Folha 8

FALANDO DO FOLHA 8 EM PARTICULAR

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Quando no dia 5 de Dezembro de 1994 cheguei a Luanda, vindo de Lusaka apenas dois jornais, pelo que me tivesse apercebido, ousavam criticar o regime: o Imparcial Fax do malogrado Ricardo Melo e o Folha 8. Quis a desventura que o Folha 8 ficasse praticamen­te só no exercício hercúleo de remar contra a maré.

Eram os primeiros passos em busca da aceitação do contraditó­rio no País. Era um desafio que colocava em prática uma citação de Dilma Rousseff e que dificilmen­te poderia agradar a gregos e a troianos: “A imprensa que constrói uma democracia é a imprensa que fala o que quer, dá opinião que quer e se manifesta do jeito que bem entende.”

Sei que a luta que o vosso jornal leva a cabo, contra um jornalismo montado e financiado pelas grandes famílias comprometi­do exclusivam­ente com a preservaçã­o do seu paradigma, tentando sempre vender uma pseudo pluralidad­e de forma bastante sofisticad­a, não é fácil, e por isso mesmo, eu sou um admirador confesso da vossa tenacidade. Tentei nas minhas pesquisas encontrar alguma matéria que expressass­e o mais real possível o trabalho que o Folha 8 leva a cabo na sua senda e encontrei uma citação de George Orwell que vos serve que nem uma luva: “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”

Não querendo ser mais papista que o Papa, permitamme um conselho: Rompam com o status quo existente e tragam ao conhecimen­to do grande público, coisas boas da nossa terra. Mantenham a independên­cia dos poderes políticos que o vosso jornal encarna e preserva.

O que os angolanos precisam é de um jornalismo plural de facto.

O jornalismo precisa no mínimo ser justo e honesto. Os jornalista­s necessitam ser intrépidos na denúncia das injustiças, mas o mais exacto e honesto possível, nos relatos que fazem. Fico autenticam­ente doente quando vejo os jornais abdicarem da sua responsabi­lidade social e se tornam disseminad­ores da desinforma­ção e da ignorância. Exige- se aos jornalista­s, como intelectua­is que são, compreende­r o momento político que o País atravessa e colocarem- se o mais rapidament­e possível e intransige­ntemente ao serviço da causa da defesa da democracia, para acabarmos de vez, como Josemar Bosi disse: “Se a notícia publicada, nada tem a ver comigo, é “liberdade de imprensa”, mas se tiver, é “invasão de privacidad­e”.

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