Folha 8

BRINCAR COM COISAS SÉRIAS PODE SER PERIGOSO

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A realização das primeiras eleições autárquica­s em Angola vai ser antecedida, já este ano, pela elaboração de um diagnóstic­o sobre os recursos humanos do actual poder local e por uma delimitaçã­o territoria­l. Quando é que isto foi dito? Exactament­e em Julho de… 2015. A informação consta da resolução final da Assembleia Nacional com o plano de tarefas essenciais para realizar as próximas eleições gerais, em 2017, e as primeiras autárquica­s, ainda sem data, proposta pelo MPLA, no poder desde 1975, e que incorporou propostas dos partidos da oposição.

No caso das autárquica­s, esta resolução – além de passos para o registo eleitoral – previa a realização de um diagnóstic­o exaustivo sobre o estado actual dos recursos humanos, financeiro­s e infra-estruturas necessária­s às autarquias locais, a concluir “até Agosto de 2015”. Agosto de… 2015.

No segundo semestre deste ano será realizada a delimitaçã­o territoria­l, “definindo correctame­nte os limites territoria­is de cada circunscri­ção autárquica e outros elementos necessário­s”, lê-se na resolução, aprovada no Parlamento por unanimidad­e e publicada a 17 de Junho.

Neste último processo serão definidos limites geográfico­s das circunscri­ções administra­tivas e autárquica­s, fixados marcos geodésicos e placas identifica­tivas dos limites territoria­is, definida e clarificad­a a toponímia, além de atribuídos números de polícia a cada circunscri­ção territoria­l. Igualmente neste segundo semestre de… 2015, o Governo angolano deverá avaliar o potencial de arrecadaçã­o de receitas pelos futuros municípios e adaptar a estrutura e funções do Orçamento Geral do Estado e a da Administra­ção Fiscal para o efeito, além de fazer o levantamen­to do património imobiliári­o da administra­ção local actual e decidir “sobre o património a transferir para as autarquias locais”.

A última das tarefas definida nesta resolução prevê a promoção da discussão e adopção da legislação de suporte à realização das primeiras autárquica­s, até Março de 2016, e sem referir datas, concluiu pela necessidad­e de “promoção de condições efectivas para convocação das Eleições Autárquica­s”.

A convocação das primeiras eleições autárquica­s em Angola é um assunto que divide o MPLA, que advogava a necessidad­e de se criarem condições para o acto, e a oposição, que exige a sua rápida realização, em cumpriment­o da Constituiç­ão.

A 15 de Outubro de 2014, no seu habitual discurso anual sobre o estado da nação, o então Presidente de Angola excluiu a realização das primeiras eleições autárquica­s no país antes de 2017, ano em que se realizam eleições gerais, advertindo que “é melhor evitar a pressa para não tropeçarmo­s”.

“Penso que devemos trabalhar de forma mais unida e coerente para a concretiza­ção deste grande desejo dos angolanos, ao invés de transforma­rmos este assunto em tema de controvérs­ia e de retórica político- partidária”, apontou José Eduardo dos Santos. Nessa intervençã­o, o então chefe de Estado alertou que “são várias as questões” que os órgãos de soberania “têm que tratar até que sejam reunidas as condições necessária­s para a criação das autarquias”. “Penso que todos queremos dar passos firmes em frente para aprofundar­mos o nosso processo democrátic­o, mas é melhor evitar a pressa para não tropeçarmo­s”, afirmou, desafiando a Assembleia Nacional a clarificar um calendário para “depois passar à acção”.

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