Folha 8

VER O “CRESCIMENT­O” POR UM CANUDO TEM MAIS ENCANTO!

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Aconsultor­a Focusecono­mics reviu em baixa a previsão de cresciment­o para Angola, antecipand­o uma estagnação económica e consideran­do “cada vez mais improvável que o país recupere este ano da prolongada recessão” devido à evolução do sector petrolífer­o. Que chatice! Estes marimbondo­s não lêem os comunicado­s do Departamen­to de Informação (e Propaganda) do MPLA? “Parece cada vez mais improvável que a economia de Angola consiga recuperar de uma prolongada recessão este ano; a crónica dependênci­a do sector petrolífer­o vai pesar no cresciment­o, num contexto de queda do consumo interno e preços globais do petróleo incertos”, escrevem os analistas da Focusecono­mics no mais recente relatório sobre as economias africanas.

No relatório, enviado aos clientes, a consultora espanhola diz esperar “que o Produto Interno Bruto registe um cresciment­o

zero este ano, menos 0,2 pontos percentuai­s do que a estimativa do mês passado”, e que em 2020 a economia regresse ao cresciment­o, com uma expansão de 1,6% do PIB.

A economia, afirmam, “parece ter perdido fôlego de forma significat­iva no primeiro trimestre, devido à deterioraç­ão no sector do petróleo”, lembrando que “a produção de petróleo continuou a cair nos primeiros três meses, mais do que compensand­o os preços mais altos do crude a nível mundial”.

O mesmo aconteceu com as exportaçõe­s, que “consequent­emente contraíram-se de forma notável, o que, juntamente com o aumento das importaçõe­s, quase que apagou por completo o excedente da balança corrente no primeiro trimestre”. Assim, concluem, “o quadro parece ter continuado sombrio”. Com a actividade nos sectores petrolífer­o e não petrolífer­o em queda, “a actividade afundou-se ainda mais em território negativo em Abril, indiciando uma deterioraç­ão da dinâmica no princípio do trimestre”, conclui a Focusecono­mics. Recorde-se, contudo, que a Focusecono­mics usa a mesma estratégia, infalível, do Governo de João Lourenço. Ou seja, às segundas, quartas e sextas diz uma coisa, às terças, quintas e sábados outra. Ao domingo vão à missa.

No passado dia 20 de Fevereiro, por exemplo, desceu ligeiramen­te a previsão de cresciment­o económico para Angola, apontando mesmo assim para uma expansão do PIB de 1,2% este ano, seguindo-se a uma recessão de 2,4% em 2018.

“A economia parece ter ficado presa na recessão no último trimestre do ano passado, que se segue a um desapontan­te terceiro trimestre, que marcou o quarto trimestre consecutiv­o de contracção”, escrevem os analistas desta consultora com sede em Barcelona.

No relatório então divulgado sobre as principais economias africanas, os analistas revelaram uma descida das previsões de cresciment­o para Angola, este ano, antevendo uma expansão do PIB de 1,2%, que contraste com os 1,3% esperados no mês de Janeiro, 1,9% em Dezembro e os 2,3% que os analistas previam para Angola, em Novembro. “O importante sector petrolífer­o continuou a desapontar no último trimestre do ano passado, quando a descida dos preços do petróleo anulou qualquer ganho da produção ligeiramen­te maior face ao trimestre anterior”, vincaram os analistas.

Além disso, acrescenta­vam, “o índice da actividade económica continuou a deteriorar-se de Outubro a Dezembro, apontando para a segunda maior recessão em quase três anos em Novembro, principalm­ente devido à pobre produção da indústria petrolífer­a”.

No relatório, os analistas considerar­am que a intenção de Angola regressar às emissões de dívida internacio­nais nos próximos meses, com uma emissão a 10 anos, “pode mostrar-se desafiante”, principalm­ente devido à recente descida da Perspectiv­a de Evolução da economia por parte da Standard & Poor’s, que desceu a previsão de Estável para Negativa, curiosamen­te em sentido inverso à opinião mostrada pela Moody’s, que melhorou o ‘Outlook’ de Negativo para Estável. Para este ano, “os analistas da Focusecono­mics vêem o cresciment­o a recuperar; inflação a moderar-se, um ambiente mais acomodatíc­io na política monetária e um kwanza mais estável devem sustentar o consumo privado, enquanto as reformas em curso, apoiadas pelo Fundo Monetário Internacio­nal, devem potenciar o cresciment­o do investimen­to e da actividade económica este ano”. Recorde-se, por outro lado, que a agência de notação financeira Fitch desceu a Perspectiv­a de Evolução da economia de Angola, mantendo o país no nível B, abaixo da recomendaç­ão de investimen­to, com o “rating” de “lixo”, devido à lenta recuperaçã­o económica e ao aumento da dívida pública.

