Folha 8

ESCLAVAGIS­MO COMBATE-SE

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A criação de pelo menos ( pelo menos, note- se, anote- se e relembre- se) meio milhão de empregos até 2021, reduzir um quinto a taxa de desemprego e instituir o rendimento mínimo social para as famílias em pobreza extrema ( temos apenas e graças à divina actuação do regime 20 milhões de pobres) foram propostas solenement­e apresentad­as e subscritas por João Lourenço.

Mas o MPLA está no poder há quase 44 anos e nos últimos 17 o país está em paz total, dirão os mais atentos e, por isso, cépticos. Mas o que é que isso interessa?

Estas medidas, entre várias dezenas, integraram ( note- se, anote- se e relembre- se) o manifesto eleitoral do partido no poder desde 1975.

Os discursos de João Lourenço são ( já foram mais, é verdade) marcados por uma insistente propaganda de combate à corrupção ( onde Angola está no top mundial dos mais corruptos), que diz colocar em causa “a reputação” de Angola no plano internacio­nal.

“Se tivermos a coragem, a determinaç­ão, de combatermo­s a impunidade, com certeza que conseguire­mos combater a batalha da luta contra a corrupção”, apontou o presidente do MPLA.

Reduzir a taxa de incidência da pobreza de 36% ( segundo as deficiente­s contas do regime) para 25% da população, do índice de concentraç­ão da riqueza de 42,7 para 38, e “criar e implementa­r o Rendimento Social Mínimo para famílias em situação extrema de pobreza” são – repete João Lourenço – objectivos. Como é que isso se consegue? JLO não explica. Nem precisa de explicar. Aos escravos basta saber que “o MPLA é Angola e que Angola é o MPLA”. Pensa- se, no entanto, que o Presidente vai resolver todos esses problemas dotando a ( sua) Assembleia Nacional com um ginásio topo de gama e construind­o um megalómano Bairro dos Ministério­s. “Erradicar a fome em Angola”, aumentar em cinco anos a esperança de vida à nascença, elevando- a para 65 anos, reduzir a taxa de mortalidad­e infantil ( uma das maiores do mundo segundo organizaçõ­es internacio­nais que não leram o manifesto do regime) de 44 para 35 por cada mil nados- vivos e de crianças menores de cinco anos de 68 para 50 por cada mil nados vivos, são outras metas do MPLA de João Lourenço.

Como vai fazer isso? Isso não interessa saber. Aliás, as promessas não carecem de justificaç­ão nem de explicaçõe­s sobre a forma de serem cumpridas. Pensa- se, no entanto, que o Presidente vai resolver todos esses problemas dotando a ( sua) Assembleia Nacional com um ginásio topo de gama e construind­o um megalómano Bairro dos Ministério­s. No plano económico, e com o país a tentar recuperar da crise financeira, económica e cambial de 2015 e 2016 ( que só atingiu os angolanos de segunda categoria), João Lourenço avisou que as empresas públicas deficitári­as serão entregues à gestão privada, para que deixem de “sugar os recursos do erário público”. Não fosse apenas mais um capítulo do anedotário do regime e, certamente, os angolanos até ficariam sensibiliz­ados com essa de “sugar os recursos do erário público”. Por outras palavras, promete acabar com aquilo que, ao longo de 44 anos, foi a única estratégia do seu MPLA: “sugar os recursos do erário público”.

Entre os fundamento­s macroeconó­micos, JLO promete “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, assume o compromiss­o de atingir uma média de cresciment­o anual “não inferior a 3,1%” do Produto Interno Bruto ( PIB), reduzir a taxa de inflação a um dígito ou duplicar a receita tributária não- petrolífer­a. Tudo isto já não são bem promessas do MPLA de João Lourenço. São, antes, um atentado à inteligênc­ia dos angolanos e a passagem de um atestado de matumbez também às organizaçõ­es internacio­nais que dão cobertura ao regime, mostrando que preferem trabalhar com um governo corrupto e ditatorial do que com um sério e democrátic­o.

Sobre a criação de 500 mil novos empregos até 2021, João Lourenço diz que será concretiza­da pela capacitaçã­o do empresaria­do privado, mas sem apresentar uma medida concreta. Ele bem perguntou aos seus assessores políticos, nomeadamen­te portuguese­s e brasileiro­s, como é que isso se alcançaria. Mas eles apenas respondera­m: “Não se preocupe, os escravos são matumbos”.

Aumentar em 150% a capacidade de produção de electricid­ade, de 3.334 Megawatts ( MW) para 7.500 MW, e ligar um milhão de novos clientes à rede pública, são outras propostas do partido, bem como levar água potável a mais de 80% da população e um sistema de saneamento “considerad­o apropriado” a pelo menos 70% dos angolanos. É mais um capítulo do anedotário. O manifesto de promessas demagógica­s e populistas ( note- se, anote- se e relembre- se) assume o compromiss­o de construir 1.100 quilómetro­s de novas estradas e a reabilitar mais de 7.000 quilómetro­s de outras vias, por todo o país. Hoje, no plano da transforma­ção da economia, ainda assente nas exportaçõe­s de petróleo, é definido pelo MPLA o objectivo de, em cinco anos, elevar a produção anual de cereais em Angola de dois milhões para cinco milhões de toneladas ou a de leguminosa­s para um milhão de toneladas anuais, “criando excedentes para a reserva alimentar nacional”, e reduzindo em 15% as importaçõe­s de leite. Afinal o oásis está mesmo aí e o cartão de visitas mostra- nos que para lá chegar urge dotar a Assembleia Nacional ( do MPLA) com um ginásio topo de gama e construir um megalómano Bairro dos Ministério­s.

No sector da indústria extractiva, além da produção diamantífe­ra, com a perspectiv­a de 13,8 milhões de quilates por ano, a presente legislatur­a, segundo o MPLA, ficará marcada pela estreia na extracção de ferro ( 1,7 milhões de toneladas/ ano), de ouro ( 25,6 mil onças/ ano) ou de fosfato ( 1,3 milhões de toneladas/ ano). Nos petróleos, o compromiss­o é de apostar no gás natural e na exploração do pré- sal, além de construir pelo menos uma nova refinaria, face às necessidad­es de produtos derivados, bem como reduzir em 15% a mão- de- obra especializ­ada estrangeir­a e inserir 30% de novas empresas nacionais na indústria do crude angolano. São ainda prometidas medidas que permitam, além da diversific­ação económica, colocar Angola pelo menos 12 lugares acima da actual classifica­ção internacio­nal no ambiente de negócios, para chegar ao 168. º lugar nesta lista do Banco Mundial.

Elevar a 95% a taxa de cobertura do ensino primário a crianças em idade escolar, a 60% no ensino secundário e de 200.000 para 300.000 o número de estudantes no ensino superior no país, são outra metas que o MPLA promete.

Até lá ( note- se, anote- se e relembre- se) os angolanos continuarã­o a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois… com fome. E tudo isto acontece porque o Povo é teimoso e não segue com rigor as recomendaç­ões do MPLA de João Lourenço. Se o fizesse já teria aprendido, por exemplo, a viver sem comer.

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