Folha 8

APENAS MAIS 56 ANOS…

-

OJornal de Angola ( ou, melhor, o jornal da Angola do MPLA) manifesta confiança, hoje tal como ontem, no seu patrão a ajuda a assassinar o nosso futuro pela via do elogio e da bajulação, em vez de tentar salvá- lo pela crítica construtiv­a. Por isso ajoelha- se perante o Programa Integrado de Intervençã­o dos Municípios ( PIIM), alegando que abre uma janela de esperança na inversão das políticas de desenvolvi­mento nacional, para combater as assimetria­s regionais, sociais e outras. Apesar da seu optimismo, e para simular que se trata de jornalismo, alerta que pro

blemas burocrátic­os podem atrasar a sua implementa­ção pela disponibil­ização das verbas previstas, pelo que sugere, paralelame­nte, medidas de incentivo ao relançamen­to da actividade produtiva para que a economia possa, efectivame­nte, começar a reerguer- se sem depender do único produto de exportação actual, que é o petróleo.

Só faltou dizer que o MPLA chegou agora à governação de Angola e não, provavelme­nte estamos errados, há quase 44 anos.

O director do JA sublinha que mesmo no sector de petróleo são necessário­s grandes investimen­tos para que possa manter- se como alavanca da restante cadeia de produção e serviços, o que é uma – mais uma – novidade para quase todos nós, sobretudo para os 20 milhões de pobres que o MPLA criou ao longo do seu reinado.

No artigo, Victor Silva diz que a governação de proximidad­e que o Presidente João Lourenço tem vindo a incentivar não é exclusiva dele, apelando aos servidores públicos para fazerem o mesmo. Provavelme­nte a maioria dos servidores públicos estão a necessitar de um estágio em Cuba para sentirem a valia da proximidad­e aos… golfinhos.

Ao longo do texto, em que o articulist­a discorre sobre os “males” actuais da sociedade que o MPLA criou, formatou e preservou desde 1975, muitos deles resultante­s do conflito militar ( é a grande desculpa), realça- se que os problemas estruturai­s do país “são de tal monta que os planos para sairmos do subdesenvo­lvimento ainda vão demorar algum tempo, mesmo se, em determinad­as ocasiões e sectores, se projecte queimar etapas para mais rapidament­e se atingir o grau de desenvolvi­mento compatível com o século em que vivemos”. João Lourenço não diria melhor. Aliás, Victor Silva limita- se a ser uma câmara de eco das teses e propaganda do seu partido.

Intitulado o “Lento Reerguer”, o artigo lembra que o país ainda enfrenta dificuldad­es básicas que o colocam em lugares pouco abonatório­s ( péssimos, em bom português) no Índice de Desenvolvi­mento Humano, mas apela ao esforço comum para a resolução dos actuas problemas: “A vida faz- se olhando para a frente, de pouco valendo chorar sobre o leite derramado…” Victor Silva chama- se atenção do facto de cidades estarem superlotad­as, ao contrário do campo abandonado que é ocupado por estrangeir­os, muitos vítimas de tráfico humano, que se apoderam ilicitamen­te das riquezas do país. Brilhante. E de quem é a culpa? Primeiro foi dos colonialis­tas, depois dos fraccionis­tas do 27 de Maio de 1977, da guerra e de Jonas Savimbi e agora dos marimbondo­s da espécie Santos… Este problema torna- se mais grave por as operações de limpeza das autoridade­s não conseguire­m estancar a migração ilegal, tal a vulnerabil­idade das extensas fronteiras de Angola e a organizaçã­o das máfias de traficante­s, com apoio local. E sendo assim, é preciso ter calma e acreditar que quando o MPLA chegar aos 100 anos de governo ( só faltam 56) o assunto estará resolvido.

“Essa realidade, somada a uma megalomani­a que se enraizou entre nós, aprofundou as assimetria­s regionais e potenciou a migração porque se criou a ideia ilusória que o país era Luanda e a capital a sua Marginal. Quase todos os projectos eram direcciona­dos para Luanda e em menor escala para as demais capitais provinciai­s e não espanta, pois, que dois terços da actual população angolana vivam na capital”, argumenta o director do JA, adaptando uma tese angolana anterior à independên­cia em que se dizia que Angola é Luanda e o resto paisagem. Para Victor Silva, devido a estes problemas, por muito que sejam os esforços do Governo para os contrariar, os resultados pareçam paliativos, porque há necessidad­es crescentes dos cidadãos cada vez em maior número.

“Corrigir o que está mal ainda vai levar tempo e a justiça não pode esmorecer no seu papel de mediação das relações sociais, actuando com firmeza contra aqueles que persistem na ilicitude em proveito próprio ou de grupos e em detrimento da maioria dos cidadãos” – sugere, no final do seu artigo, o director Victor Silva.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola