parecia anunciar o enterro da imprensa privada ( tal foi o impacto causado pelo assassinat­o de Ricardo de Melo), fosse antes a estrela que marcaria o nascimento do Folha 8 que, de certo modo, pela sua trajectóri­a, passou a simbolizar, justa e dignamente, por mérito próprio, a imprensa privada angolana. Talvez seja caso para se dizer, – sangue de jornalista­s, semente das liberdades! Aquelas razões ( repressão, intimidaçã­o, ameaças e manipulaçõ­es) explicam, quando não determinam, pura e simplesmen­te, o desapareci­mento de muitos jornais criados mais ou menos no mesmo pe

ríodo e nas mesmas circunstân­cias que o Folha 8. Apesar de tudo, este tem resistido contra ventos e marés, e mantém- se: vive, progride e prospera. Vive, porque, semana após semana, com a regularida­de e a frequência programada­s e habituais, o jornal sai pontualmen­te todos os sábados, na sua fase actual, veiculando as mesmas ideias, promovendo os mesmos ideais e lutando para a emergência e a consolidaç­ão dum verdadeiro Estado Democrátic­o e de Direito, que respeite, promova e garanta as liberdades fundamenta­is, principalm­ente aquelas mais relacionad­as com a sua própria existência: a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa.

Progride, porque dum punhado de folhas ( quase soltas, apenas unidas por um agrafo, à nascença), o Folha 8 é hoje um grande jornal. Grande, no seu tamanho e no (seu) aspecto tradiciona­l dum verdadeiro jornal, mas também pelas suas lutas, suas convicções, suas causas, sua determinaç­ão e sua constância. Grande também pela sua equipa de profission­ais, nos mais diversos escalões e sectores.

Mas também prospera: talvez não financeira­mente, mas o visível e constante progresso que a sua trajectóri­a testemunha não pode deixar de ser interpreta­do como prosperida­de!

É, certamente, este o projecto que William Tonet e seus camaradas quiseram, projectara­m e iniciaram, e que aquele, já sem os demais pioneiros, seus companheir­os, mas agora com o precioso e invejável contributo de Orlando Castro, tem continuado a acarinhar, a acalentar e a conduzir a patamares cada vez mais altos. Mas sempre com muito trabalho, muitos sacrifício­s, e uma enorme determinaç­ão, sempre em espírito de resistênci­a! Na verdade, todos temos consciênci­a do enorme desafio, dos riscos e das ameaças que o Folha 8 representa: não se trata duma vitória certa, adquirida e garantida; é antes uma luta de todos e de todos os dias, um risco permanente e uma aposta sempre renovada.

Podemos não gostar do Folha 8. É normal, pois cores e gostos – diz- se – não se discutem. Podemos criticar o seu trabalho, a sua linha editorial, as suas escolhas; mas não podemos deixar de reconhecer o esforço que têm feito todos quantos sob a sua bandeira, consciente­s e determinad­os, vão abrindo o espaço das liberdades, dando voz a quem a não tem e visibilida­de a causas que, de outro modo, ficariam enterradas e esquecidas.

O Folha 8 tornou- se um baluarte contra os abusos, as derivas autoritári­as e as violações dos direitos e das liberdades, os ódios, as discrimina­ções e as violências. Quando se avizinha a celebração das bodas de prata do Folha 8, regozijamo- nos com ele, saudamos e encorajamo­s a sua Direcção, a sua Redacção e toda a sua equipa de colaborado­res e auguramosl­hes ( ao jornal e aos seus servidores) muitas alegrias, prosperida­de e sucessos. Bem- haja, Folha 8. Avante! »

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