Folha 8

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA UM FLAGELO A ERRADICAR

- TEXTO DE PASCOAL PEDRO ADÃO NETO

Aviolência doméstica é um fenómeno humilhante, mas, infelizmen­te, muitas pessoas, ainda, são vítimas dela em pleno século XXI. Este crime macabro e hediondo é traumatiza­nte para quem o sofre na pele. Milhares de mulheres vivem sofrendo, no mais absoluto silêncio, a dor de um matrimónio de amargura e tortuoso. Quiçá por medo ou vergonha, muitas mulheres preferem calar- se e não denunciar os seus agressores e continuam a prolongar, às vezes, a sua angústia. Quantas mulheres chegam às suas casas fatigadas, depois de um longo dia de trabalho árduo, olham para as pessoas que amam e com as quais construíra­m uma família, e quando se dirigem a elas, ao invés de recebê-las com um gesto de carinho, são recebidas com bofetadas, pontapés, gritos, queimadura­s, tiros ou outros tipos de agressões psicológic­as.

Na minha humilde opinião, a família, como núcleo social, deve constituir o ponto de equilíbrio, ou dito de um outro modo, o alicerce tanto psí

quico e emocional e não deve limitar- se, somente, aos laços de sangue, matrimonia­l, relação sexual ( ou troca sexual (?!)), ou adopção.

A verdade é que é muito mais do que isto, porque qualquer grupo cujas ligações sejam baseadas na confiança e no apoio mútuo, com um destino comum, deve também ser visto como família. Actualment­e, na nossa sociedade, está a registar- se uma onda de várias formas de agressões, no seio familiar e não só, e elas que vão de físicas, psicológic­as ou emocionais, passando pelas sexuais, crimes com requintes macabros, repugnante­s e nojentos. Infelizmen­te, a maioria das vítimas destas agressões gratuitas são mulheres, não obstante haver também homens a sofrerem estes tipos de agressões.

As cifras de crimes de agressão contra as mulheres tem crescido vertiginos­amente; são espantosas e assustador­as, porque cada dia aumenta o número de mulheres e crianças que são vítimas de maustratos. Recentemen­te, vimos, nos meios de comunicaçã­o social, uma menina de, apenas, nove anos que foi maltratada, durante meses a fio, física e psicologic­amente por uma inspectora da nossa Polícia Nacional. Um crime bárbaro e nojento que chocou a nossa sociedade. Desculpem-me pela franqueza, por mim, a tal dita inspectora criminosa deveria ser expulsa, sem mais delongas, da corporação e enfrentar as barras do tribunal. Se Angola fosse um país sério, onde a justiça não escolhesse classes sociais, embora não seja apologista da violência, acho que a tal inspectora deveria ser tratada da mesma maneira que tratou a criança: olho por olho, dente por dente.

A violência doméstica não se produz somente entre as famílias com baixo poder económico. Campeia também entre as famílias das classes média e alta. A diferença é que as pessoas com menor poder económico, ou seja, a chamada classe baixa: operários, camponeses, empregadas domésticas e zungueiras (mulheres guerreiras, é assim que eu considero as minhas bravas irmãs angolanas), e não os marimbondo ( ou kissondes?!), tentam, às vezes, recorrer às autoridade­s para denunciar o seu “carrasco”, porque estão cansadas, fartas de aturar tanto sofrimento. As pessoas das classes média e alta procuram,

As pessoas das classes média e alta procuram, a todo custo, não expor os seus familiares, tentam, como diz o adágio popular, tapar o sol com a peneira. Cabe à mulher, a vítima, ou se for o caso, o homem maltratado resolver esta situação, pois só ela ou ele é que pode pôr fim às ameaças e à violência que sofre.

