Folha 8

E QUE TAL ENSINAR A PESCAR?

-

O Presidente da República, João Lourenço, procedeu em Maio à entrega simbólica de dois camiões cisterna ( de 20 mil litros cada) de feno para o gado e bens de primeira necessidad­e à população da comuna de Ombala Yo Mungo, município de Ombadja, província do Cunene. Alguma vez terá o “nosso” Messias ouvido falar que mais importante do que dar peixes às pessoas que têm fome é ensiná- las a pescar?

O acto simbolizou, segundo contam as crónicas do regime, o ponto alto de uma visita de trabalho do Chefe de Estado à província do Cunene, cujo objectivo foi constatar a realidade da seca na região, uma das zonas mais afectadas, com cerca de 59.311 habitantes e mais de 100 mil cabeças de gado em sofrimento, dos 340 mil de todo o município. Entre os bens entregues, constavam – como agora – produtos de primeira necessidad­e como arroz, sal, açúcar, feijão, massa alimentar, salsichas, óleo vegetal e água mineral. Na ocasião, João Lourenço recebeu informaçõe­s detalhadas ( se já não as sabia é porque anda a dormir) do então ministro da Agricultur­a e Florestas, Marco Nhunga, sobre os prejuízos causados pela seca, ao sector agrícola, bem como as soluções e necessidad­es urgentes para equilibrar a dieta alimentar da população. O então ministro explicou que os meios entregues faziam parte de um lote destinado aos seis municípios do Cunene ( Cunhama, Namacunde, Ombadja, Curoca, Cuvelai e Cahama), contemplan­do 51.043 toneladas de feno ( pasto para o gado) , 32 toneladas de sal comum, 2.066 toneladas de sal mineral e 100 toneladas de grãos de milho. Acrescento­u, para que todos ficassem sossegados, que o lote integrava igualmente 33 toneladas de farelo de trigo, 10 kits técnicos, 100 litros de carricidas, material diverso e fármacos de uso veterinári­o, para o gado doente, entre bovino, suíno e caprino.

De Ombala Yo Mungo, João Lourenço rumou para a povoação de Oshaiwanda, onde constatou o sofrimento dos moradores da aldeia de “Okanakawa”. Chatice. Povo a sofrer? Mas será de fome ( que João Lourenço diz não existir em Angola) ou apenas de ligeira má- nutrição ( segundo a definição do Presidente)? Nesta deslocação, o Presidente da República fez- se acompanhar pela primeira- dama, Ana Dias Lourenço, e por uma delegação ministeria­l. Quantos mais… melhor, pensa o Departamen­to de Informação e Propaganda do MPLA ( ou do Governo, já que são a mesma coisa).

O Cunene vive, desde Outubro de 2018 ( João Lourenço já era Presidente da República nessa data?), uma acentuada crise de água e pasto, com 79,1 por cento da população total ( estimada em um 1.157.491 habitantes) comprometi­da. Os últimos dados do Governo Provincial apontavam para o aumento do número de animais mortos. Dados de Maio indicavam que a seca afectava 285.194 pessoas em Ombadja; 114.991 em Namacunde; 65.526 no Cuanhama; 53. 677 no Curoca e 38.432 no Cuvela, 299.623 na Cahama ( a mais visada).

Mais do que o peixe, os milhões de famintos precisam de aprender a pescar. Mas quem é que os pode ensinar? Se calhar poderia ser o Estado. No nosso caso, o MPLA que é o Estado desde 1975. Mas este não o faz porque a mandioca, ou o farelo, como dizia Kundi Paihama, não se… pescam. Durante décadas, o MPLA/ Estado dizia que para algumas zonas de Angola só era possível mandar algum peixe, já que para ensinar a pescar era imprescind­ível a paz. Tendo esta chegado 17 anos, porque será que o regime continua a não ensinar a pescar?

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola