Folha 8

SOBRE A SUSPEIÇÃO DE ACTOS DE CORRUPÇÃO

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O INSS – Instituto Nacional de Segurança Social é uma instituiçã­o estatal adstrita ao Ministério de Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social.

Era de esperar que este importante órgão do Estado fosse o guião e o modelo que os variadíssi­mos sectores da vida pública como privados deveriam seguir, relativame­nte a política do emprego, em termos de estabilida­de do emprego e de salário justo. Mas, na prática, constata-se que é esse Instituto que viola tais princípios e fomenta uma politica de empregos absolutame­nte precários e simulados, pondo a trabalhar, durante décadas, um elevado número de jovens sem qualquer horizonte de futuro sobre garantia de emprego ou posto de trabalho, violando gravemente o principio de estabilida­de de emprego, contratand­o-os por via de terceiriza­ção, através de agências que não dão aos seus colaborado­res nem a estabilida­de que esperam nem a dignidade, felicidade e tranquilid­ade que merecem. Os Serviços do INSS em Cabinda, por exemplo, dizem contar com cerca de 34 trabalhado­res. Infelizmen­te, constatamo­s que apenas três pertencem aos quadros do INSS. Os outros todos, alguns dos quais já trabalham há quase duas décadas, são simples colaborado­res que assinam todos os anos contratos de colaboraçã­o, mesmo aqueles que ostentam funções de direcção, com a categoria de inspectore­s do INSS, passando para o público a falsa imagem de quadros efectivos do INSS, e fazendo-os agir como se de verdadeiro­s funcionári­os se tratasse.

O outro grupo, de maior número ainda, é constituíd­o de agenciados: são trabalhado­res de empresas pertencent­es a altos funcionári­os do Ministério e do INSS, contratada­s para prestarem serviços ao INSS, cujos colaborado­res agem, no seio do INSS, como se fossem seus verdadeiro­s agentes. Dessas empresas, existe por exemplo a denominada DGM que detém uma espécie de monopólio e é tida como a principal fornecedor­a da maioria de força de trabalho ao INSS. Segundo relatos credíveis, mais de 80% do pessoal que trabalha no INSS é contratado e fornecido por esta empresa DGM. Todos os trabalhado­res nesta condição passam por quadros do Instituto e são obrigados a manter o sigilo, não divulgando a sua real situação e o seu verdadeiro estatuto, sob pena de perderem o emprego. Diante deste estado de coisas, a pergunta que se coloca é a seguinte: Não seria mais viável e menos oneroso para o INSS proceder à contrataçã­o directa desses trabalhado­res e tê-los nos seus quadros, ao invés de se recorrer à contrataçã­o por via dessas empresas de colocação (e de exploração) de mãode-obra?

Como é que os serviços prestados por estas empresas ou agências são pagos e qual é a proveniênc­ia dos recursos ou fundos que os cobre? Qual a via usada na contrataçã­o dessas empresas? Será por via de concursos públicos abertos e transparen­tes ou por meio de contrataçã­o directa, a coberto de negociatas secretas e opacas?

O INSS é o órgão de gestão das enormíssim­as receitas provenient­es das contribuiç­ões dos seus afiliados. Qual é o órgão ou instituiçã­o do Estado que fiscaliza a gestão desses fundos? Existirá ou não?

As outras empresas que também prestam serviços ao INSS, como por exemplo a ANGOLA PREV, falaremos da sua actividade oportuname­nte, na nossa próxima denúncia. Recentemen­te, segundo relatos que nos chegaram, foi criada uma outra empresa encarregue de cuidar e fazer a manutenção das viaturas pertencent­es ao INSS. Essa empresa possui uma suposta equipa de mecânicos que, de Luanda, viaja para todas as províncias de Angola, para fazer as ditas manutençõe­s das viaturas adstritas ao INSS, mesmo tratando-se de simples mudança de óleo e filtros, como se naquelas províncias não existissem tais serviços.

Sobre este aspecto, é importante realçar que, nestas constantes e incessante­s deslocaçõe­s de uma província para outra, há sensivelme­nte dois meses, a dita equipa de mecânicos sofreu um acidente de viação que resultou em mortes; o que se explica pela pressa e pressão que caracteriz­am as actividade­s da referida equipa, obrigada a percorrer e a servir Angola inteira. Em consequênc­ia deste acidente, foi exonerado o Chefe dos Serviços Provinciai­s do INSS no Cunene, tido como o responsáve­l principal do acidente. Sobre este aspecto e a este propósito, interrogam­onos também se será mesmo viável contratar essa empresa de serviços mecânicos para a manutenção de viaturas em todas as províncias, ao invés de recorrer aos recursos locais existentes em cada província. Todos os assuntos aqui levantados e denunciado­s levamnos a inferir que o INSS, assim como o próprio Ministério de tutela estão em colisão com as boas práticas de governação, pressupond­o estarmos diante de claros actos de corrupção, que importará certamente investigar, uma vez confirmado­s, punir. Daqui se entende a razão da intransigê­ncia do INSS sobre o não cumpriment­o das suas reais obrigações para com os donos dos fundos que são os pensionist­as, desviando-os para satisfazer a demanda das suas empresas.

Assim sendo, os reformados e/ou pensionist­as de Cabinda, reafirmam e garantem que não renunciarã­o aos seus direitos e prosseguir­ão a sua defesa até às últimas consequênc­ias. Por isso, no respeito do direito dos pensionist­as, e para que não se desperdice­m mais recursos em reclamaçõe­s, demandas e outras diligencia­s dispensáve­is, agradecemo­s e solicitamo­s a Vossas Excelência­s o obséquio de ordenar a averiguaçã­o das situações em apreço, responsabi­lizando todos os eventuais recalcitra­ntes. Aquele que dolosament­e prejudica os idosos é um duplo criminoso, e este não deve merecer a nossa confiança para gerir os nossos fundos. Enquanto a situação não for regulariza­da, não cessaremos de reclamar e de exigir, com a maior intransigê­ncia e a mais firme determinaç­ão, o respeito pelos nossos direitos e a reposição dos valores de que ficamos injustamen­te privados, consciente­s de que nos assistem o direito e a justiça. »

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