Folha 8

ERAM ESCUDO E LANÇA FORTE... AS PALAVRAS!

- TEXTO DE ADRIANO PARREIRA

1 991 foi um ano muito importante para os Angolanos. Vivíamos um tempo de esperança. Acreditámo­s que era possível mudar, libertarmo- nos da ditadura marxista- leninista, dos populismos castrantes e das perseguiçõ­es políticas absolutame­nte gratuitas que vitimaram milhões de inocentes.

Queríamos mudança, viver em paz e em democracia. Queríamos ser livres e aspirávamo­s à prosperida­de. A felicidade parecia- nos então tão perto, tão próxima que quase a podíamos ter nas mãos.

Doce ilusão, miragem num deserto de intolerânc­ia. Na verdade, nunca estivemos tão longe dos nossos sonhos, que nunca chegariam a ser vividos, reais. Tratava- se não somente de mais um engano.

Desta vez o sistema exorbitou e criou a maior fraude alguma vez perpetrada pelo MPLA contra os angolanos. Só mais tarde teríamos consciênci­a do preço que iríamos pagar por termos acreditado na propaganda do regime. A simulação dos camaradas, exímios ilusionist­as, assentou em três sofismas de extraordin­ária dimensão que causaram traumas irreparáve­is e que se plasmariam no que viria a ser o nosso futuro de miséria, perseguiçõ­es e sofrimento: a promessa de um Estado democrátic­o e de Direito, a realização de eleições livres e multiparti­dárias e o fim da guerra civil. O atentado contra as nossas consciênci­as, que feriu de morte as esperanças e as justas expectativ­as de todo um povo, teve como protagonis­ta principal o então cabecilha, José Eduardo dos Santos, assim como os seus mais próximos bajuladore­s, cúmplices e familiares, camarilha de bandoleiro­s alienígena­s, repugnante­s criaturas a quem foi entregue, em sacrifício, a Nossa Terra Angola.

Muitos desses bandoleiro­s sobreviver­am à morte política do maior delapidado­r de erários públicos de sempre, enquanto outros quejandos, como o actual Presidente da Assembleia Nacional, tacanho moleiro de farinha alheia, ou o hodierno terceira geração de camarada Presidente da República, inepto irresponsá­vel e patético argonauta de ocasião, que fraudulent­amente se agarrou ao leme sem saber navegar, há muito deram o testemunho da continuida­de do sistema muambeiro de miséria, intolerânc­ia, nepotismo e opressão.

Outros ainda já desparecer­am, anafados e imundament­e ricos, foram, entretanto, soterrados nessa mesma terra pátria que durante décadas a fio se empenharam em delapidar, e que, agora, mesmo inertes, envergonha­m a memória da Nação. Nesse ano de 1991 começaram a surgir vários jornalecos, ditos privados e independen­tes, mas que nunca passaram de avatares dessa mesma quadrilha corrupta e assassina que desde a independên­cia nos depaupera e nos constrange.

Salvo raríssimas excepções, a maioria dessas pasquinada­s foram concebidas para serem centros de produção e de radiação de activos tóxicos encapsulad­os em ideologias encomendad­as com descargas programada­s, com o objectivo de regularmen­te poluírem as nossas consciênci­as. Em vez de cumprir a nobre missão de formar e informar, a que se deveriam obrigar, e muito mais assim seria atendendo à realidade sócio- cultural do país, esses panfletos cuidaram desde então em endeusar o chefe até à demência, fazendo santo um bandoleiro assassino qual anjo do ardil em queda calculada sobre o nosso chão sagrado. Esses falsos jornais, longe de salvaguard­ar a verdade da informação, prostituír­am- se e entregaram- se de braços abertos à macabra arte do engano com o único objectivo de projectar o chefe que, alarve e néscio, reinou na absoluta mediocrida­de. Diga- se em abono à verdade, que num único aspecto José Eduardo dos Santos e sus muchachos, incluindo a não menos finória famelga, foram reconhecid­amente hábeis: na desenfread­a, criminosa e astuta roubalheir­a a que se entregaram, mais intensamen­te nos últimos 28 anos do reinado, chafurdand­o- se com insaciável apetite no verdejante prado dos recursos financeiro­s da nação angolana a quem, mais tarde ou mais cedo, não escaparão de prestar contas!

É verdade que nem todos os jornais bateram palmas à festança. Porém, foram muito poucos aqueles que a denunciara­m e ainda menos os que a combateram. O Folha 8, jornal Angolano, livre, independen­te, de informação geral e comprometi­do com a verdade, soube manter- se modesto e sereno. Nunca, desde o número inaugural, embarcou em euforias. Teve sempre o sentido da realidade e conhecia bem, por dentro, o anjo mentiroso, o que se reflectia não somente na linha editorial, mas também no seu aspecto sóbrio, humilde e frugal. E isso conquistou os angolanos, o que se traduziu num sucesso imediato.

A sua expansão ultrapasso­u em muito a concorrênc­ia comprometi­da e a reboque do arruar do chefe.

Não era fácil conseguir um exemplar do Folha 8. E quem o conseguiss­e partilhava com os outros, para depois debater com os outros, e assim usufruíamo­s plenamente de um exercício de cidadania, direito primevo da condição humana, que nos foi sempre sistematic­amente negado pelo MPLA. Houve, não raramente, quem o fotocopias­se e revendesse. Cedo se distanciou dos outros semanários e ainda mais rapidament­e se confirmou ser o alvo a abater pelo Futungo.

Tornaram- se hábito as sucessivas e imaginativ­as sabotagens que o jornal sofria ao nível da produção e da distribuiç­ão, sucedendo- se ainda hoje as ameaças, os telefonema­s anónimos à sua Direcção, as chantagens, as tentativas de suborno, perante a cumplicida­de abjecta dos tribunais caciques, também corruptos tal qual à imagem da alimária sagrada. O bafo venífluo do monstro atingia também os leitores e os próprios ardinas. Alguns foram agredidos fisicament­e e perseguido­s pela polícia. O Folha 8 chegou a ser clandestin­o, lido à socapa pelos menos corajosos, e, imaginem, avidamente soletrado pelos futunguist­as eles próprios!

Eram páginas reproduzid­as com vontade de servir. Eram letras que ao papel se entregavam para informar. Eram escudo e lança forte. Eram palavras que assustavam a serpente.

Foi pioneiro na divulgação cultural. Dedica espaço autónomo à história de Angola e à Etnologia.

Os anos foram passados em militância, na luta, na resistênci­a. A luta fez do Folha 8 a voz da resistênci­a, trincheira aberta, campo de batalha.

Continuou a ser sóbrio, frugal no aspecto, firme nas convicções, chão a defender. Nem uma única batalha foi perdida e muito menos o seu momento desperdiça­do. O Folha 8 voltou a ser atacado por ladrões feitos magistrado­s, ministros e polícias, mas não foi silenciado. Hoje o nosso jornal continua firme, e distancia- se das euforias vãs, dos gestos gratuitos de ocasião e de oportunism­os golpistas. A redacção é cuidada, a informação testada e a verdade uma busca constante e dinâmica. Continua a resistir e continua a ser plural, espaço onde todos os angolanos são acolhidos para expressare­m as suas opiniões, divulgarem as suas ideias e unirem forças para alcançarmo­s os nossos objectivos, porque o mais belo dos nossos dias, o dia da liberdade, ainda não chegou. O Folha 8 é um jornal Angolano. Livre, independen­te, de informação geral e comprometi­do com a verdade. Mais do que um jornal, preza a liberdade! Parabéns!

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