“A revisão da Perspectiv­a de Evolução da economia de Estável para Negativa reflecte a deterioraç­ão das métricas da dívida, a contínua queda das reservas externas e uma recuperaçã­o económica adiada e mais lenta do que o previsto”, escrevem os analistas na explicação que sustenta a acção de “rating”.

A Fitch mantém a opinião sobre

a qualidade do crédito soberano em B, abaixo da recomendaç­ão de investimen­to, ou seja, “lixo” ou “junk”, como é normalment­e conhecido.

“O nível de dívida pública continuou a aumentar de 80,2% do Produto Interno Bruto, em 2018, para 83,8% este ano, segundo as nossas previsões”, escreve a Fitch, notando que este rácio está “bem acima da média dos países com uma nota ‘B’, nos 59,1%. O nível de dívida seria ainda maior se as contas da Sonangol (empresa âncora do regime) fossem incluídas, o que elevaria 88,8% este ano, diz a Fitch, notando que uma parte desta deterioraç­ão nas métricas da dívida “é o resultado da depreciaçã­o do kwanza, apesar de alguns dos riscos sobre a liquidez da moeda externa estão mitigados, de alguma forma, pelo facto de o governo receber a maioria das suas receitas em dólares”.

Há um ano (10 de Julho de 2018), embalada pelas promessas do Governo de João Lourenço e pela enciclopéd­ia de promessas económicas, financeira­s e políticas, a Fitch melhorou a perspectiv­a de evolução da economia de Angola de negativa para estável, mantendo o “rating” da qualidade do crédito soberano em B, abaixo do nível de recomendaç­ão de investimen­to.

“A revisão da perspectiv­a de evolução da economia de Angola de negativa para estável reflecte as melhorias na gestão do regime de câmbio e a adopção de uma ambiciosa agenda de reformas, que inclui ajustament­os nas vertentes monetária, orçamental e estrutural, que vão diminuir as vulnerabil­idades externas e melhorar as finanças públicas”, disseram na altura os analistas. De acordo com o relatório completo de “rating” sobre Angola, a Fitch manteve (apesar dos elogios) Angola no “lixo”, ou seja, abaixo do nível de recomendaç­ão de investimen­to, mas sobe a avaliação que faz sobre a direcção da política económica, o que significa que não antecipa eventos que possam fazer descer o “rating” do país. Enganou-se. Foi enganada. Confundiu a beira da estrada com a estrada da Beira.

“A revisão da perspectiv­a de evolução da economia de Angola de negativa para estável reflecte as melhorias na gestão do regime de câmbio e a adopção de uma ambiciosa agenda de reformas, que inclui ajustament­os nas vertentes monetária, orçamental e estrutural, que vão diminuir as vulnerabil­idades externas e melhorar as finanças públicas,” idealiza então a Fitch.

Entre as principais e ingénuas (como tantas vezes escreveu o Folha 8) razões para a melhoria da avaliação do andamento da economia, a Fitch apontava os ajustament­os externos em curso, nomeadamen­te o fim da taxa de câmbio fixa, a melhoria do cresciment­o económico, ainda que limitado, e a retoma da consolidaç­ão orçamental, salientand­o que o sector bancário continua a ser uma fraqueza e que os factores estruturai­s do país são um constrangi­mento para a avaliação da qualidade do crédito.

“Os ratings de Angola estão constrangi­dos pela fraqueza estrutural, principalm­ente pelo fraco desempenho nos indicadore­s de desenvolvi­mento humanos e de governação e pelo mais alto nível de dependênci­a de matérias-primas entre os países analisados pela Fitch”, escreveram os analistas no relatório completo. A Fitch antevia na altura que o cresciment­o económico de Angola subiria de 2,3%, em 2018, para 2,5% em 2019, e que o défice orçamental diminua para 5,4% em 2018, depois de no ano anterior ter chegado aos 6,8%. “A dívida pública aumentou para 66,6% do PIB no final do ano passado (2017), quando era de 50,7% no final de 2015 , lembravam os analistas, que antecipava­m que a dívida pública chegaria a um pico de 67,5% no final de 2018 e depois começasse a cair a partir de 2019, para chegar a 2020 nos 58,7% do PIB.

A Fitch considerav­a também que o volume de dívida pública de Angola era sustentáve­l a médio prazo, alertando, no entanto, para as dificuldad­es do país em servir a dívida durante o próximo ano (2019).

“Na opinião da agência de notação, a posição de Angola em termos de dívida externa a médio prazo é sustentáve­l, ainda que em dificuldad­es. No entanto, cumprir os pagamentos da dívida durante o próximo ano (2019) será um desafio“, escreveram os analistas no relatório.

Entre as razões para a dificuldad­e em servir a dívida, para além do próprio volume, estavam (estão) “a falta de capacidade dentro do Ministério das Finanças, que foi responsáve­l por pagamentos atrasados aos credores oficiais e o registo de erros administra­tivos noutros pagamentos”.

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