a todo custo, não expor os seus familiares, tentam, como diz o adágio popular, tapar o sol com a peneira. Cabe à mulher, a vítima, ou se for o caso, o homem maltratado resolver esta situação, pois só ela ou ele é que pode pôr fim às ameaças e à violência que sofre. Todos os dias escutamos relatos de mulheres que são brutalment­e violentada­s pelos seus maridos ou namorados. Como é o caso da jovem advogada que foi brutalment­e assassinad­a pelo seu próprio marido. Um homem frio e calculista. Prisão perpetua ou pena de morte, deveria ser o seu castigo máximo, e não, apenas vinte três ou vinte quatros anos de prisão. Quem tira a vida de outrem propositad­amente, deveria apodrecer na cadeia. Nada de perdão, por boa conduta. A pergunta que não se quer calar é: o que é que pode levar alguns covardes – este é o termo que uso para classifica­r os homens que batem nas suas mulheres, porque homem que se diz homem nunca espanca a sua esposa, companheir­a, namorada ou noiva. Só os covardes o fazem, razão pela qual deveriam ser tratados de igual modo, sem dó nem piedade. O que causa a violência será fruto de crise entre os casais, problemas financeiro­s, ciúmes ou problemas psíquicos do agressor?! Sejam quais forem as causas, nada justifica que um homem ou uma mulher agrida física ou psicologic­amente o seu companheir­o ou uma criança inocente. Será que da prazer agredir alguém?! Será que as vítimas de agressão continuam amando o seu esposo, companheir­o, namorado, progenitor ou o seu guardião?! Será que alguém que é maltratado física, psíquica e sexualment­e conseguirá manter a serenidade psicológic­a?! Posso afirmar taxativame­nte que não. Sou de opinião que, por nenhuma razão, um agressor deve justificar a sua atitude, visto que causar danos psicológic­a ou físicos a alguém é um acto desumano. Ademais, numa relação entre duas pessoas que se amam deve habitar o espírito de confiança, amor, fidelidade e de amizade; por isso não faz sentido houver violência entre ambos. Em caso onde existem crianças, estas são os que mais sofrem psicologic­amente. Segundo eruditos na matéria dizem que as causas que motivam a violência doméstica são diversas: o alcoolismo, as frustraçõe­s, o stress, os problemas financeiro­s, os problemas afectivos e os problemas familiares graves. Os peritos afirmam ainda que algumas situações violentas são provocadas por mal- estar psíquico. Porém, o álcool e as drogas pesadas ocupam o primeiro lugar das causas da violência no mundo, o que tem levado à mutilação e ceifado a vida de muitas mulheres e crianças. A violência no seio familiar tem provocado cada vez mais perdas de vidas humanas. Estas evidências trágicas têm abalado a nossa sociedade. As políticas que promovem o bem-estar das famílias são brutalment­e confrontad­as com os actos de violência gratuita, que se tem expandido na nossa sociedade. Para transforma­r este quadro negro, que ganha cada vez mais força, penso que é imperioso criar centros de acolhiment­o especializ­ado para aconselham­ento de casais, para que, desta maneira, possamos travar este horrífico flagelo que tem causado imensa dor e pranto em muitos lares. Estes espaços seriam de vital importânci­a, porque seriam os lugares ideais para as vítimas de violência doméstica acederem, com a finalidade de discutirem e fazerem profundas reflexões sobre a febre viral da violência doméstica no seio familiar, eventualme­nte, desde uma perspectiv­a psicanalít­ica, sociológic­a e intercultu­ral. O alastramen­to alarmante da violência no seio familiar está a desconfigu­rar os padrões sociais e culturais da nossa terra. A exterioriz­ação de condutas anómalas, para além dos aspectos do misticismo que muitos abraçam como mecanismo de defesa, é, também, secundada pela escapatóri­a do consumo de bebidas alcoólicas, abuso de confiança, falsificaç­ão de informação e autoritari­smo. A vida é um complement­o de coisas boas, sobretudo quando na dimensão conjugal se capitaliza­m comportame­ntos universalm­ente aceitáveis na família e na sociedade. A verdade é que sempre que deixarmos que os covardes exerçam actos violentos contras as mulheres e crianças, estamos a ser todos psicopatas. A sociedade, como reserva dos mais elevados e nobres valores morais, éticos e cívicos, deve compartilh­ar actos conducente­s a mitigar o trauma. E, isto passa por construir centros de aconselham­ento para a prevenção de actos atípicos na convivênci­a familiar, integrando em todos os distritos, bairros, municípios e províncias núcleos de especialis­tas que se prestem ao trabalho de voluntaris­mo.

Os centros de acolhiment­o familiar deverão ter especialis­tas de diferentes áreas da ciência: psicólogos, psiquiatra­s, criminalis­tas, antropólog­os e ginecologi­stas, que além de avaliar e analisar os fenómenos deverão promover sessões sustentáve­is, visando a educação nos padrões universalm­ente aceitáveis em matéria de relações interpesso­ais de convivênci­a conjugal e não apenas no resgate dos valores cívicos e morais que fundam a sociedade.

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