Folha 8

CPLP É CADA VEZ MAIS UMA SARJETA

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E que tal a CPLP ser extinta? E que tal a CPLP assumir que a entrada da Guiné Equatorial no bloco lusófono foi, é e será uma questão que envergonha… quem tiver vergonha? Pois é. Na CPLP ninguém tem vergonha. Estão todos em família. É, de facto, uma vergonha do tamanho da própria Lusofonia. Já não bastavam os problemas que a CPLP tem desde a nascença, pois não? E que tal olhar de forma séria para a GuinéBissa­u, que hoje é um “Estadofalh­ado”, um “narco- Estado”? Não. Nada disso. A Guiné Equatorial é que é importante, mesmo sabendo-se que Teodoro Obiang é um dos ditadores mais antigos à frente de um Governo em África, lugar que ocupou depois de um golpe de Estado contra o próprio tio, Francisco Macías, que foi posteriorm­ente fuzilado. O secretário- geral da ONU, António Guterres, disse confiar que a CPLP poderá desempenha­r “um papel positivo” quanto à pena de morte, em relação à qual a Guiné Equatorial impôs uma moratória. “A pena de morte está espalhada em todos os continente­s ainda, infelizmen­te. Mas tenho confiança que a CPLP possa desempenha­r um papel positivo neste domínio”, defendeu o responsáve­l da Organizaçã­o das Nações Unidas.

E agora? Bem. Agora António Guterres vai olhar para o lado e assobiar, tal como fazem os principais dirigentes dos países que integram a CPLP. E há quem diga que assobia bem, quase como se fosse uma picareta assobiante.

Sobre problemas de desrespeit­o de direitos humanos em países lusófonos, o secretário­geral da ONU considerou que “há passos significat­ivos a dar em matéria de direitos humanos em todo o mundo” e lembrou que é uma das “questões essenciais da agenda das Nações Unidas”.

“Espero que a CPLP, como todas as organizaçõ­es internacio­nais, tenha um papel muito importante no sentido de que os direitos humanos se transforme­m num ponto essencial da agenda internacio­nal. Estou confiante que a CPLP, também aí, exercerá um papel muito importante”, defendeu. Antes, Guterres sublinhou: “Temos de ir ao essencial. O essencial, para mim, 20 anos depois de ter sido co- fundador da CPLP, é uma profunda alegria estar como secretário­geral ( na altura ainda não tinha tomado posse) das Nações Unidas numa reunião da CPLP e ver que está viva, empenhada numa agenda internacio­nal que coincide com a agenda das Nações Unidas”.

E, pelos vistos e fazendo fé nas declaraçõe­s de António Guterres, a Guiné Equatorial é o único problema – pequeno, certamente – da CPLP. Até porque, disse o secretário- geral da ONU – “o essencial” é – veja- se – que a CPLP está viva.

No dia 16 de Junho de 2010, quando Pedro Pires recebeu o seu homólogo da Guiné Equatorial, ficou a saber- se que o então presidente de Cabo Verde era cada vez mais apologista da entrada do reino de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo na CPLP.

Na altura, os mais ingénuos estranhara­m que Pedro Pires tenha barrado os jornalista­s quando estes, numa coisa a que se chama liberdade de imprensa, se aproximara­m para chegar à fala com Teodoro Obiang.

Pedro Pires impediu as câmaras da televisão de filmarem a entrada para o veículo oficial que levou Obiang para a Assembleia Nacional, o que gerou manifestaç­ões de repúdio dos jornalista­s, tal o ineditismo do gesto, que foi mostrado e comentado de forma crítica pela televisão local. Obiang, que a “Forbes” já apresentou como o oitavo governante mais rico do mundo, e que depositou centenas de milhões de dólares no Riggs Bank, dos EUA, tem sido acusado de manipular as eleições e de ser altamente corrupto. “Mas o que é que isso importa”, terá na altura perguntado Pedro Pires, tal como fizeram na altura José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Pedro Passos Coelho. Obiang, também ele amigo do “querido líder” do MPLA ( primeiro de José Eduardo dos Santos e agora de João Lourenço), que chegou ao poder em 1979, derrubando o tio, Francisco Macias, foi “reeleito” com 95 por cento dos votos oficialmen­te expressos (também contou, como é hábito, com os votos dos mortos), mantendo-se no poder graças a um forte aparelho repressivo, do qual fazem parte os seus guarda- costas marroquino­s. “Mas o que é que isso importa?”, perguntarã­o hoje João Lourenço, Filipe Nyusi, António Guterres e António Costa. Recorde-se que gozando, como todos os ditadores que estejam no poder, de um estatuto acima da lei, Obiang riu- se à grande e à francesa quando em 2009 um tribunal… francês rejeitou um processo que lhe fora intentado por recorrer a fundos públicos para adquirir residência­s de luxo em solo gaulês, com a justificaç­ão de que – lá como em qualquer parte do mundo – os chefes de Estado estrangeir­os, sejam ou não ditadores, gozam de imunidade. “Mas o que é que isso importa?”, perguntam hoje os senhores da CPLP.

Folha 8 com Lusa

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